Shakespeare 400 anos

Shakespeare é cada vez mais presente 400 anos depois de morto

Suas peças continuam sendo atuais, adaptadas e apresentadas

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 01/05/2016 às 6:00
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Suas peças continuam sendo atuais, adaptadas e apresentadas - FOTO: foto: reprodução
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O poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare pode ser comparado ao oxigênio: está em toda parte, as pessoas dependem dele o tempo inteiro, mas nem se dão conta disso. Se você, por exemplo, se chama Jéssica e acha que a asserção é absurda, pois Shakespeare para você é grego, saiba que só tem este nome por causa dele, que o inventou para um personagem da peça O Mercador de Veneza. E mais. A expressão "isso pra mim é grego" também é de Shakespeare, da mesma forma que o crânio humano que deve decorar as camisetas vestidas por metaleiras chamadas Jéssica teve sua figura disseminada a partir de Hamlet.

Estima­-se que Shakespeare tenha acrescentado cerca de duas mil novas palavras à língua inglesa e, daí, a idiomas do mundo afora. Consanguíneo é uma delas, juntando duas palavras do latim, con (com) e sanguine (sangue). Introduziu palavras que se imagina que existiam antes dele, como "traditional", adjetivou substantivos ou furtou de outros idiomas, feito "bandit" que vem do italiano banditto. Expressões, então, ele criou milhares, que foram incorporadas ao linguajar comum, algumas também passando para outros idiomas.

Umas ninguém imagina que vêm dele, como a prosaica "não ceder uma só polegada". Shakespeare inventou tantas palavras que parte delas até hoje não se tem ideia do que significam, como "prenzie" (de Medida por Medida), e "scamels", de A Tempestade ­ talvez sejam erros de revisão, talvez não. Os versos "E Romeu queria Julieta/E Julieta queria Romeu" não são de Shakespeare, é o refrão da canção Romeo had Juliette, de Lou Reed que, obviamente, tem inspiração numa de suas peças mais conhecidas, Romeu e Julieta ­ Os Amantes de Verona, que está em uma infinidades de adaptações, sendo uma das mais bem sucedidas o musical West Side Story, ou Amor Sublime Amor, dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins (adaptado, por sua vez, de uma peça da Broadway), com música de Leonard Berstein . O filme, de 1961, arrebatou dez estatuetas do Oscar, e o álbum ganhou um Grammy.

Mas se encontra­ Shakespeare até onde parece não haver. A banda gótica inglesa This Mortal Coil pegou o nome de uma linha de um dos monólogo "To be or not to be", de Hamlet. Os romances Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, O Som e a Fúria, de Faulkner, têm títulos pinçados de frases de William Shakespeare. Shakespeare (provavelmente) não inventou o termo "paradigma", mas sua obra é uma constante e impressionante sequência de quebra deles.

Em Romeu e Julieta, por exemplo, ele conceitualizou a figura do adolescente. Os dois são muito jovens: Julieta tem apenas 14 anos. A primeira cena da peça mostra um grupo de adolescentes perpetrando o mesmo que um grupo deles faria no século 21. Bebem, fazem bobagens e conversam sacanagens. No ato 2 da 1ª cena, Mercutio faz trocadilhos com sexo anal, empregando o termo "arse" expressão chula para ânus. Um estereótipo, claro, mas 370 anos depois a cena foi reproduzida numa das melhores aberturas de um filme de Hollywood, o citado Amor Sublime Amor.

O sexo permeia a obra de Shakespeare, inclusive nos sonetos, com uma permissividade que torna os polêmicos musicais dos anos 1960, como Hair ou Oh Calcutá, em divertimento infantojuvenil. Nos textos do bardo há mais permissividade do que imagina nossa vã filosofia (mais uma frase dele): sodomia, sexo oral, prostituição, homossexualismo masculino e feminino, sexo solitário, entre quatro paredes e na rua. Em Cibeline fala­se de masturbação e sexo oral, e o soneto 135 é uma ode ao próprio pênis. Uma palavra que William Shakespeare não inventou, nem empregava, era "puritanismo". 

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