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Fernanda Takai reafirma beleza de Tom Jobim e da bossa nova

Ela canta com dois mitos da BN, Carlos Lyra e Roberto Menescal

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 03/07/2018 às 11:04
foto:  Weber Pádua/Divulgação
Ela canta com dois mitos da BN, Carlos Lyra e Roberto Menescal - FOTO: foto: Weber Pádua/Divulgação
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Desde o primeiro disco solo, Onde brilhem os olhos seus (2007), Fernanda Takai tem incursionado pela MPB, com um viés para a bossa nova. Onde brilhem os olhos seus tem repertório pinçado da obra gravada de Nara Leão. No trabalho seguinte, Luz negra ao vivo (2009) volta a trilhar o mesmo caminho. em O Tom da Takai ela pega a deixa dos 60 anos da bossa nova, por sinal, e infelizmente, muito pouco celebrada no Brasil, e celebra a música do seu autor mais importante, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Um projeto que nasceu por acaso, lembra a cantora da banda Pato Fu, em conversa por telefone, de Belo Horizonte, onde mora:

“Participei de homenagens a Menescal, quando ele completou 80 anos. Coincidiu do meu show acontecer na mesma noite em que Marcos Vale se apresentava. Houve uma afinidade imediata entre a gente. Depois de encontros, jantares, de ouvir muitas historias dele e Menescal, acabou surgindo a ideia do disco”.

Fernanda Takai deixou aos dois especialistas em bossa nova, até porque são sócios-fundadores da BN, a seleção de canções de Tom Jobim: “Eles me passaram várias indicações de músicas de Tom que poderiam estar num disco. Dentro do que indicaram, eu escolhi as que tinham mais a ver comigo”, conta a mineira. O Tom da Takai foi produzido Roberto Menescal e Marcos Valle, embora não se guie pela ortodoxia, é um disco de bossa nova, mesmo que algumas da composições sejam anteriores a BN. A faixa Só saudade (Tom Jobim/Newton Mendonça) foi lançada por Cláudia Moreno, em 1956. Enquanto Aula de matemática, com duas gravações em 1958, pelo seresteiro Carlos José, e por Sylvia Telles, chegou às lojas quando a bossa nova se resumia ao 78 rotações de João Gilberto, com Chega de saudade/e Bim Bom.

O Tom da Takai, inadvertidamente, acaba sendo também uma homenagem a Sylvinha Telles, uma das primeiras cantoras a abraçar o samba com a nova e inovadora batida criada por João Gilberto. Oito faixas do álbum foram gravadas por ela. Fernanda Takai diz que não foi intencionalmente. O alvo é Tom Jobim, porém, pelo fato de ter escolhido algumas composições pre-bossa nova, ou do início do movimento (se é que se pode chamar a bossa nova de movimento), inevitavelmente Sylvinha Telles estaria no disco, porque, pela convivência que tinha com Tom, Vinicius Carlos Lyra e outros compositores (seu irmão, Mário, foi cantor e compositor), tinha primazia em gravar a produção dos amigos (além de ser uma grande cantora). Sylvia Telles faleceu aos 32 anos, de um acidente de automóvel em 1966.

Fernanda não se considera uma neófita na bossa, e aponta que não apenas ela, mas intérpretes de rock, feito Rita Lee sofreram influência da estética bossa-novista: “No Pato Fu eu canto algumas coisa que puxam para esse lado. No nosso ouvido interno a gente tem bastante da bossa nova. Acho que em todo canto é assim. Antes de gravar este disco, passei dez dias no Japão e ouvi muito bossa por lá, lá se toca muito. Já aqui no Brasil hoje é bem menos valorizado, talvez pelo endeusamento de outros tipos de músicas”.

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Nara Leão contrariou cânones do canto popular no Brasil, onde as estrelas do rádio gabavam-se das oitavas que alcançavam com seus agudos. Fernanda Takai tem a voz meio Nara Leão, mesmo cantando numa banda de pop rock. Ela canta naturalmente sem vibrato, uma das características da bossa nova. A rigor O Tom da Takai é um disco de um trio de BN. Menescal é responsável por arranjos de seis músicas, toca violão, guitarra, e canta. Já Marcos Valle arranjou outras seis faixas, e toca piano, Rhodes, órgão, synth, e canta.

O disco é uma reafirmação da beleza harmônica, melódica, e lírica das canções de Tom Jobim, que hoje lembra afrescos cobertos, por ignorância, por camadas de tinta toscamente espalhadas pela parede. Cada vez menos se escuta Tom Jobim no rádio, ou TV, dominados pela música de pior qualidade que já se fez neste país

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