Disco

Arctic Monkeys envereda por novos caminhos sonoros

Alex Turner numa viagem inspirada em Stanley Kubrick

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 08/05/2018 às 13:28
foto: divugação
Alex Turner numa viagem inspirada em Stanley Kubrick - FOTO: foto: divugação
Leitura:

O fã do grupo inglês de Sheffield, Arctic Monkeys, ao escutar o novo álbum, Tranquility Base Hotel & Casino, deve começar pela sétima faixa The World’s First Ever Monster Truck Front Flip. A canção lembra ligeiramente For the Benefit of Mr. Kite, dos Beatles, em andamento mais lento. “Há coisas que eu simplesmente não sei lhe explicar/e outra que espero jamais precisar explicar”, diz o refrão. Neste novo álbum há muitas coisas que Alex Turner precisaria explicar, a começar pelo enigmático título do álbum. Já o “monster truck”, da canção citada, esclareceu em entrevista à Entertainment Weekly. Veio de uma notícia que leu na internet.

O guitarrista Jamie Cook, o baixista Nick O’Malley e o baterista Matt Helders, o restante da Arctic Monkeys, precisam pedir explicações a Turner. O vocalista e compositor do grupo gravou boa parte do álbum no estúdio montado em sua casa, em Los Angeles, onde mora. Somente na finalização do álbum, na França, é que haveria uma integração entre os quatro componentes do AM. Não se espere em nenhuma das faixas algo parecido como o hit I Bet You Look Good on the Dancefloor, de Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006), um título que se aplica ao conceito de Tranquility Base Hotel & Casino, “O que quer que se diga que eu sou, é o que não sou”.

Quando surgiu para o grande público (a banda nasceu em 2002), o Arctic Monkeys reforçou a crença na continuidade da formação instrumental criada por Buddy Holly em 1956, guitarra solo, guitarra base, baixo e bateria. No disco de estreia, as guitarras aproximam-se do punk rock, embora as canções sejam conceituais, tenham inspiração em filmes e contem histórias. Tranquility Base Hotel & Casino ainda tem o cinema como fonte de inspiração, mais precisamente a ficção científica de Stanley Kubrick. Saem a predominância das guitarras e entra o piano que Turner comprou quando completou 30 anos. O instrumento impulsionou Alex Turner a compor canções tão confessionais que ele precisou explicá-las. O título do álbum, por exemplo, refere-se ao local onde a Apolo 11 pousou na lua. A capa é uma suposta nave espacial saída da imaginação de Turner. Soa como um remake de Space Oddity, de David Bowie? Em alguma canções, feito Science Fiction, lembra Bowie, que não é citado como influência. A ficção científica veio, além de Kubrick, do filme World on a Wire, uma série televisiva feita para a TV alemã por Werner Fassbinder.

STROKES

Paradoxalmente, se a Arctic Monkey aventura-se por novas trilhas sonoras, num álbum de concepção até ousada, a estrutura das canções é quase sempre bem mais convencional do que as da fase inicial, que traziam resoluções melódicas surpreendentes. Supercheese, a faixa final do disco, é uma balada à maneira de John Lennon (tipo Jealous Guy), propositalmente letra e música tendendo ao sentimentalóide, “cheesy”, emin glês. Mas Star Treatment, que abre o disco, é uma reflexão irônica sobre o status de ser um rockstar: “Eu simplesmente queria ser um dos Strokes/agora veja a confusão que você me fez aprontar”, dizem os versos iniciais da música de introdução, sofisticada e complexa feito a de uma canção de Pet Sounds, dos Beach Boys. No meio da letra indaga-se-se: “O que você quer dizer com este nunca assisti a Blade Runner?”

Pretensão é o que não falta a Tranquility Base Hotel & Casino. Ele foi concluído no La Frette, na França, estúdio montado numa mansão do século 19, que é também um pequeno hotel. Quem grava lá geralmente se hospeda no La Frette, o que pode reforçar laços de amizade, ou complicar relacionamentos. Neste caso, reforçou, porque foi ali que Alex Turner compartilhou ideias do que, até então, era praticamente um disco solo, que virou um trabalho coletivo no La Frette.

Mais ou menos, o que Brian Wilson passou a fazer com os Beach Boys, a partir do citado Pet Sounds. Vale lembrar que o último disco do Arctic Monkey é o elogiado AM, de 2013. Os músicos viram-se pouco desde então. Nas onze canções do álbum, o Arctic Monkey viaja em um voo simulado pelo espaço. O conceito é basicamente falar de outro planeta, ou da lua, para debater o planeta Terra. Tranquility Base Hotel & Casino é tão diferente de AM, quanto AM é de Suck It and See (2011).

Últimas notícias