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Bossa Nova Pernambucana, dos clubes aos festivais na TV

A cantora Zélia Barbosa só conseguiu gravar disco nos anos 70

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 24/07/2016 às 8:13
foto: (Arquivo JC)
A cantora Zélia Barbosa só conseguiu gravar disco nos anos 70 - FOTO: foto: (Arquivo JC)
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"Os que cantavam bossa nova no Recife, no começo, eram poucos. Tinha que aproveitar os que vinham de fora. Fiz por exemplo, várias entrevistas com Flora Purim, aquela que depois casou com Airto. Ela vinha muito aqui no Recife. João Gilberto veio, mas falei com ele ligeiramente. Fiz shows com Elis Regina com o Zimbo Trio, para o programa de Luiz Geraldo, na TV Jornal do Commercio. A bossa não pegou logo aqui, porque o pessoal tocava pra baile, alguns músicos pertenciam à Sinfônica do Recife. Eles só tocavam bossa mesmo nos festivais. Chagas, um contrabaixista da Orquestra Paraguassu da TV Jornal, tocava sempre, e em muitos grupos ". A história é contada pelo radialista, jornalista e desenhista Washington França, responsável pela produção de boa parte dos festivais de bossa nova na capital pernambucana na primeira metade dos anos 1960.

Quando a bossa nova passou a ser discutida, tornou­-se alvo de polêmicas na imprensa do Sudeste, e foi aceita pelos americanos, jovens músicos criaram trios, feito o Bossatrio, cujo pianista Ravini, era irmão de Bita, o lendário artilheiro do Náutico nos time do Hexa. Surgiram também os intérpretes. Zélia Barbosa estava no time de intérpretes da bossa, mesmo que confesse que não se sentiu arrebatada pela novidade.

"Eu participei do grupo Construção, mas não pertencia a ele. Comecei a cantar como todo mundo começa, nas Bandeirantes. Uma vez Alex, o cronista social, me viu cantar, gostou e comece­se a me apresentar no programa dele, A Hora do Coquetel, domingo à tarde. Aí fiquei conhecida, e acabei cantando no Teatro Popular do Nordeste (TPN), que era onde aconteciam os movimentos. Fui ficando e cantando", conta Zélia.

Ela participou de alguns dos principais musicais da época, dois deles passaram meses em cartaz, o Cantochão e o Paroli Paroliá, de Benjamin Santos, ao lado de José Fernandes e Paulo Guimarães. "Foi um espetáculo com muita música, mas a gente também representava. Naná também participou, foi quando conheci ele. Não tinha ainda o material que ele fez depois. O Paroli Paroliá Benjamin fez todo em versos, aí já havia chegado aqui Geraldo Azevedo, que participou", relembra Zélia Barbosa. Ela, como quase todos os nomes da cena musical pernambucana desta época não chegou à gravadora Rozenblit.

"Eles não se interessavam pela bossa que se fazia aqui, porque o negócio era ganhar dinheiro. Gravaram mais o pessoal do Sudeste", diz Washington França, que também foi divulgador da RGE, e manteve, no aeroporto, uma das lojas de discos frequentadas pelo pessoal que gostava de jazz e música brasileira moderna". Foi cogitado na época que um dos festivais que produziu (o II Festival da Bossa, no Canal 2) seria enviado à RCA para apreciação, ou talvez virasse LP com selo Mocambo, da Rozenblit: "Não aconteceu, e as fitas se perderam, talvez na cheia de 1975, não sei", diz Washington França.

Zélia Barbosa lembra que foi uma vez à Rozenblit: "O produtor Marcelo Santos me levou à Rozenblit, mas eles não estavam interessados no tipo de coisa que eu fazia. Outra moça gravou, com aquela música mais movimentada. Ela quase era gravada na Rozenblit, quando interpretou uma das canções vencedoras da Feira de Música, em 1967. Defendeu Chegança de Fim de Tarde, de Marcus Vinicius Andrade, que dividiu o primeiro lugar do estival com Aquela Rosa (Carlos Fernando e Geraldo Azevedo). A Rozenblit prometeu gravar um LP com as 12 finalistas, o que não aconteceu (a música seria lançada por Eliana Pittman, em 1968). Aquela Rosa, uma marcha de bloco seria gravad por Teca Calazans.

A citada Eliana, então fazendo bastante sucesso no Brasil, viu Geraldo Azevedo num show de Zélia Barbosa e convidou o jovem petrolinense para trabalhar com ela no Rio. A cena começou a definhar. Logo Naná Vasconcelos e o baiano Edy Souza, um dos seus mais atuantes cantores (que adotaria o nome de Edy Star) também foram para o Rio. Recital Zélia Barbosa foi o ultimo show que ela fez, em 1968, no TPN (que logo depois acabaria). Zelia Barbosa acabou gravando o primeiro LP na França, onde foi estudar canto. O raríssimo Brésil ­ Sertão & Favela (Chant du Monde) inédito no Brasil e produzido pelo violonista Turíbio Santos

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