EXPERIMENTAÇÕES

Tem viola interagindo com metais no sábado do Ouvindo e Fazendo Música

O projeto Fuso, do DJ Dolores e do violonista Hugo Linns, é a atração deste sábado no Mepe

Germana Macambira
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Germana Macambira
Publicado em 24/01/2015 às 6:30
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O projeto Fuso, do DJ Dolores e do violonista Hugo Linns, é a atração deste sábado no Mepe - FOTO: Divulgação
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Se uma das propostas do projeto Ouvindo e fazendo música é mostrar as possibilidades do universo da música brasileira, nada como a mistura do nordestinês de uma viola com os timbres eletrônicos dos metais. É exatamente essa a experimentação deste sábado (24, no Museu do Estado (Mepe), que traz de volta aos palcos do Recife, DJ Dolores e Hugo Linns, com o projeto Fuso.

A ideia surgiu a partir de um convite da revista Outros Críticos, que promove em suas edições, o encontro de artistas com propostas sonoras diferentes.

“A junção deu super certo. Tanto pela sonoridade dos instrumentos, quanto e, talvez, principalmente, pelas afinidades entre nós. Nossa parceria está só começando”, ressaltou Dolores em entrevista ao Jornal do Commercio.

Essa “liga” entre os dois artistas deve continuar em outras andanças. Hugo Linns é o convidado de Dolores para participar de um longa, em que ele faz a direção musical. “Acho inevitável que levemos nossos estilos adiante. Não poderia ser diferente”, comentou o DJ, que destaca o sotaque ‘nordestinês’ do projeto. “Falamos o mesmo idioma, filtrado por diferentes influências, que vai do popular ao mais experimental. E é o que o público quer ouvir”, salientou.

Uma afirmação reforçada pelo violonista Hugo Linns, que abraçou o ineditismo de tocar junto com Dolores e, assim, explorar novas musicalidades. “O inusitado dessa combinação desperta a curiosidade do público. Eu curto texturas e sempre soou natural, para mim, explorar o som da viola. Eu nuca havia tocado com ele e todos disseram, mesmo antes de ouvir, que faríamos algo interessante”, comentou Linns.

Para a apresentação de hoje à tarde, no Mepe, o público pode esperar surpresas e improvisações. Qualidades inerentes em projetos dessa natureza. “Não dá para prever o que vai acontecer. Vamos descobrir na hora”, assegura Dolores. “Acima de tudo vai prevalecer a liberdade de sons e o prazer em estar tocando juntos”, completa Hugo Linns. 

O projeto Fuso deve seguir com a perspectiva de gravação de um disco virtual. Entre as novidades, o acesso ao trabalho por qualquer pessoa, podendo, ela mesma, mixar e produzir novas sonoridades. 

Confira a entrevista que os músicos concederam, ao Jornal do Commercio:

JC - Sobre essas novas textura na música: viola + metais... E como deu certo, não é?

Dolores: Sim, super deu. Mas não só pela sonoridade dos instrumentos mas por afinidades, conexões entre nós. Convidei Hugo para participar de um longa em que faço direção musical e a parceria está só começando.

Linns: Acho que aqui entra o inusitado, para quem curte ouvir músicas mesmo procurar novas combinações de sons abre caminho para um mundo sonoro novo. 

JC - Havia um flerte de vocês em fazer algo do tipo, dentro do estilo de cada um?

Dolores: Acho que é inevitável que levemos nossos estilos. Não poderia ser diferente.

Linns: Nosso encontro foi através do convite de Carlos Gomes editor da Revista Outro Críticos em março de 2014, num projeto muito bacana de juntar dois artistas que nunca haviam tocando juntos para fazer uma apresentação e gravação de duas músicas para o site do outros criticos, também saímos na edição de maio da Revista, a aparesentação foi no Continuum Festival de Arte e Tecnologia do Recife.

JC -  Quanto à receptividade do público que cada um de vocês já tem... Dolores com as produções eletrônicas e Hugo com o nordestinês da viola, quando se juntaram, os dois públicos chegaram junto também?

