disco

O obvio e misterioso Jack White

Blunderbluss, estreia solo do músico, é um caleidoscópio sonoro

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 27/05/2012 às 8:29
Leitura:

Jack White é um dos personagens mais originais surgidos no rock and roll nas últimas décadas. Paradoxalmente, a música que Jack White faz sempre se parece com algo que se ouviu antes. Assemelha-se mas, ao mesmo tempo, é bastante diferente.

Sua antiga banda, na verdade ele sozinho, com a mulher Meg fazendo figuração na bateria, era como um Led Zeppelin formado por uma pessoa só. Com o White Stripes, Jack White já teria entrado para a história do rock. John Anthony Gillis, seu nome de batismo, não é apenas original, ele é um mistério. Nascido em Detroit, em 1975, é o mais próximo que o rock americano chegou de um Bob Dylan no século 21.

Embora faça rock, não raro demasiadamente barulhento (ao vivo, muito barulhento), Jack White tem raízes na tradição do folk e blues. Blind Willie McTell, um dos preferidos de Dylan, também está na sua lista de ícones favoritos. Mas ele não se limita a dar vazão a sua criatividade só, em trabalhos próprios. No estúdio que montou em Nashville, White tem produzido os mais diversos artistas, incluindo aí grandes nomes da country local. Ao mesmo tempo, ela participa de duas bandas – Raconteurs, com Brendan Benson, e Dead Weather.

Onze anos depois de ter começado o White Stripes, White chega a um aguardado disco solo. Folk, blues, country, country & western, second line (um dos estilos musicais de New Orleans)e rock and roll: tudo isto e mais alguma coisa está na estreia solo de Jack White, Blunderbuss (Third Man Records/Sony Music).

Faixa que abre Blunderbuss, Miss pieces soa como um remake de uma canção de Bob Dylan, lembra alguma coisa de Desire com outra roupagem. O instrumentos que cerzem o álbum quase inteiro são piano e órgão, pilotados por White. A letra é e um surrealismo digno de Dylan: “Estava debaixo do chuveiro/ portanto não me toquei que meu nariz sangrava/ as gostas caindo no assoalho, indo para debaixo dos meus pés/ olhei meu rosto no espelho/achei que tivesse com alguma doença”.

Na faixa seguinte, ele volta aos seus tempos de White Stripe, em Sixteen saltines, fazendo um remake de sua própria Seven nation army (o maior hit do antigo grupo). A guitarra vai às alturas, a voz também. Incluído na lista dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos, numa destas questionáveis relações que a Rolling Stone (americana) publica de vez em quando, De todo modo, Jack White faz barulho, mas é econômico.

A música de Jack White é um caleidoscópio. Ele salta de uma balada para um country com slide guitar, e pula para uma valsinha country que remonta aos anos 40, mas como se fosse com o Led Zeppelin. O músico mostra que apreendeu tão bem o blues e suas variações na única canção cover do álbum, I’m shaking, de Little Willie John.

Blunderbuss é um disco que surpreende a cada faixa, como Jack White a cada movimento que faz.

Últimas notícias