Carnaval

Alceu Valença hoje vai de frevo, maracatu, ciranda e caboclinho

Cantor levará o carnaval pernambucano também para São Paulo

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 10/02/2017 às 7:58
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Cantor levará o carnaval pernambucano também para São Paulo - FOTO: foto: Acervo JC imagem
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É tamanha a variedade musical do propalado Carnaval multicultural do Estado, que soa até estranho um cantor anunciar que vai se apresentar com um repertório composto de gêneros pernambucanos. É o que faz Alceu Valença, que pela primeira vez canta na prévia do bloco Enquanto Isso na Sala da Justiça, nesta sexta-feira (10), no Centro de Convenções.

"Vou levar o Carnaval pernambucano, com os frevos, maracatus para São Paulo, como tenho feito há três anos, com o bloco Bicho Maluco Beleza. Não tenho nada contra axé, samba, mas levo o Carnaval de Pernambuco. Em Pernambuco, eu canto as músicas de Pernambuco. Os gênero musicais de Pernambuco. Eu fiz o Vivo/Revivo, mas aquilo é outro tipo de música. No período momesco procuro respeitar a tradição da festa, porém fazendo uma coisa mais contemporânea. Não vou fazer, por exemplo, um frevo­reggae. Frevo é frevo, reggae é reggae. No São João eu canto forró, em festivais de rock eu canto a música que chamam de psicodélica, que não tem nada a ver com psicodélico, é a minha música", diz o cantor, que detém um dos mais bem-­sucedidos repertórios de frevos­canções entre os artistas pernambucanos.

Dia 18, como aconteceu nos anos anteriores, ele arrasta uma multidão com o bloco Bicho Maluco Beleza, que sai do Parque Ibirapuera, em São Paulo, cantando frevos, maracatus, cirandas e caboclinhos. A expectativa é de que 50 mil pessoas participem do desfile, boa parte delas de jovens, faixa etária que, supostamente, aprecia mais axé, sertanejo, rock, do que ritmos originados na chamada cultura popular: "Esta conversa de jovem é uma mentira que inventaram para não deixar muito claro que entretenimento acaba com a gente. Quando vim de São Bento do Una, com nove anos de idade, quando cantava Luiz Gonzaga, diziam que era música de velho.

Quando se diz que o frevo é coisa de velho, eu digo que rock é coisa de velho. Acredito que até pra dançar, frevo é mais difícil do que rock, tem que dar aqueles pulos. Não é coisa de velho. A justificativa da destruição da nossa cultura tem muito a ver com esta coisa de jovem, Ah, o jovem gosta. Pois bem, cadê Cely Campelo, cadê a música Oh Carol? Mas Luiz Gonzaga está aí. Estas armadilhas do entretenimento estão destruindo a gente", rebate Alceu.

Ele vai cantar o lado carnavalesco de sua obra, músicas que tiveram vez no rádio. Não foram poucas, Me Segura Senão Eu Caio, Vampira, Bom Demais, Diabo Louro (as quatro de J. Michiles), Roda e Avisa (Edson Rodrigues/J.Michiles), O Homem da Meia Noite (com Carlos Fernando), Pitomba, Pitombeira (Carlos Fernando), Voltei Recife (Luiz Bandeira). Incursões mais recentes por maracatus e frevos não fizeram o mesmo sucesso. É cada vez mais difícil emplacar uma música:

 "Até bem pouco tempo tomou conta o negócio do sertanejo, porque eles dominavam as rádios, o interior tudo. Agora ninguém domina nada. As músicas que foram sucesso se eternizaram. Estou lendo um livro sobre o fim do hit. A fidelização das músicas é muito mais difícil". De Amigo da Arte (2014), seu único disco que pode ser enquadrado como carnavalesco, nenhuma faixa pegou. O álbum tem frevos extremamente radiofônicos, como o frevo canção

Frevo da Lua (com Gabriel Moura e Maurício Oliveira), ou o frevo de bloco Pirata José: "Elas vão pegando aos poucos, através do público que via os shows, o rádio não toca mais. Tocam sempre as mesmas músicas antigas, e só no tempo do Carnaval, porque não tocam as novas, que não ficam conhecidas".

Ele não tinha se decidido, ainda, se terão metais no grupo que o acompanhará amanhã: "Estava pensando em fazer de outra maneira, com outro timbre. Não é o metal que vai dizer que é frevo. É a harmonia a melodia e o ritmo", retruca, cantarolando Sou Eu teu Amor, de Carlos Fernando, que gravou usando uma sanfona harmonizando:

"A sanfona é pra forró? Nem sempre. Tem vários tipos de sanfona, tem a italiana, a francesa, tem uma que toca frevo. Se você pegar uma música de Roberto Carlos, botar metais, arranjar e disser que é frevo, não é. Não tem nada a ver. Vou cantar Bicho Maluco Beleza, Diabo Louro, músicas que são absolutamente de Carnaval. No meu DVD, tem frevo só tocado por cordas. Quando eu pego minha música, boto um pífano, uma guitarra, estou fazendo o que Luiz Gonzaga disse pra mim, (imita a voz de Gonzaga), ?isto é uma banda de piano elétrico. Só que o povo dizia que era rock and roll, pelo fato da guitarra ter uma distorção, a pitadade estrangeiro eu boto só pra envenenar?."

O que Alceu, um inveterado folião, lamenta é o seu Carnaval agora se limitar apenas aos palcos: "Para o artista hoje é muito complicado sair à rua. Cavalo de Pau vendeu dois milhões. Eu estava neste momento de Cavalo de Pau, fui passar o Carnaval em Olinda. Vestia uma fantasia, mas mostrando a minha cara, e saía para a festa. Ninguém me parava pra tirar foto. Já pra turma que me curtia, era cafona pedir autógrafo. Hoje se o artista botar o pé na rua, é com foto, foto, foto. Então, artista em Carnaval virou o cara do palco, não dá mais para andar na rua. Estou fazendo um roteiro para um documentário sobre Carnaval, e vai ter esta situação

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