Dolores - O nordestinês é nosso sotaque em comum, filtrado por uma séria de diferentes influências, do popular ao mais experimental. O público, sem dúvida, quer ouvir algo mais experimental. Particularmente, encaro o Fuso como um   momento avesso a bandas, canções para cantar junto, performances suadas de palco mas algo que nos permite  explorar possibilidades sonoras além das fronteiras da canção.

Linns - Quando falamos dessa interação todos ficaram curiosos sobre o som, como sabiam que eu curto texturas também fora o som natural da viola muitos disseram mesmo antes de ouvir que faríamos algo interessante, desde a primeira conversa optamos pela liberdade sonora de cada um, sem delimitações.

JC- Experimentações mais contemporâneas já podem ser consideradas uma tendência no atual cenário da música?

Dolores - A natureza da música, mesmo a música popular, é o experimento. Veja o Kraftwerk, por exemplo ou o trabalho de Hugo e de Caçapa, inspirados em matizes rurais mas extremamente contemporâneos. 

Linns - Para mim sempre foi natural, principio básico do ser artístico, experimentar, seja com sons se você é músico, tintas se você é pintor e assim vai; o que acho que no momento atual se presta um pouco mais de atenção a essas experimentações.

JC - O que falta à atmosfera musical do País, para conseguir criar mais? Dentro de propostas como essas, de vocês...

Dolores - Se essa opção gerasse dinheiro fácil, a galera abandonaria o pagode para ser experimental.

Linns - Falta mercado, no sentido de conserguimos tocar mesmo, fazer apresentações, porque vejo que em Recife o segmento da música instrumental nunca esteve tão forte como as bandas Saracotia, Rivotrill, A Banda de Joseph Tourton, Wassab, Mojav Duo tem muita gente criando e fazendo música de qualidade, o que falta é investimento e visão para essas músicas serem ouvidas ao vivo.

JC - Performances assim caem como uma luva para projetos como o Ouvindo e Fazendo Música...

Dolores - Espero que sim.

Linns - É muito importante esse espaço. Já toquei com meu trabalho solo de viola, com o Terno de Areia, com a Alessandra Leão, o bom é que é um espaço democrático, música instrumental e música cantada também, já que hoje em dia o espaço pra música instrumental é muito menor em relação ao de música cantada, fico feliz em ver um lugar onde ambas tem o mesmo espaço.

JC -  Quais as próximas (novas) ideias para o projeto Fuso?

Linns - Vamos colocar um projeto no próximo Funcultura para a gravação do CD virtual com as pistas abertas, ou seja, a pessoa poderá ela mesma mixar o trabalho e inventar novos sons, músicas...vamos ver o que acontece.

JC - O que trazem de para a apresentação no Ouvindo e Fazendo Música?

Dolores - Vamos descobrir na hora.

Linns - A experimentação sonora acima de tudo, liberdade de sons e o prazer em estar tocando juntos.

JC -  Individualmente, adiantem um pouco sobre os próximos passos na carreira.

Dolores - Estou finalizando a trilha de um longa que me parece muito promissor. Acabei de finalizar trilhas para programas incríveis que vão estrear em 2015, finalmente mixando o disco do Frevotron (com o Maestro Spok e Yuri Queiroga, mais participações de Otto, DuPeixe e Sombra, entre outros) e montando um solo para o Porto musical, no dia 4 de fevereiro. 

Linns -  Eu estou no meio do projeto de composição do meu terceiro CD A solidão do sol em cinzas do ar, que foi aprovado no ano passado pelos Rumos Itaú Cultural. Todo incício de mês estarão disponíveis em meu site www.hugolinns.com duas músicas inéditas para audição. Começei em novembro e termino em março. E dia 28 de março tenho show desse projeto lá no Espaço Itaú Cultural em São Paulo, só com essas músicas inéditas, e dia 5 de fevereiro estarei tocando dentro da programação do Porto Musical no daycase, às 13h, no Paço do Frevo.

Quer curtir um pouco o som dos caras? Então dá uma olhada:

 

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