A reestruturação a que está sendo submetida a Fundação Joaquim Nabuco expõe uma crise interna que há muito se instalou dentro da instituição e só agora começa a ganhar a devida visibilidade externa. A casa deve ficar com cerca de 25 cargos comissionados (responsáveis pelos salários mais altos) a menos nos próximos meses. Com as mudanças, foram fundidas as Diretorias de Cultura e Documentação, transformadas em Diretoria de Memória e Cultura. De cara, a alteração atinge diretamente o setor de mais visibilidade da Fundaj, responsável, entre outras coisas, pelo gerenciamento do Cinema da Fundação e pelo setor de Artes Plásticas, incluindo as três galerias. Apesar de o fato ter um grande potencial para causar celeuma, há uma parcela da Fundaj que está razoavelmente satisfeita com as novidades, considerando até que esta é uma das poucas possibilidades de a casa voltar a ocupar um posto de excelência em relação às pesquisas sociais.
O conflito, na verdade, não parte dos servidores do órgão. “O problema da Fundaj é muito mais complexo do que brigas internas e questões de ego, que sempre existem em instituições deste porte, sejam públicas ou privadas. A questão está relacionada à fonte provedora da casa, no caso, o Ministério da Educação (MEC)”, comenta um profissional da fundação que prefere não se identificar. Embora muita gente não saiba, a Fundaj é vinculada ao MEC que, estima-se, gasta R$ 50 milhões por ano para mantê-la.
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“Durante os oito anos de Fernando Lyra na presidência da fundação (no governo Lula), praticamente só se investiu na Diretoria de Cultura. O Ministério da Educação retirou 69 cargos comissionados da instituição, forçando Lyra a promover uma reforma interna. Neste processo, a Diretoria de Cultura foi privilegiada e fortalecida. Em contrapartida, a Diretoria de Formação (mais diretamente ligada à educação) foi extinta, e a Coordenadoria-Geral de Ciência e Tecnologia foi reduzida a um setor dentro da área de Pesquisa, perdendo status”, analisa um dos pesquisadores da Fundaj.
Com as modificações promovidas por Lyra, a atuação da Fundação Joaquim Nabuco perdeu os pontos de contato com o MEC. “Do ponto de vista político e organizacional, a fundação ficou muito fragilizada. Torna-se muito mais fácil, para o ministério, retirar cargos comissionados de uma instituição que não investe em suas áreas prioritárias: educação, ciência e pesquisa”, afirma.
Para o outro funcionário, embora a alteração vá ser muito ruim no primeiro momento, ela deve realinhar à Fundação Joaquim Nabuco ao Plano Nacional de Educação do MEC, o que, para ele, é a única maneira de garantir a sobrevivência da Fundaj como uma instituição atuante e cujo trabalho tenha interlocução com a sociedade. “Há várias formas de se fazer uma reestruturação forçada como esta, provocada pela retirada de cargos. Uma delas, é tentar repensar a instituição de forma planejada, observando as suas finalidades. A outra maneira é simplesmente ir tapando os buracos e remediando as perdas. Creio que estamos no primeiro caminho”, comenta o funcionário.