Menos ensolarado nas melodias, mais leve nas letras. Assim chegará o novo álbum da Eddie, Mundo Engano, previsto para o próximo dia 26. Com três das suas dez faixas lançadas nas plataformas digitais como singles, o disco já revela uma faceta ainda pouco conhecida do quinteto: a da calmaria. Não é que o álbum não tenha a efervescência do frevo ou o gingado do samba, elementos presentes nos seis trabalhos de carreira dos olindenses. A essência da Eddie permanece a mesma. Só que depois de uns 30 carnavais é mais do que natural a busca por uma fórmula de sucesso que não remeta ao clássico Baile Betinha, como diz o vocalista e guitarrista, Fábio Trummer, em entrevista ao Jornal do Commercio.
Confira:
JORNAL DO COMMERCIO – Por que intitularam o álbum de Mundo Engano? Qual o significado por trás do nome?
FÁBIO TRUMMER – Mundo Engano é mais como uma licença poética. Hoje vivemos muito uma realidade virtual e, como o nome já diz, isso não é uma realidade de fato. O disco é muito baseado nisso.
JC – E o que podemos esperar do disco? O que ele traz?
FÁBIO – É um disco bem eclético. Tem lembranças de verões antigos, fala um pouco das cidades contemporâneas... Do medo da rua, da ameaça do ser humano.
Em breve, vocês vão ouvir uma música chamada Dobre a Esquina, que aborda os pequenos detalhes da vida. Ela poderá remeter tanto a um amor quanto a um amigo. É sobre a vontade de encontrar, de contar as coisas que estão na sua cabeça, de ficar pensando “poxa, essa pessoa poderia estar aqui comigo agora para ver o que estou vendo”.
JC – Buscaram trazer algum elemento sonoro que não havíamos visto em seus trabalhos anteriores?
FÁBIO – Na parte técnica, o uso de pad, timbres eletrônicos... Mas também estamos trazendo características, tocadas diferentes, na tentativa de dar um ar novo a nossa própria música. E isso pode ser percebido na canção O Mar Lá Fora, por exemplo, para qual chamamos Martin Mendonça (guitarrista de Pitty) para tocar, além de Tiné (Academia da Berlinda, Orquestra Contemporânea de Olinda) e Ganga Barreto para cantarem. Já na faixa A Correnteza temos o Nilsinho Amarante (Spok Frevo Orquestra) no trombone e Frederica Bourgeois na flauta.
JC – As músicas, que foram lançadas digitalmente em forma de single, são bem mais calmas do que a Eddie que costumamos ouvir...
FÁBIO – Nós decidimos lançar as mais lentas primeiro justamente para causar esse tipo de estranhamento. Estamos buscando não nos repetir, o que não é fácil tendo em vista que nossas soluções musicais têm a mesma formação há mais de 15 anos. A ideia é buscar novos êxitos... É um perigo repetir essa fórmula de Baile Betinha, Pode Me Chamar e Quando a Maré Encher.
Também não quero cantar os temas que já cantei. Então, esse disco tem menos tom político do que o antecessor (Morte e Vida, 2015). A política sempre existe, mas não necessariamente essa de crise institucional e econômica. Essa é uma discussão que já ocupou todos os espaços.
JC – Então, não teriam mais nada a acrescentar quanto a isso?
FÁBIO – Eu estava me achando um chato. Não adianta bater nessa mesma tecla de política, por mais que nos sintamos injustiçados pelas inverdades que levam a destituir um governo eleito e impor um projeto de um País que não foi eleito nas urnas. Mas cansa porque ficar falando não resolve.
Como você pode ver, ainda estou me trabalhando... É que a Eddie é uma banda que vem do punk rock, lá no fim dos anos 1980. A reclamação foi nossa primeira escola, então é impossível ficar sem falar pelo menos sobre a crise do ser humano.
JC – Quanto tempo desde a concepção do disco até o lançamento no próximo dia 26? E como se deu o processo criativo?
FÁBIO – Fez um ano em novembro, então já vai um ano e três meses. Este talvez seja o disco que mais levamos tempo para fazer. Enquanto o último (Morte e Vida, 2015) foi o mais rápido porque queríamos a experiência de ter um menor orçamento.
Com relação ao processo criativo, compor é a minha principal atividade. Então, neste álbum também a maior parte das composições é minha. São nove de dez, tirando Para Iemanjá, musicada a partir de um poema de Marcelino Freire, que está presente no livro Rasif. Também tem Brooklin, em que divido a autoria e os vocais com Jorge Dü Peixe.
JC – Há outras parcerias no disco?
FÁBIO – Sim, tivemos uma parceria muito especial também na canção Para Iemanjá, que foi a do maestro Ivan do Espírito Santo, da Orquestra de Frevo Henrique Dias. Ele tinha feito um processo cirúrgico e estava sem conseguir tocar. Já havíamos trabalhado com ele antes e foi sensacional tê-lo de volta, porque a gente não esperava que ele voltasse a tocar. Nessa mesma música, temos também o sambista Everson Pessoa, no violão de sete cordas.
Já nas músicas Medo da Rua e De Pouco em Pouco, Guri Assis Brasil (guitarrista de Otto por muitos anos) tocou violão de doze cordas. E Pupillo (Nação Zumbi, produtor do disco) tocou bateria, percussão e teclado em algumas faixas. Ele nos ajudou a definir arranjos concretos, seguros. As melodias dialogam perfeitamente com as letras. Também porque nossos convidados tiveram muita sensibilidade para interpretar as canções ao nosso estilo.
JC – O álbum estava para ser lançado no dia 15 de janeiro. Algum motivo em específico os levou a adiar?
FÁBIO – A gente não queria dividir a atenção nem o nosso tempo com o Carnaval, época em que mais trabalhamos no ano. Então decidimos focar exclusivamente no palco agora. Poderíamos correr o risco de ficar com esse trabalho parado para ter que retomar depois, e isso às vezes é perigoso. Só estamos ainda na expectativa da agenda do Governo do Estado...