Em 5 de janeiro do próximo ano, o Maracatu Cambinda Brasileira, criado por trabalhadores canavieiros do Engenho Cumbe, em Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte, completa um século de atividades. Um feito e, também, um mistério. “Nossa pergunta central era conseguir entender como é que um maracatu, importante e forte como alguns outros que deixaram de existir ao longo das décadas, consegue chegar a um século de existência mesmo diante de crises de várias naturezas e de perseguições sofridas durante a história”, diz o fotógrafo Heudes Regis que, ao lado da pesquisadora e jornalista Adriana Guarda, ambos profissionais da redação do Jornal do Commercio, encampam um projeto para entender, apresentar e preservar a memória do maracatu além de sua imagem carnavalesca mais óbvia.
De baque solto, também chamado maracatu rural, a agremiação é objeto do projeto Não Deixem o Brinquedo Morrer: Memórias dos 100 anos do Cambinda Brasileira. O estudo sobre os processos de transmissão de herança cultural dentro do maracatu será materializado numa série de textos, entrevistas, ensaios fotográficos. Toda semana um vídeo será publicado no site www.naodeixemobrinquedomorrer.wordpress.com; no Instagram e na página oficial do Facebook. Nesta quarta-feira (1), o vídeo vai mostrar o processo de preparação espiritual do caboclo de lança do Cambinda.
Toda a história do Cambinda Brasileira, como de regra a dos demais maracatus antigos do estudo, é repassada e preservada pela tradição oral. Neste caso, pelos descendentes do brincante João Padre – seus filhos Antônio, José e João Estevão. O projeto tem o mérito, a priori, de construir uma historiografia mais oficial ao organizar as narrativas, trajetórias e dinâmicas da agremiação. A cada semana, é publicado um novo produto do projeto. “Como toda a memória deles é baseada na história oral, o projeto cumpre também o papel de fazer o registro da trajetória, promovendo a salvaguarda da memória”, comenta Adriana Guarda. “A gente já tinha ido fazer coberturas jornalísticas dos encontros de maracatus em dois anos, e ficamos afim de descobrir os bastidores da festa e saber como funcionava o maracatu no dia a dia, o que as pessoas não veem nas apresentações”, diz.
A ideia é, sobretudo, mostrar o Cambinda Brasileira além da imagem mais óbvia dos desfiles de Carnaval. “É um recorte de cobertura que não se pauta apenas pelo Carnaval, mas aborda os bastidores do baque solto e como funciona essa máquina de fazer maracatu desfilar”, diz Adriana. Iniciado em 2015, o estudo conta com financiamento do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura).
As abordagens compõem um mosaico no sentido da complexidade do maracatu rural: a religiosidade do maracatu de baque solto, a organização socioeconômica da agremiação, o processo de reconhecimento do baque solto como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as mudanças e conflitos enfrentadas pelo brinquedo ao longo das décadas. Humanizando a história, alguns personagens fundamentais do processo são apresentados, como o jovem mestre Anderson e o presidente do maracatu Elex Miguel.
Durante as comemorações do centenário, o projeto será marcado com o lançamento de uma revista e rodas de debates. A edição concentrará o extrato de entrevistas e textos. Os 500 exemplares serão distribuídos em 194 escolas municipais e estaduais da Região Metropolitana do Recife e Zona da Mata Norte do Estado.
SERVIÇO:
Projeto Não deixem o brinquedo morrer: Memórias dos 100 anos do Cambinda Brasileira. No blog naodeixemobrinquedomorrer.wordpress.com; na página oficial do Facebook e no Instagram