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Jimi Hendrix, Eric Clapton e Jeff Beck com discos novos

50 anos atrás os três eram os deuses da guitarra do rock inglês

JOSÉ TELES
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Publicado em 04/10/2016 às 9:18
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Há 50 anos, três guitarristas destacavam­se na constelação de estrelas da swinging London: Jimi Hendrix, Eric Clapton e Jeff Beck. O primeiro estourava nas paradas com o primeiro single inglês, Hey Joe, o segundo deixou a banda de John Mayall e formou o Cream, com Ginger Baker e Jack Bruce, o terceiro saltava fora do Yardbirds e formava o Jeff Beck Group. Meio século depois, coincidentemente, a trinca está nas lojas com álbuns novos.

Machine Gun ­ The Fillmore East First Show 12/31/1969 (Sony Music/Legacy) é mais um álbum póstumo de Jimi Hendrix. Um show histórico, cujos registros, que já chegaram parcialmente ao disco, desta vez aparecem na íntegra. A data do show na capa é a da estreia de Jimi Hendrix com seu novo grupo Band of Gypsys, com apresentações que merecem o clichê de emblemáticas, numa casa não menos emblemática para a década, o Fillmore East, em Nova Iorque. Hendrix reprocessou a si mesmo, em meses de experiências no estúdio em NYC.

Os resultados da alquimia foram apresentados nos dois concertos do dia 31 de dezembro, e nos dois do dia 1° de janeiro de 1970. Ao crítico Al Aronowitz, ele confessou seu propósito: "Chão, bicho, chão. Quero trazer minha música de volta ao chão. Voltar ao blues, que é a minha". Estava com um disco engatilhado e com título definido, First Rays of the New Rising Sun (com várias faixas antecipadas nesses shows do Fillmore East). No entanto, na primeira sessão do dia 1º, ele saiu do palco para levar um esporro do irascível empresário Billy Graham: "Você fez tudo o que a plateia queria, usou a guitarra nas costas, com os dentes, brincou com ela. Só se esqueceu de uma coisa: tocar".

Na segunda apresentação daquele dia, Jimi Hendrix tocou. Se não foi seu show mais perfeito, está entre os melhores. Ele se despiu de todos os adereços e penduricalhos ripongas, incluindo a psicodelia (detestava que o chamassem de psicodélico) e fez música com extremo grau de pureza. Ao deixar o palco, no back stage, preparando­se para o bis, encarou o temível Graham: "E aí foi bom pra você, seu FDP? Posso ir embora agora?". Não foi logo embora, tinha ainda o bis. Voltou ao palco e fez com Buddy Miles e Billy Cox uma incendiária a avassaladora versão, com 15 minutos de Machine Gun. Quarenta e seis anos depois de sua morte, Hendrix ainda emociona e surpreende.

JEFF BECK

Guitarrista dos guitarristas, Beck é pouco lembrado pela mídia. Problemas com zumbido (causado pela excessiva exposição à alta dosagem de decibéis) fizeram com que mantivesse uma produção irregular desde os anos 80. Em seu novo álbum, Louder Hailer (megafone, no inglês da Inglaterra), ele está com o duo inglês Bones (Rosie Bones e Carmen Vanderberg). É o seu primeiro disco de estúdio em seis anos, e o primeiro em que o discreto guitarrista bota a boca no trombone, ou no megafone, em diatribes contra políticos, guerras, a cultura de celebridades, programas como Ídolos (do qual chegou a participar, e agora diz que 95% é de porcaria).

A música do disco foi composta quase toda com o Bones. Rosie Bones é a voz de todas as canções, como se Jeff fosse um convidado de luxo no disco.   Embora em grande forma, decepciona. Não pela performances, mas pela ausência de ousadia, que se prenuncia e não acontece. The Revolution Will Be Televised, um hard rock, abre o repertório, com vocal vociferado por Rosie Bones, a canção tem um belíssimo solo de Beck, porém um tratamento convencional, ao contrário da música de Gil Scott-­Heron, da qual o título foi parafraseado.

Não convencional é a desesperança explícita de Jeff Beck ao afirmar que não haverá revolução para ser televisionada. A produção, de Jeff Beck e Filippo Cimatti, foi feita no capricho, camadas sonoras encobrem rock e blues básicos, como Live in the Dark. Num livro recente sobre Beck, o contemporâneo John McLaughlin foi curto e grosso no elogio a ele: "É o melhor de todos". Para quem aprecia guitarras, e é fã do guitarrista, a faixa instrumental Pull it já vale o disco.

Os timbres que Jeff Beck extrai do instrumento são pessoais e intransferíveis. Loud Hailer merece três estrelas numa cotação de no máximo cinco. Jeff Beck continua devendo o álbum que é capaz de fazer com seu imenso talento.

 

ERIC CLAPTON

Eric Clapton já lançou disco este ano, I Still Do, bom pelas canções, não pela guitarra. Live in San Diego é um registro da turnê Road to Escondido, que realizou em 2006, com J.J. Cale. É praticamente um "Grandes Sucessos ao Vivo". O que o torna um pouco mais apetitoso são as participações de Dereck Truck (do Allman Brothers), do blueseiro Robert Cray, uma espécie de Paulinho da Viola do blues), e de J.J. Cale, um gênio subestimado da música americana. Não fosse, seria mais do mesmo. Um disco a mais numa discografia a qual há anos não é acrescentado nenhum disco realmente essencial.

 

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