Tradição e modernidade, como já provaram movimentos como o hip hop e o manguebeat, não são conceitos que precisam andar separados. A mistura de referências, inclusive, continua a mover muitos artistas e deu o tom da noite de sexta-feira do Mestre Dominguinhos, principal palco do 28º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), tendo sua apoteose no show do Cordel do Fogo Encantado.
Um dos conjuntos mais tradicionais do Estado, com 88 anos de atuação ininterrupta, a Banda do Pífano Zé do Estado, com Anderson do Pife, fez um show instigado, que mobilizou o público. Com sua mistura de repertório da música popular nordestina com gêneros como a black music e o jazz, os artistas mostraram que sua arte não precisa (e não deve) ficar restrita.
“Somos uma banda de pífano do século 21. Temos que preservar nossa cultura porque senão vira pó. E vamos lutar para que todo ano tenha pífano no Palco Mestre Dominguinhos”, enfatizou Anderson.
Em seguida, subiram ao palco Siba e a Fuloresta, que voltaram a tocar juntos após hiato de seis anos. Os músicos tocaram alguns de seus maiores sucessos, como Toda Vez Que Eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar. Eles receberam no palco o Mestre Anderson Miguel, jovem de Nazaré da Mata que recentemente lançou o álbum Sonorosa.
Siba aproveitou para denunciar o descaso do poder público com o pagamento dos cachês dos artistas, principalmente os de vertente popular. O músico disse que era necessário não só colocar outdoors com os valores pagos a cada profissional, como também um painel com a quantidade de dias em que os valores seriam pagos. Ele usou como exemplo o fato de ainda não ter recebido o cachê de sua apresentação no Carnaval.
A Orquestra Santa Massa, com Maciel Salu e Isaar, entoou faixas como Boa Noite Gente, Dança da Moda, Na Beira do Rio e Nordestina.
Quando o Cordel do Fogo Encantado subiu ao palco, no início da madrugada, o público ainda não tinha perdido o pique e manteve-se assim com durante toda a performance enérgica da banda de Arcoverde. Grande parte do repertório foi marcada por canções do novo disco Viagem ao Coração do Sol, lançado em abril, a exemplo de Pra Cima Deles Passarinho.
Mas, Lirinha. Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz) não esqueceram dos grandes sucessos como Ai, Se Sêsse, Morte e Vida Stanley e Chover, que propiciaram uma catarse coletiva. A sintonia da banda com o público foi tamanha que já eram quase três da madrugada quando o show terminou, com direito a bis.
ELAS RIMAM
A programação da sexta-feira do Som na Rural teve como eixo principal a produção de mulheres no hip hop. As pernambucanas Lady Lay e Mari Periférica mandaram rimas sobre empoderamento feminino e contra os vários tipos de opressão – de gênero, sexual, racial e financeira. Outros destaque foi o projeto Tour Hip Hop Mulher 10 anos, idealizado pelo rapper e compositor Tiely Queen, um homem trans. Ao seu lado estavam as artistas Natt Maat, a DJ Ledah Martins e Dori de Oliveira.