Lenine vem de Maceió. Elba Ramalho, de João pessoa (onde fizeram show ontem). Da Bahia vêm, Ivete Sangalo. Do Rio, Maria Gadu e Luiz Possi. Esta constelação ecumênica de astros de primeira grandeza da MPB estará no Cais da Alfândega para reverenciar uma única estrela: a cantora Nena Queiroga, que grava DVD celebrando 30 anos de carreira: “Está sendo uma coisa muito louca. Cismei de fazer em outubro, sai procurando o pessoal que pudesse dar uma força, acabei chegando até o prefeito Geraldo Júlio, ele foi muito gentil, me chamou de a Rainha do Carnaval do Recife, e disse que no que a prefeitura pudesse apoiar ele estaria à disposição,’ comenta a cantora, que comanda o único trio feminino no desfile do Galo da Madrugada.
Nena pertence ao clã dos Queiroga, uma família em cujas veias corre sangue e música. O pai foi cantor e compositor, fornecedor de sucesso para Marinês, Coroné Ludugero, e Luiz Gonzaga. A mãe, a cantora Mêves Gama, foi uma das estrelas do rádio pernambucano, e uma das principais intérpretes de música carnavalesca na época da Rozenblit, onde lançou frevos de Nelson Ferreira e Capiba. Os irmãos, quase todos são músicos, ou compositores, os seus filhos, Yuri, e Ylana, também já são destaques da música pernambucana. Nena Queiroga começou a profissão ainda menor de idade, com autorização dos pais para ser crooner na orquestra do maestro Guedes Peixoto: “Na primeira viagem, estava com uns 18 anos, foi com a orquestra do Maestro Duda, um músico bebeu demais, e e eu fui fazer percussão, tocar caixa, é muito história. Comecei a carreira solo em 1993, as comemorações dos 30 vêm do ano passado, a gravação do DVD será o fechamento da celebração”, resume a cantora.
Será também uma festa de congraçamento de uma geração de cantores e músicos que anima o Carnaval desde os anos 90. Nena Queiroga, por exemplo, sai este ano pela décima vez num trio elétrico no propalado maior bloco carnavalesco do mundo, O Galo da Madrugada. Como também saem os amigos André Rio, Gustavo Travassos, Almir Rouche, Ed Carlos, Nonô Germano. Partes deles participou do Recifolia, o carnaval baiano da avenida Boa Viagem, que foi de final dos anos 80 a meados dos 90, disputando espaço com o rol rolo compressor da axé music no auge. Ao critica Recifolia deve-se creditar a profissionalização de um grupo de cantores e músicos que faz o Carnaval pernambucano, a primeira geração depois do fim da gravadora Rozenblit, que dava o respaldo da divulgação e gravação de discos. Eles tiveram que se virar sozinho, e conseguiram.
Nena Queiroga chegou a participar do Recifolia, como backing vocal do trio de André Rio: “O show termina com estes amigos mais Spok e Forró. Estes dois também tocam durante o show”, adianta Nena que prefere não revelar a música que fechará o show: “Acho melhor que o público só saiba na hora. Se eu isso, por exemplo, o que vou cantar com Ivete Sangalo, na hora a plateia já está sabendo. É sempre bom uma surpresa”, explica Nena. Ela diz o que deixou de incluir no repertório: “Queria colocar Evocação de Nelson Ferreira, Frevo nº 3 do Recife, de Antonio Maria, algumas músicas de Dominguinhos, mas as editoras cobram muito caro. Liv Moraes tentou facilitar as composições Dominguinhos, mas é complicado com as editoras”, queixa-se Nena.
Ela ressalta que não cantará só frevos, embora todas as música sejam de autores pernambucanos: “Desde os antigos, aos mais recentes, como Marrom, Lula, e tem caboclinho, maracatu, ciranda. É uma geral na música da gente”. Ao contrário dos fonogramas de preços proibitivos, Nena conseguiu com mais facilidades trazer convidados cujos cachês não são exatamente os mais baratos do Brasil, como é o caso de Ivete Sangalo: “Ivete é um dos meus ídolos. E ela vem para a gravação pelo respeito que tem ao meu trabalho. Nem Ivete nem os outros convidados estão cobrando cachê”. Naturalmente, a queirogada quase inteira estará a postos hoje no Cais da Alfândega. O irmão Flávio Queiroga é o diretor geral, a direção de imagens fica por conta de Lula e Luciano Queiroga. Ylana Queiroga canta com a mãe. O outro filho o guitarrista Yuri Queiroga não participa porque está viajando: “Eles é que vão fazer depois a parte mais chata, a finalização, os cortes. Se bem que quero gravar o show sem efeitos, o DVD ai mostrar exatamente como ele foi no palco. O show começa às 18h, e a entrada é franca.