Antes mesmo de Roberto Carlos subir ao palco do Classic Hall, em Olinda, os seus fãs – primeiramente sentados – entravam num portal de emoções. Parecia mesmo um momento de transição, a abertura da orquestra regida pelo maestro Eduardo Lages: os arranjos iam de Se Você Pensa a É Preciso Saber Viver e bastava quatro ou três notas para que as canções já deixassem de ser instrumentais somente e passasem a contar com o coro fiel do público pernambucano.
Mas foi no clássico dos clássicos, a música-jargão Emoções, que ele subiu ao palco. Como era de se esperar, vestindo branco e azul. Dispostos nas primeiras fileiras de mesas, a atriz mineira Myriam Rios (ex-esposa de Roberto) e o cantor pernambucano Nando Cordel prestigiaram o músico. Foi também e somente na mesma música a única oportunidade que os repórteres fotográficos tiveram autorização para registrar as imagens do show em suas câmeras; em Emoções e no discurso que se seguiu a ela, quando o astro fez charminho para os fãs pernambucanos: “Que prazer!”, disse, e continuou: “rever vocês. Mais uma vez em Recife. Um lugar que tem me dado amor, sempre, durante todos esses anos.” Então, ensaiadamente, ele dava uma pausa, fazendo que sim com a cabeça, enquanto as mulheres gritavam.
Umas gritavam à frente e outras fãs, mais na penumbra, algumas trabalhando inclusive, implodiam de admiração. Era o caso de Selma Gomes, que é garçonete do Classic Hall e trabalha pela terceira vez em um show do ídolo. “Sempre fui fã. Amo, faz parte da minha vida. Sei de todas. É uma emoção, chega estou arrepiada com essa música. Amo Roberto, ele faz parte da minha história. Trabalhamos aqui eu e meu marido, ele de vez em quando me dá cobertura para eu assistir. É uma maravilha. É inesquecível; Roberto sempre será inesquecível, quantas vezes ele vier”, disse, com os olhos marejados de lágrimas.
O repertório do show transitou por vários sucessos da carreira de Roberto como Além do Horizonte, Detalhes, Nossa Senhora; mas não seria exagero dizer que todas as músicas eram adivinhadas, cantadas e bem quistas pelo público. Uma em especial: “Fiz essa música com muita alegria. E sempre que canto ela sinto a alegria como se fosse da primeira vez”, falou com suspense o cantor, antes de interpretar os versos “Tenho às vezes vontade de ser / Novamente um menino” de Lady Laura.
Roberto Carlos promete se reinventar no próximo disco, gravado na Abbey Road Studios de Londres e em pré-venda no iTunes; mas, enquanto o novo trabalho não chega às lojas, ele deu um aperitivo aos fãs. Uma canção reincindente no repertório de seus shows, Eu Te Amo, Eu Te Amo, gravada em 1968, apareceu como um reggae, interpretada pelo cantor e orquestra enquanto o teclado se sobressaía deitado na cama forrada pela bateria e pelos backing vocals. A guitarra só nas firulas. O grupo musical que acompanhou Roberto se mostrou competente, como diria e disse o repórter deste JC, José Teles, “profissionalíssimo” como o frontman.
Mantendo a tradição de interagir com os fãs – enlouquecidos com a presença do mais que presente cantor e compositor do cancioneiro popular brasileiro – a entidade Roberto Carlos se despediu. Deu uns beijos modestos nas rosas brancas e vermelhas que iam, uns cheiros discretos nos presentes que vinham. E foi-se.