Maria Bethânia, Chico Buarque, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Martinho da Vila, Fafá de Belém, Zizi Possi, Emílio Santiago, Sérgio Reis, Amelinha, Fagner, Ivete Sangalo, Xuxa, Fagner, Chiclete com Banana, Leandro e Leonardo, Netinho, Fábio Júnior. Esses são alguns do artistas que já gravaram o ipojucano Fernando Manoel Correia, Nando Cordel, um dos mais bemsucedidos compositores pernambucanos de música popular.
No entanto, apesar das mais de mil canções gravadas, e outro tanto na gaveta, há dez anos Nando Cordel não se apresenta no Recife com um show solo. Uma ausência que terminará sábado, no Teatro RioMar, com o show Nando Cordel De Volta pro Aconchego, em que ele fará uma retrospectiva com parte dos seus muitos sucessos, já embalados numa recém-lançada coletânea com 16 faixas, como a que dá título ao show, Gostoso Demais (com Dominguinhos) ou Você Endoideceu Meu Coração.
Nando Cordel nunca mais incluiu a capital pernambucana em sua agenda por um motivo simples: "Faço o Brasil inteiro, sempre de casa lotada. Quando fazia aí no Recife, precisava de um trabalho pesado para trazer as pessoas, então fui deixando de lado, pois tenho uma agenda grande fora daqui. Amo a cidade, porém mais pra morar. Não sei bem porque isto acontece, porque as pessoas gostam de mim, talvez seja esta coisa de shows do governo que demoram a pagar ou de tantos artistas cantando em show abertos, não sei bem", comenta Nando Cordel, em entrevista, por telefone, de São Paulo, onde mora a maior parte do tempo.
Outra coisa que ele acha que restringe seu trabalho no Recife é o enquadramento como forrozeiro. "Isto só acontece aí. Não que me incomode que me chamem de forrozeiro, mas aconteceu que o forró é apenas uma pequena parte da minha música, faço muito mais MPB", comenta o compositor conhecido pela forma compulsiva como cria música. "Continuo fazendo música demais, inclusive quando vou aí pro Recife é quando mais componho. Voltei hoje da Festa Nacional da Música, que aconteceu em Porto Alegre e da qual sou um dos diretores. Um trabalho cansativo, com cem artistas, muitos produtores. Desta feira eu saí com a encomenda de umas cinquenta músicas. Encontrei muita gente, Alcione, Elba, e todos me pedem música nova".
ARTESÃO
Nando Cordel é um artesão da música. Pelos nomes de quem o gravou dá para entender que consegue compor tanto movido a inspiração pura quanto por encomenda, preservando a qualidade e marcando a música com seu estilo pessoal. Tanto pode compor um disco inteiro de mantras, quanto duas dezenas de com música instrumental para meditação. Um bom exemplo desse dom está no trabalho que fez para a apresentadora Xuxa Meneghel, para quem criou a música de abertura das edições do Show da Xuxa na Argentina e na Espanha: "Conheci Xuxa quando minha gravadora me escalou para me apresentar no programa dela. Ficamos muito amigos ao ponto de eu fazer turnês com ela. No show, tinha uma abertura pra mim, eu cantava durante vinte minutos", conta Nando.
Os sucessos dele com Xuxa foram muitos, alguns tocam até hoje, como Hoje É Dia de Folia, que foi composto originalmente para o Carnaval pernambucano: "Tocou bastante no Recife, mas não recebi nada. Fiz também Quero Mais pro Carnaval, um frevo, mas a maioria das festas e das rádios não pagam direitos autorais. Não que vou deixar de fazer frevo por causa disto. Tenho vontade de fazer outros, porque gosto".
A disponibilidade para compor para artistas de todos os nichos levou também Nando Cordel a ser ouvido por todas as classes sociais. Foi gravado por Peninha e Chico Buarque, Chiclete com Banana e Luiz Gonzaga. Na citada Festa da Música prometeu compor uma canção para a dupla Chitãozinho & Xororó. Tantas gravações fazem de Nando Cordel um dos grandes arrecadadores de direitos autorais do País. "Mas não é fácil no Brasil. Ganho bem pelo volume de composições. Grande parte dos que devem não pagam direitos. Briguei tanto com o Ecad que acabei amigo do pessoal de lá", diz o artista ipojucano, que tem algumas canções intensamente gravadas, como é o caso de Isto Aqui Tá Bom Demais, mais conhecida no dueto de Dominguinhos com Chico Buarque, mas que, além de ter sido gravada por dezenas de cantores, foi incorporada ao repertório de quase tudo que é de forrozeiro.
Aliás, mesmo não sendo do forró em tempo integral, Nando Cordel está na história da música nordestina, tendo sido gravado por Marinês, Dominguinhos, Trio Nordestino e Genival Lacerda.
SORTE
Nascido numa família numerosa (os pais tiveram uma dúzia de filhos), Nando Cordel deu sorte com a música. Embora a primeira composição que fez quase o levou a achar que não tinha queda para ofício: "Eu tocava uns poucos acordes no violão e um cara me aconselhou que eu deveria fazer música. Compus uma chamada O Rato, gíria naquela tempo pra fome, pra situação difícil. A música era horrível, uma MPB, cheia de acordes perfeitos, mas muito ruim, nunca foi gravada", conta.
Anos mais tarde, estava em São Paulo, dando duro, mas com dificuldade em gravar ou ser gravado. "Minha música é uma coisa muito particular, tinha umas letras que as pessoas estranhavam, uns acordes complicados. Então em 1982, chegou no Brasil a Ariola, contratou todo mundo. Chico Buarque, Moraes Moreira, Alceu Valença, um monte de gente foi para Ariola e eu fui na leva, gravei o primeiro LP, era um tempo de jabá brabo, os divulgadores levavam as músicas no rádio e elas tocavam mesmo. Estourei com Flor de Cheiro, porém aqui em São Paulo, em Minas. No Recife não tocou muito", relembra Nando.
Há seis anos sem lançar disco de inéditas, ele tem um repertório montado para gravar um álbum em 2017. Sobre a citada coletânea que lançou recentemente, ressalta que só tem uma música inédita, Coisa Linda, que abre o disco: "Não é nada novo, fiz porque as pessoas estavam chiando porque eu não lançava nada novo. Estou com músicas prontas para o próximo disco, com este pretendo abrir novos caminhos".
SHOW
São histórias assim que Nando Cordel conta no show, entre uma e outra canção: "Canto com banda, mas no formato acústico. Será um show mais pro lado da alegria, às vezes abro pra cantar só voz e violão, vou interagir com a plateia, alguém pode falar uma música e eu conto como surgiu essa música".
Show De Volta pro Aconchego, com Nando Cordel e banda, sábado, 21h, no Teatro RioMar. Ingressos: R$ 120 e R$ 100 fone: 3361536