Ela é romântica, tocada pela beleza da cultura popular, mas não passa vista grossa nos problemas, garante. Ele, homem de números e retórico. Na última sexta-feira, na sala fria e paradoxalmente de vista invejável para a bela paisagem solar do Recife, cercados por mais quatro assessores, a secretária de Cultura da cidade, Leda Alves, e o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, enfim cederam às tentativas e atenderam a reportagem do Jornal do Commercio para um balanço de dois anos de comando da pasta, após três meses de muita espera. As críticas à administração são muitas. Desde 2014, a secretaria tem sido recorrente nas notícias sobre problemas e reclamações da classe artística, como atrasos de alguns pagamentos, suspensão do Festival Recife do Teatro Nacional, e falta de continuidade do Sistema de Incentivo à Cultura. Munidos de informações e com a assessoria de Carlos Carvalho, coordenador do Centro de Pesquisa Apolo-Hermilo, Williams Sant’anna, do Teatro Luiz Mendonça, Paz Brandão, diretora do Pátio de São Pedro, e Camerino Neto, assessor de imprensa, Diego e Leda, enfim, encontraram tempo para falar.
DOIS ANOS
LEDA ALVES - Quando a gente recebe (o convite) - no meu caso era quase uma convocação - para assumir uma secretaria de Cultura da importância da secretaria do Recife, passa um filme na nossa cabeça, com os compromissos que eu desde nova fui aprendendo a conhecer, amar, aderir e assumir. (...) Nesta convocação de agora eu já estava com uma estrada bem longa e com uma idade ainda mais longa. E a vida é a grande desafiadora da gente. (...) Dois anos depois daqui, estou bem mais acrescida de experiência, claro, já reformulei muita coisa, sem desencanto, com energias mais limitadas porque o tempo é senhor de tudo e ele é imperativo dele. Dentro de mim penso que se eu tivesse 20 anos amenos poderia servir melhor aqui. Mas como não engano a ninguém, e minha equipe me conhece. Não tenho botox na vida. (...) Os artistas precisam dos poderes, mas não dependem dele não. Precisam do dinheiro, mas não dependem do dinheiro.
FINANÇAS
LEDA ALVES - Meu jeito de gerir é colegiado. Nunca falo por mim só, falo pelos que comigo trabalham. E eles falam por mim. São muitas dificuldades. A mais difícil é a do dinheiro. Mas a gente - e é imperativo de justiça - tem contado com a vontade da prefeitura e dos secretário afins que a gente tem trabalhado diretamente. (...) Os artistas acreditam tanto na seriedade do nosso trabalho que quando eu digo ‘não tem’ é verdade. (...) Essa franqueza e credibilidade são nossos capitais. A gente tem dívida, mas eles sabem que a gente tem, a gente encontrou dívidas, mas eles sabem que estamos pagando. São dificuldades que a gente entra na luta, sofre, mas que a gente faz.
DIEGO ROCHA - Como a secretária falou, as ações da Fundação (de Cultura Cidade do Recife) e da secretaria são colegiadas. Estamos todos os dias nesta mesa, literalmente, e posso dizer que tudo que a gente levou de projeto e pediu ao prefeito, não deixou de ser atendido em nada. Como a secretária falou, há coisa que não são imediatas, cada ação demanda recursos. (...) Tanto em 2013 quanto em 2014 foi executado bem mais do que foi orçado. A gente precisa da gestão para executar as coisas. Lógico que nossa demanda, e dois outros órgãos, é maior do que os recursos da prefeitura, e dependem da tarefa de casa de cada órgão, para que a gente tenha retorno mais rápido e conseguir fazer o que quer.
EQUIPAMENTOS
DIEGO ROCHA - O Paço do Frevo virou uma realidade, além de qualquer previsão que foi feita. É uma gestão em parceira com a iniciativa privada que tem dado certo. A secretária já deu entrevistas dizendo que sempre que vai lá parece que foi inaugurado ontem.
LEDA ALVES - Nada quebrado, nada arranhado, nada sujo. (...) Isso significa muito amor.
WILLIAMS SANT’ANNA - E outra coisa que surpreendeu: o Paço hoje em dia tem intercâmbio internacional.
DIEGO - Isso (a parecia público-privado) é um caminho que foi aberto, trilhado e não tem volta. Outros equipamentos vão estar nesse modelo de gestão. A gente tá fazendo estudo para a rádio Frei Caneca e o Teatro do Parque, mas claro que depende da aprovação do prefeito e do conselho de gestão.
FREI CANECA
DIEGO ROCHA - A gente evoluiu como nunca. Ela tem um rico acervo disponível para começar a funcionar, que são as ações que a própria prefeitura participar e realizar. Imagina a rádio fazer a transmissão do aniversário da cidade? De algum ciclo? O seminário de artes cênicas, que houve na semana passada? Fora os milhares de CDs e DVDs que os artistas me entregam e a gente recebe. A gente tem pronto para funcionar. Agora já temos o projeto de transmissão e localização de antenas, que tem que ser autorizado pelo Ministério das Comunicações, e base e estúdio com local definido. Estamos esperando a aprovação do Conselho de Gestão da prefeitura para lançar a licitação. A rádio vai ficar por trás do Paço do Frevo. O transmissor será no topo do prédio da Sudene. Por mim, já tinha lançado desde o ano passado. Mas o Conselho de Programação Financeira é que determina o que vai ser licitado, garantindo o aporte. (...) Vamos ter a reunião de monitoramento com os vários eixos temáticos. O da gente (da Secretaria de Cultura com o prefeito Geraldo Julio) está programado para os próximos dias, ainda em março. Todos os projetos vão ser validados e o prefeito vai acompanhar.
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