Comédia

Fabiana Karla comedida em peça para Reginaldo Rossi

Sem grandes momentos, espetáculo encheu o Teatro Luiz Mendonça

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 16/11/2014 às 15:50
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Ainda que afinadinha, Fabiana Karla tem a extensão vocal de uma cantora de karaokê; o texto parece ter sido escrito por um aluno ginasial da disciplina de educação artística: mas o enorme carisma da humorista faz com que o público se divirta, com leveza, durante os poucos mais de sessenta minutos da peça Nessa Mesa de Mar.

Com o teatro Luiz Mendonça, dentro do Parque Dona Lindu, praticamente lotado no sábado e no domingo, o espetáculo foi apresentado no Recife - com direito à presença declarada de toda a família na plateia – depois de breves temporadas de “aquecimento” em Salvador e Goiás. Com a presença coadjuvante do ator Leandro da Matta como um garçom, Fabiana Karla interpreta uma mocinha rechonchuda, com piadas (bem leves) ao próprio excesso de peso, que entra num bar prestes a fechar, no centro da cidade, e insiste por atenção. Essa é a premissa básica para que a atriz assuma o microfone e costure a apresentação cantando algumas das canções mais conhecidas de Reginaldo Rossi, o homenageado do espetáculo.

Os momentos mais populistas, de união do carisma da atriz com o capital afetivo da memória de Rossi, fazem o público bater palminhas e cantarolar junto. Mas o texto em nada ajuda a atriz a sair de onde está. A mocinha não tem qualquer nuance. Não tem conflitos, momentos poéticos, elaboração de humor ou os elementos que deveriam fazer a dramaturgia. Sem subtextos ou intenções clandestinas. Leve como uma cartilha da Socila. No apelo da mocinha ingênua que busca, talvez, encontrar um amor no bar que diz ter frequentado sem nunca lá ter estado,

Fabiana Karla só desce com mais força à sua própria potência cômica quando abandona a personagem e investe em pequenas gags. Nos improvisos, faz referências a bairros e periferias locais e usa clássicos da prosódia pernambucana como o termo “tabacudo” para se referir a seu parceiro de cena. Faz rir quando larga a cena e se mostra a Fabiana que é.

A montagem não tem muita unidade. E parece que outra peça invade o espetáculo quando a atriz sai de cena, deixa a personagem da mocinha Alice na coxia e volta, sozinha, para uma esquete de Lucicreide, a impagável empregada suburbana que ela criou quando ainda morava no Recife, bem antes de começar a destilar seu humor nas noites de sábado na Rede Globo. É este o momento que paga, grandemente, o espetáculo. Inclusive pelas referências atualizadas da realidade local.

Como quando a empregada diz que, atrasada e faminta, que se recusa a comer qualquer empada em Pernambuco. Menos ainda se vier de Garanhuns. Mas a temperatura volta a cair quando ela reassume o enredo principal, mal lembrando a atriz que, outro dia, defendia com grande potência a protagonista da peça Gorda, clássico contemporâneo do americano Neil Labute.

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