“Tenho 70 anos de atividade artística; quando comecei, já cantava frevo”, quem diz isto é Claudionor Germano, “A Voz do Frevo”. Quando ele nasceu, em 10 de agosto de 1932, o frevo contava com 25 anos (convencionando-se sua data de nascimento oficial em 1907). Claudionor acompanhou, portanto, a evolução do gênero, que aniversaria hoje, há pelo menos 80 anos. “Eu tinha uns cinco anos, a gente ficava sentado na calçada, e quando vinha Lenhadores, saia todo mundo correndo atrás do clube”, conta.
Ele começou profissionalmente como crooner dos Azes do Ritmo, a convite do cantor e compositor Inaldo Vilarim. A carteira foi assinada como integrante dos Azes do Ritmo, em 20 de janeiro de 1947. De início, já existiu um impasse: o grupo contratado da Rádio Clube viajava bastante. “Eu tinha um emprego convencional. Sempre tive. Ficava com medo de viajar pra não ser despedido. Um dia chega Nelson Ferreira e telefona para mim, me convidando para ir ao Santa Isabel receber um troféu de Melhor do Ano. Cantei uma música de Orlando Silva. Ele disse que eu não ia mais ser de Os Azes do Ritmo, iria fazer carreira solo”.
Ou seja, ele completou este ano 71 de profissão, e 70 de carreira solo. Assim como o frevo, Claudionor Germano fixou-se em Pernambuco, e poucas vezes arriscou voar para outras regiões. Até os anos 1970, fazia eventuais incursões ao Rio e São Paulo, mas sempre morou no Recife. Numa época em que as emissoras regionais eram uma espécie de curso preparatório para uma futura transferência para a rádios Nacional, Mayrink Veiga ou Tupi.
Claudionor recebeu um aceno para ir para a Nacional. Já casado, com filhos, não resistiu à tentação. Seguiu os passos de tantos amigos que fizeram o mesmo – como Sivuca, José Tobias, Jackson do Pandeiro e Luiz Bandeira –, e foi embora. Não teve nem tempo de se ambientar na Nacional. Estava no refeitório, conversando com Luiz Bandeira (autor de Voltei Recife, entre várias outras) quando chegou o diretor da Rádio Jornal do Commercio, Amarílio Nicéas, com ordens do senador F. Pessoa de Queiroz, presidente da emissora pernambucana, para levá-lo de volta ao Recife:
“Poderia ter ficado e aceito um convite de Geraldo Vandré para participar do Frente Ampla da Música, que conheci quando fui defender uma música de Capiba e Ariano Suassuna no Festival Internacional da Canção”, conta Claudionor.
DEFINITIVO
Embora cantasse frevo como os demais contratados da rádio, apenas no período de Carnaval, Claudionor não imaginaria como o frevo mudaria a rota de sua vida. Em 1959, a Rozenblit e a Prefeitura do Recife resolveram homenagear Capiba, que completava 25 anos como autor de frevos. A escolha caiu em Claudionor Germano, um dos cantores prediletos de Nelson Ferreira. Ele se tornou o primeiro artista a gravar dois LPs com repertório inteiro de frevos.
Além do Capiba 25 Anos de Frevo, ele gravou LP O que Eu Fiz e Você Gostou, álbum com composições de Nelson Ferreira, que não deixa as glórias apenas para Capiba, seu “rival cordial”. “Não fui ainda melhor cantando frevo porque fiz uma gravação que parou o Carnaval. Aquele disco foi um sucesso absoluto, dominou o Carnaval, vendeu muito, ainda vende e toca até hoje. Depois dele eu poderia ter ido pra casa, fazer mais o quê?”
Debilitado, com problemas de coluna, Claudionor Germano se poupa neste Carnaval. Fez o Baile Municipal (cantou em todas as 54 edições do baile) e estará hoje na abertura oficial do Recife, no Marco Zero, para cantar três frevos: “Acho que deveriam prestigiar mais o artista da terra, lhe dar mais oportunidades. Em lugar de dar cinco apresentações a Claudionor, deveriam dar só duas, e outras três para artistas iniciantes”.
Claudionor confessa que sente muito a ausência de Expedito Baracho, com quem conviveu por mais de 60 anos, e que era considerado outro grande intérprete de frevo. Baracho faleceu em maio de 2017: “Era o material de voz mais bonito desta terra. Parou por um tempo, deixou de fumar e de beber e voltou melhor ainda. Faz muita falta. Achavam que a gente era rival, mas nunca houve nada que abalasse a nossa amizade. Eu já estava na Rádio Jornal e ajudei Expedito a ser contratado”.
VELHOS CARNAVAIS
Claudionor sente saudade dos Carnavais de clube. “Tenho saudade demais, principalmente por esta violência da rua. Você tem um parente idoso, mãe, sogra, que levar ao Carnaval, mas é perigoso. Antigamente, no Náutico, só camarote havia 64. Fiz muitos Carnavais com Voleide Dantas, minha companheira de palco preferida”. Curiosamente, Claudionor Germano, A Voz do Frevo, nome que se confunde com a folia pernambucana, revela que não é de Carnaval: “Me tornei cantor de frevo, mas nunca fui folião”.
FESTIVAL
No Diário Oficial de ontem, dia 8, foi anunciado o Festival Nacional do Frevo 2018, promovido pela Prefeitura do Recife, com inscrições abertas de 19 de fevereiro a 30 de março de 2018. A finalíssima está marcada para maio. Todos os detalhes do Festival Nacional do Frevo estão no site da prefeitura: