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Djavan autobiográfico e romântico em novo disco de estúdio

Em uma das canções ele lembra a influência de Luiz Gonzaga

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 15/11/2015 às 6:00
foto: divulgação/Sony Music
Em uma das canções ele lembra a influência de Luiz Gonzaga - FOTO: foto: divulgação/Sony Music
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Uma das assinaturas sonoras mais reconhecidas da MPB, o alagoano Djavan, está de volta com álbum de canções inéditas, Vidas pra Contar, mezzo autobiográfico, mezzo romântico (o que não deixa também de enveredar pela autobiografia). Gravado no estúdio A casa, que funciona realmente em sua casa, bancado inteiramente pelo cantor, que hoje tem o controle de toda sua obra, numa parceria do seu selo o Luanda Discos, com a Sony Music:

“A grande dificuldade de gravar um disco é lançar sozinho, é a distribuição. O Brasil é um continente, pra colocar o disco em todos os quadrantes do país, tem que ter uma estrutura que não dá pra se ter de uma hora pra outra. Só multinacional grande possui. A minha parceria com a Sony deveu-se a este fato. Ela tem uma estrutura imensa, é a gravadora mais importante do Brasil, está fazendo a distribuição e também o marketing. Eu faço o disco, banco todo o resto do projeto”, explica Djavan,


O processo de gravação de Vidas pra Contar não foi diferente de como foram realizados a maioria dos seus álbuns. O método Djavan, por ele mesmo: “Como de hábito, sempre faço em cima da hora. Fiz cinco músicas em dez dias pra começar o disco. Porque preciso daquele momento, da atmosfera de estúdio, do equipamento. Então faço o resto do disco sob esta aura. Marquei estúdio para o dia 23 de fevereiro, para gravar e dez dias antes não tinha nenhuma música , tentando fazer e tal, mas não gostava de nada. Em dez dias fiz as cinco músicas, todas sem letras, que é o que faço por ultimo”, explica Djavan, acrescentando que o conceito de cada trabalho surge durante a feitura do disco:

“A primeira que fiz foi uma balada, Me encontraste, ai foram saindo. Como eu não sou aquele compositor que entra com as 12 musicas prontas, vou fazendo aos poucos, as coisa vão acontecendo. É uma coisa que acho bom, porque dá margem a que as mudanças aconteçam. As certezas são passageiras, vou sedimentando o trabalho longo do tempo”. Vidas pra Contar tem o ecletismo característico de Djavan, cada faixa tem ritmo diferente, que pode ir do xote à balada:

“Eu tive uma formação muito eclética, muito diversificada, e a música que faço atende a esta formação. Sempre tive um interesse muito claro, profundo, sobre a diversificação. Sempre quis saber como é que se faz um gênero, como é que faz outro. Tive um olhar sobre a música negra americana, sobre a música europeia, a música africana, a música flamenca, a brasileira, evidentemente, de todas a regiões do Brasil. A graça da música está na diversificação”.

LUA E BEATLES

Nessa formação, Luiz Gonzaga é uma das presenças mais fortes. O nome dele é citado em Dona do Horizonte, sobre dona Virgínia, mãe do cantor: “Dona do horizonte me fez ouvir/Dalva de Oliveira/e Angela Maria todo dia/deusas que adorava/tinha prazer/em me levar pra ver/Luiz Gonzaga cantar”: “Ele é o emblema musical do nordeste, é o cara que cantou o nordeste sobre todas as situações, ele conhece o povo nordestino. Não só ele, como os parceiros, Zé Dantas, Humberto Teixeira, e outros parceiros. O Jackson do Pandeiro, Ary lobo, são homens muito capazes e sensíveis, que tiveram, durante a vida inteira, a nobreza de trazer a vida nordestina para o foco da música, e fizeram isto brilhantemente. Tenho um amor enorme por estes homens”.

Na entrevista, por telefone, Djavan estende-se mais pelas influências que alicerçam sua obra, construída sobre ponte que liga Exu, no sertão pernambucano, a Liverpool, no Norte da Inglaterra: Costumo delinear minha formação colocando um parâmetro entre Luiz Gonzaga e Beatles, dentro deste espectro você encontra de tudo. Luiz Gonzaga numa ponta, e Beatles na outra, passando por jazz, música flamenca, africana, enfim, todo um conjunto de diversidade que existe no mundo. Ele conta que tem vivo na memória o primeiro encontro com estas duas colunas da sua formação:

“Vi pessoalmente Luiz Gonzaga com cinco, seis anos, minha mãe me levava. Vi sempre em lugares públicos, minha mãe não podia pagar. Já os Beatles, a primeira vez que ouvi foi I Want to Hold Your Hand. Aquilo entortou minha cabeça. Foi em Maceió, na casa de um amigo, o pai comprou o disco pra ele. Achei um absurdo de diferente, de moderno”, comenta.

(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)

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