São João 2018

Fórum do Forró de Aracaju homenageou Jacinto Silva

Durante dois dias a discutiu-se o formato do São João atual

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/06/2018 às 9:49
foto: Edinah Mary/divulgação
Durante dois dias a discutiu-se o formato do São João atual - FOTO: foto: Edinah Mary/divulgação
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A cantora Amorosa, nome consagrado em Sergipe, em protesto contra a enxurrada de artistas de outros estados, contratados para animar os folguedos juninos em Aracaju, decidiu fazer uma surpresa à plateia e aos organizadores do evento. Entrou fantasiada de boneco de pano: “Uma boneca Barbie, que quebra um braço, as crianças dispensam. Um boneca de pano, pode fazer o que quiser com ela, que não quebra. Está sempre ali. É imortal”. A “Barbie”, naturalmente, representa sertanejos, bandas de fuleiragem e outros ritmos alheios ao festejos juninos. A boneca de pano, obviamente, é o forró autêntico. Ela ficou de fora do Forrocaju durante sete anos.

Amorosa compareceu quarta e quinta-feira às palestra e debates da 15ª edição do Fórum do Forró, que este ano homenageou o forrozeiro alagoano Jacinto Silva (1933/2001), que viveu a maior parte de sua vida em Caruaru. Para falar sobre Jacinto Silva foi convidado o professor Luciano José, também alagoano (morador de Palmeiras dos Índios), autor do livro Jacinto Silva: As Canções. O autor levou sete anos pesquisando a obra do cantor. Luciano José fez uma longa exposição sobre a pesquisa, incluindo a trajetória do artista que, à exceção desses esforços particulares, é hoje pouco lembrado e tem sua discografia inteira fora de catálogo.

No debate em seguida à palestra, foi discutido o coco na tradição do forró. Silvério Pessoa, que é bastante popular em Aracaju, onde faz apresentações com frequência, abortou uma temática centrada no disco Bate o Mancá, de 2000, seu primeiro disco solo, em que gravou canções pinçadas da obra de Jacinto Silva, para focar na música que ele fez sobre pessoas que trabalhavam e viviam no universo dos canaviais.

Na verdade, uma aula que abordou cultura popular, o forró tanto como nostalgia, quanto como cultura contemporânea, e adentrou numa área que ele domina, a pedagógica. Silvério Pessoa aventou a possibilidade de a cultura popular passar a ser ensinada na escola, não como matéria transversal, ou seja, lembrada apenas nas efemérides, ou seja, no São João, no Dia do Folclore, e virar uma cadeira permanente.

Um teaser que rendeu bem. Muitos professores na plateia, quando o microfone foi aberto para perguntas à mesa, ofereceram sugestões, deram exemplos de escolas em São Paulo em que isto já acontece. Suscitou a possibilidade de Sergipe iniciar um projeto piloto e pioneiro de cultura popular nas escolas públicas. Silvério Pessoa vem já há algum tempo fazendo aulas show em escolas da capital pernambucana e da Região Metropolitana. Ele deu um exemplo de como adolescentes desconhecem os aspectos do cotidiano de outras regiões, ao perguntar se um garoto sabia o significado da frase “bate o mancá”, o título do seu livro, tirado de Carreiro Novo (Jacinto Silva). A resposta: “O carro de batman, batman car”.

SÃO JOÃO E FORRÓ

Os palestrantes e os debatedores, entre os quais estavam o professor José Paulino; radialista e produtor Paulo Correa, idealizador do fórum; o autor desta matéria; Thiago Paulino, da Universidade Federal de Sergipe (com intervenções de Cássio Murilo, presidente da Fundação Cultural de Aracaju, a Funcaju), opinaram sobre a propalada descaracterização da festa junina, cada vez mais privilegiando a música que está na mídia, que domina o mercado. Voltando à metáfora da cantora Amorosa, quem vencerá: a Barbie ou a Boneca de Pano? Paulo Correa concordou que a situação é grave, mas não irremediável. Lembrou dos muitos festivais
de forró que são realizados em diversos estados, e não exatamente no período junino, inclusive o Viva
Dominguinhos, em Caruaru.

Foi citada uma recente entrevista de Silvério Pessoa ao Jornal do Commercio, em que ele afirmou ter o São João acabado. Ele esclareceu que se refere à festa, não ao forró, que é a sua trilha. Reconhecendo que sertanejos e bandas de fuleiragem predominam, ou pelo menos recebem maior destaque: “Mas eu não desisto. Continuo fazendo minha música. Mas é difícil. Toquei com Dominguinhos no palco principal de Caruaru, e a plateia não estava nem aí. Queriam ver Aviões do Forró”. Diretor do departamento de Arte e Cultura da Funcaju, Nino Karvan garante que no São João deste ano em Aracaju, dos palcos distribuídos por 18 bairros, mais dois polos no Centro e um na praia de Atalaia, 90,19% são de artistas sergipanos, enquanto apenas duas das atrações não são de forró tradicional.

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