A permanência de Madonna na consciência coletiva ao longo das últimas três décadas é admirável. Ainda mais por se tratar de uma mulher que enfrentou o patriarcado e que se desenvolveu em um gênero por excelência jovem, o pop. Se antes havia um “prazo de validade” para cantoras pop, por volta dos 30 anos, Madonna conseguiu perfurar essa barreira e provou ser capaz de emplacar hits até os 50. Mas nos últimos anos, sua idade tem sido usada como uma arma contra ela. Quebrar o preconceito contra o envelhecimento, portanto, se tornou a nova luta da artista.
Para a jornalista, pesquisadora e fã Mariana Lins, que estudou Madonna no mestrado e que, agora, no doutorado, se dedica ao tema do ageism – discriminação contra pessoas de uma faixa etária, geralmente mais velhos – o envelhecimento da artista é um fenômeno novo para uma pessoa do porte midiático dela.
“A carreira de uma cantora pop, normalmente, começa na adolescência, atinge um pico por volta dos 20 e começa a descer a partir dos 30. Madonna foi uma exceção. Ninguém imaginava que ela fosse durar tanto. A sociedade não lida bem com o envelhecimento e Madonna está sofrendo bullying pesado, basta ver o que está sendo dito sobre ela nas redes sociais e em parte da imprensa. E ela não dá sinais de parar. É um fenômeno recente até porque a música pop, como conhecemos, é recente”, reflete.
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Ela lembra que a última música de Madonna a atingir o primeiro lugar na Billboard, parada americana e principal termômetro de sucesso comercial do mundo, foi Music, em 2000, quando ela tinha 42 anos. Apenas 16 anos depois outra artista, a australiana Sia, conseguiu o mesmo feito com a música Cheap Thrills. Mas, um detalhe: Sia usa uma peruca cobrindo o rosto, então você não pode dizer a idade dela de imediato.
Para Mariana, Madonna está, assim como a sociedade, em busca de entender como se configura o envelhecimento em um lugar oposto aos dos antigos padrões.
O QUE É ENVELHECER BEM?
“Me perguntam se Madonna está envelhecendo bem, mas o que é envelhecer bem? Eu não sei e acho que ela não sabe também. Ela já não tem o corpo atlético de antes, o que é normal, ela não está conseguindo se adequar às novas mídias há algum tempo. É um desafio para ela compreender como se manter em atividade diante de outras dinâmicas. E para o público, mais ainda”, reflete.
Sobre a relação da sociedade com o corpo de Madonna às vésperas dos 60 anos, Thiago Soares aponta como emblemática a apresentação da artista no Brit Awards, em 2015. Na ocasião, quando ela ia começar a cantar Living For Love, um problema com a capa que vestia fez com que levasse uma queda (ela se levantou imediatamente e concluiu o show). Muitos atribuíram o acidente à sua idade.
“A questão do envelhecimento de Madonna aponta para uma ressignificação do queer, no sentido do estranho, do desviante. O corpo velho colocado nessa esfera ultramidiática questiona nosso olhar. Nós que somos fãs de Madonna somos indagados por ela se vamos venerar o fantasma do passado ou se a gente vai conseguir encarar, admirar e valorar esse corpo velho. O pop é efêmero e valoriza a energia, a dança, o corpo jovem. É quase como se ela estivesse traindo a própria natureza do gênero. Ela está se transformando em uma instituição que a gente não sabe exatamente o que é e o pop está tentando decidir como classificá-la”, reforça Thiago.
E, de fato, que não se espere que Madonna pare: ela já anunciou lançamento de novo disco para breve.