Os fãs presentes no show da On The Run II, turnê conjunta de Beyoncé e Jay-Z, sábado, em Londres, foram surpreendidos com um anúncio após a apresentação: “O álbum saiu” (inicialmente, só no Tidal, mas, desde ontem, disponível em todas as plataformas de streaming). Poucos minutos depois, não se falava de outra coisa na internet: após mais de dez anos juntos, eles finalmente lançaram um disco colaborativo. Intitulado Everything is Love (Tudo É Amor, em português), o trabalho é creditado ao duo The Carters (sobrenome de Jay, adotado pela artista após o casamento) e parece encerrar uma espécie de trilogia sobre os altos e baixos do casal mais famoso da música contemporânea, iniciada por Lemonade (2016), da cantora, e 4:44 (2017), do rapper.
Leia Também
- Como Beyoncé usa a moda para sustentar a narrativa de 'Apeshit'
- Beyoncé e Jay-Z celebram casamento e negritude em álbum-surpresa
- Tiffany Haddish revela quem mordeu Beyoncé em festa
- Igreja nos EUA dá sermão inspirado em Beyoncé
- Beyoncé e Solange tiveram ajuda psicológica para aprenderem a lidar com a fama
Em 2014, uma filmagem vazada de um dos elevadores do MET Gala, uma das festas mais baladas da moda, mostrou uma briga intensa entre Solange e Jay-Z, com Beyoncé desconcertada no meio. Uma imagem seguinte, já na saída do evento, mostra a mais nova dos Knowles com a expressão enfurecida, o rapper meio desconcertado enquanto Beyoncé tenta fingir um sorriso. Foi a primeira vez que o mundo via uma rachadura na estrutura midiática da família, que sempre prezou pela privacidade e cultivou uma obsessão pela imagem de perfeição.
Muitas foram as especulações sobre o que teria acontecido, mas a mais recorrente era a de que Solange teria saído em defesa da irmã ao ver o cunhado flertando com outra mulher. Rumores de infidelidades de Jay-Z se intensificaram e, em 2016, foram confirmados no disco Lemonade, trabalho mais cru e impactante de Beyoncé. O álbum fala sobre traição, o quase término do casamento e a tentativa de reconciliação. Jay-Z também deu sua versão da história em 4:44. Ele confirma as traições e revela o desespero para não se separar de Beyoncé.
Além da crise conjugal, a celebração da negritude e comentários sociais permeiam os dois trabalhos. Ambos foram aclamados pela crítica e comprovaram como, ao abaixarem a guarda e se mostrarem complexos e com problemas (como todos), os artistas conseguiram alcançar novos níveis de excelência (o trabalho de Beyoncé foi indicado a 9 Grammys e o de Jay-Z a 8). Com as rusgas amorosas resolvidas, eles unem forças em Everything Is Love para celebrar o amor, sucesso e empoderamento, fechando o ciclo de terapia de casal.
BEYONCÉ, A RAPPER
Há anos circula o rumor de que Beyoncé e Jay-Z estariam gravando um disco juntos. A colaboração dos dois remonta ao começo do relacionamento deles, ainda em 2002, com ‘03 Bonnie & Clyde, do rapper, e consolidada com Crazy In Love, primeiro single e um dos grandes hits da ex-vocalista do Destiny’s Child. Desde então, já colaboraram em mais de dez faixas.
Porém, o momento não poderia ser mais apropriado para o lançamento de Everything Is Love. Renovados amorosa e artisticamente, eles conseguem soar em harmonia, sem parecer uma participação especial no trabalho um do outro. Aqui, os Carters se complementam e se desafiam.
Summer, primeira faixa do disco, celebra a relação renovada, o fascínio de redescobrir o/a parceiro/a diariamente e a construção da cumplicidade. O tema também alicerça Lovehappy. “Você fez algumas coisas contra mim/ Mas o amor é mais profundo que a sua dor/ E eu acredito que você pode mudar/ Os altos e baixos valem a pena/ Temos um longo caminho, mas vamos dar um jeito/ Somos cheios de falhas, mas perfeitos um para o outro”, canta Beyoncé na faixa.
A artista, aliás, mostra sua versatilidade e na maior parte do disco, além de cantar, também se arrisca como rapper – e o resultado surpreende. No auge da carreira, multimilionária e premiadíssima, ela parece ter perdido qualquer medo ou reserva. Em muitos momentos, soa agressiva e completamente destemida, como nas excelentes 713 e Apeshit, primeiro single do trabalho.
O clipe da faixa, aliás, é impressionante. Gravado mês passado no Museu do Louvre, em Paris, o vídeo mostra o casal em meio às obras eurocêntricas, acompanhados de dançarinos – todos negros. A ocupação daquele espaço é simbólica e política e mostra o projeto dos Carters de utilizar seus privilégios financeiros para reclamar por mais representatividade na indústria musical e na sociedade.
“Meus tataranetos já são ricos/ São muitas crianças negras na sua lista da Forbes”, diz Beyoncé em Boss, canção que conta ainda com participação de Blue Ivy, 6, filha mais velha do casal (o clã é completado pelos gêmeos Sir e Rumi, 1).
A riqueza ostentada pelo casal não significa só felicidade, como na melancólica Friends, na qual Jay-Z fala de ex-amigos, como Kanye West. Como qualquer coisa que envolva Beyoncé e Jay-Z, Everything Is Love é um evento. É um trabalho lapidado, fruto da junção de dois perfeccionistas que optaram por tomar as rédeas da narrativa de sua relação. O disco é tudo que se pode esperar de um trabalho de dois dos maiores artistas dos últimos vinte anos – e isso é muito.