Reggae

The Congos, mito do reggae, toca pela primeira vez no Recife

Grupo se apresenta hoje no Festival Celebração Reggae

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 19/05/2018 às 10:18
foto: divulgação
Grupo se apresenta hoje no Festival Celebração Reggae - FOTO: foto: divulgação
Leitura:

Na programação do Festival Celebração Reggae, que acontece hoje, no Clube Português, toca, pela primeira vez no Recife, The Congos, um grupo que contribuiu, ao lado dos Wailers, Burning Spears, Toots Hibbert, The Abyssinians, ente outros, para a transformação do rocksteady e do ska em reggae.

 O disco de estreia da banda, Hearts of Congos, é considerado um dos dez mais importantes da história da música jamaicana, e uma das mais elogiadas produções de Lee Scratch Perry, uma lenda da música popular, e não apenas na Jamaica. O álbum foi gravado, entre 1976 e 1977, no Black Ark, estúdio de Perry no interior da ilha. Heart of Congos, no entanto, demorou duas décadas para decolar. Foi lançado na época apenas na Jamaica, em tiragem limitada. Lee Scratch Perry está por trás da criação da The Congos.

 Inicialmente, ele pretendia que Roydel Jonson, ou Roy Ashanti, gravasse a tradicional canção jamaicana Row, Fisherman, Row. Johnson chegou ao Black Ark, com Cedric Myton e Watty Burnett. Na época, era moda a harmonia em três partes, o que Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Livinsgtone faziam nos Wailers. No de The Congos, eram vozes bem definidas. Myton faz o falsete (tem voz de timbre raro), Johnson, tenor, e Burnett, barítono. Embora fosse um dos estúdio mais procurados da Jamaica, o Black Ark, em 1976, quando Hearts do Congos foi produzido, dispunha de apenas quatro canais.

 O equipamento estava defasado, mas Scratch Perry não precisava de muitos recursos para sua química surtir efeito. Em entrevista feita por áudio do whatsapp, Cedric Myton confessou que não tinha a menor ideia de que estavam fazendo um disco histórico (ficou em 82º, numa lista de 100 melhores álbuns de todos os tempos da revista Rolling Stone). “Quando começamos, eu e Bob Marley, ou Bunny Wailer, lá por volta de 1964, a gente só queria fazer as pessoas dançarem a noite toda. Ninguém achava que estava criando uma música revolucionária. Mesma coisa com Hearts of Congos. Hoje eu acho que ele merece ser considerado um dos melhores álbuns já feitos”, concede Cedric MYton.

O álbum teve uma produção quase artesanal, foi lapidado durante quase um ano por Lee Scratch Perry, que trouxe para o estúdio a cozinha de luxo do reggae, Robbie Shakespeare e Sly Dunbar, o virtuoso guitarrista Ernest Ranglin e mais um vocalista, o cantor Gregory Isaac. Muito mais gente participou de Hearts of Congos, uma produção complexa, com muita percussão.

 Salientando que Roy Johnson, Cedric Myton e Watty Burnett já eram bem-sucedidos em carreira solo. Bons compositores, e seguidores do rafastarianismo. As dez canções do álbum são impregnadas de religiosidade. Scratch Perry lançou o álbum pelo selo Black Ark, em 1977. No ano seguinte, relançou-o com nova mixagem. O disco foi oferecido à Island, mas os advogados da gravadora desaconselharam Chris Blackwell, que chegou a ir à Jamaica para acertar com o produtor.

 Não houve acordo e o tape foi engavetado. Roy Johnson acredita que Blackwell temeu que Heart of Congos atrapalhasse a ascensão de Bob Marley. De fato, naquele ano, Bob Marley tornou-se um astro internacional. O álbum só foi lançado vinte anos mais tarde, pelo Blood and Fire, selo inglês especializado em reggae de raízes. The Congos ainda gravou um segundo disco, em 1979, Congo Ashanty, que Cedric Myton nivela quase no mesmo patamar de Heart of Congos:

 “Um disco muito precioso, com canções significativamente importantes, acho que também é um dos melhores álbuns de reggae já feitos”. O grupo separou-se logo depois do segundo álbum. Myton e Burnett foram para os EUA, enquanto Roy Johnson permaneceu em carreira solo na Jamaica. Desde 2006, o grupo voltou: “Nós juntamos Roydell Johnson, Watty Burnett e Kenroy Fyffe depois de uma longa transição. Kenroy Fyffe está no grupo desde 2006, quando o recrutamos para trazer um pouco mais de harmonia. A banda é muito voltada para a harmonia, e mais vozes tornam tudo mais bonito. No show vamos tocar o melhor de The Congos, para fazer É as pessoas felizes, o que é o meu maior desejo”, diz Myton.É provável que acrescente a esta felicidade, um dueto com o francês Rod Anton, os dois gravaram juntos.

40 ANOS

Hearts of Congos, no final do ano passado, ganhou edição especial pelo aniversário de 40 anos. São três discos, um com a mixagem original (relançada pela primeira vez), outro com a segunda mixagem. e um terceiro disco que traz dez faixas extras.

 l Festival Celebração Reggae, com The Congos, Ponto de Equilíbrio, Rod Anton, A Unidade e Buginha Dub/Erika Natuza, no Clube Português, a partir 21h30. Ingressos vão de R$ 60 a R$ 160. Fone: 32315400

Últimas notícias