A música que hoje se chama de brega começou há 40 anos. O marco inicial é um bolero de breque (sic), intitulado A beleza da rosa (Pedrinho / Helvila). O intérprete é o mineiro, de Barbacena, José Cipriano, ou José Ribeiro. Ele, assim como Odair José, Carlos Alexandre, e congêneres, é filho temporão da Jovem Guarda, cria de Roberto Carlos. Vinha batalhando desde a década anterior, até que teve a chance em uma grande gravadora. José Ribeiro, quatro décadas depois do seu maior sucesso, volta a ser tocado no rádio em parte por causa de Roberto Carlos. A recém-lançada Esse cara sou eu (de Roberto e Erasmo), tema da nova novela das nove, comunga de curiosas semelhanças com Sou eu, música de trabalho do novo CD do mineiro, Em cada canção uma saudade. No Recife, Ambas são as mais tocadas no programa Supermanhã, que Geraldo Freire comanda na Radio Jornal).
“É uma música de um compositor daqui, Teixeira de Paula. Ele me mostrou quatro composições, e eu gravei todas elas neste CD. A música está tocando muito no Nordeste. O pessoal está comparando. O que posso dizer é que gravei Sou eu alguns meses antes”, comenta o cantor. “Sou eu, sou/o cara que você queria, sou eu/que realizava suas fantasias/Não dá pra entender/difícil de explicar/se vai ficar com outro em meu lugar/ Eu sou o cara certo pra você”, estes são versos da canção gravada por José Ribeiro. Versos de Esse cara sou eu, de Roberto Carlos: “Que te faz feliz e que te adora/que enxuga seu pranto quando você chora/Esse cara sou eu/Esse cara sou eu”. Certamente uma coincidência, até porque a afirmação é tema recorrente na chamada canção romântica.
José Ribeiro foi colega de gravadora de Roberto Carlos na antiga CBS (a atual Sony Music), tiveram o mesmo produtor, Mauro Motta, e diretor artístico, Evandro Ribeiro, este segundo eminência parda na CBS durante três décadas: “Encontrava muito Roberto Carlos na gravadora, mas não somos amigos. Na verdade, quando comecei na Copacabana, meu sonho era lançar disco na Odeon. Um dia um amigo me apresentou a José Roberto (um baiano que formou no segundo time da Jovem Guarda), que Ele me apresentou a Renato Barros (do Renato e seus Bluecaps), que passou um tempão com a fita e não me dava um retorno. Sei que seu Evandro, recebeu a fita, que Renato sugeriu que gravasse um compacto comigo, ordenou que ele gravasse logo um LP inteiro”. O entusiasmo do experiente Evandro Ribeiro, porque o cantor já enfrentara o imbatível Roberto Carlos nas paradas de sucesso em 1968, com Me casava com ela (gravado na Copacabana).
Depois de dez anos no Recife, José Ribeiro se mudou para João Pessoa. Alegra-se de que finalmente voltou a chover em sua horta, mas não acalenta esperanças de que o fenômeno “Beleza da rosa”, se repita: “Hoje quem manda é a pirataria, e a gente tem que trabalhar com outro tipo de divulgação. Tem a vantagem do e-mail. Bota música no computador e passa para as rádios, Mandei Sou para um monte de rádio, muita estão tocando”, diz o antenado José Ribeiro, do alto de seus 78 anos. Quando estourou com Beleza da rosa, ele dividiu as paradas com o Rei Roberto. Se não vendeu mais do que ele, chegou perto: “O primeiro LP pela CBS vendeu 800 mil cópias. O segundo, já saiu da fábrica com cem mil cópias vendidas. Não apareci mais na época, porque a CBS tinha Roberto como prioridade. Ninguém podia aparecer na frente dele. Eu corria noutra faixa. Eles queriam alguém para o público de Roberto Müller e Carlos Alberto (dois remanescentes da época do bolerão de fim dos 50, começo dos 60).
Bons tempos em que se tinha a mão grandes arranjadores e maestros para trabalhar com artistas populares: “Na gravação do meu primeiro disco, os arranjos, que trabalhava e compunha para Roberto Carlos. É ele quem toca órgão em a Beleza da rosa, a Introdução é de Renato. Te,m uam coisa engraçada nesta coisa de gravação, Um outro sucesso meu, Sueli do meu terceiro álbum, tem um pandeirinho que está lá o tempo todo. Quem toca é Porquinho, que era como a gente chamava Michael Sullivan”, conta José Ribeiro, acrescentando o episódio de um encontro no mês passado com Renato Barros, no Recife: “Eu soube que ele ia se apresentar com o banda no Círculo Militar e fui prestigiar, até para conversar com um amigo que eu não via há anos. Renato me viu na platéia e me convidou ao palco. Cantei A beleza da rosa com ele me acompanhando, como fez no disco, foi uma chuva de aplausos”, exulta. Ele canta a música desde 1972, e garante que não se importa de repeti-la, as vezes, três vezes num mesmo show. Assim como canta com prazer outros clássicos do seu repertório, Na porta da cozinha ou Canção dos namorados (ambas assinadas por ele e Joel Teixeira), a primeira a maioria dos fãs consideram que seja autobiográfica. A letra é impagável: “Entrei pela porta da sala/ela chegou pela cozinha/perguntei onde ela estava/respondeu na casa da vizinha. Ribeiro garante que não é experiência pessoal: “Na época eu ainda trabalhava em banco. Ouvi uma história parecida num programa policial A Patrulha da Cidade, e contei ao meu parceiro. Eu chamo do Melô do cara-de-pau”.
O rótulo de brega ele aceita, mas não assume: “A música que eu faço denominam de brega de 1977 para cá. Faço o que fazia quando competia com Roberto Carlos em 68. A música foi que mudou, a instrumentação, os gostos. Mas também não vou brigar, porque não adianta. Brega para mim são estas coisa, boquinha garrafa, isto é que é brega. Se alguém é brega, este cara não sou eu”.