Além de Anitta e Pabllo Vittar, outra artista brasileira tem motivos de sobra para celebrar as conquistas de 2017: Maria Odete Brito de Miranda, a eterna Gretchen. Ícone do rebolado nos anos 1970 e 1980, ela viu sua popularidade renascer graças à internet. Milhares de memes com suas caras e bocas ganharam o mundo chamando a atenção de artistas como Nicki Minaj e, principalmente, Katy Perry, que convidou a brasileira para estrelar o lyric video (espécie de clipe karaokê, para ensinar a letra da canção) de Swish Swish. Surfando nessa onda, a Rainha do Rebolado acaba de lançar a coletânea The Queen, primeiro fruto de sua parceria com a gravadora Universal Music.
Dona dos inescapáveis hits kitsch Conga, Conga, Conga, Melô do Piripipi (Je Suis La Femme) e Freak Le Boom Boom, Gretchen sempre foi uma figura que cativou mais por seu carisma do que por sua habilidade vocal. Aliás, como em alguns outros artistas pop, há uma espécie de mítica que parece transcender a música, ao mesmo tempo em que adiciona a ela.
Gretchen era uma das mulheres mais desejadas do país e ainda assim parecia nunca se encontrar no amor. Foram 17 casamentos, amplamente midiatizados, participações em programas de gosto duvidoso, apresentações em circos do interior, quando a idade passou a fechar certas portas, uma candidatura frustrada à Prefeitura de Itamaracá. A jornada de Maria Odete é intensa, como mostrou o documentário Gretchen Filme Estrada (2010), de Eliane Brum.
Foram anos em uma espécie de ostracismo que, surpreendentemente, ela quebrou em 2017. O caminho foi tortuoso e, ao mesmo tempo, a cara da contemporaneidade. Imagens suas viraram memes – muitas vezes cheios de “matações” – que rapidamente se espalharam na internet. No começo, Gretchen odiava. Achava um desrespeito, como já falou em entrevistas. Não demorou, no entanto, pare o que era ódio se transformar em fascínio (se bem que, o ódio não deixa de ser uma forma de obsessão). A artista, então, abraçou seu posto como Rainha dos Memes e foi abraçada pela comunidade LGBT.
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Catalizando o novo impulso na carreira de Gretchen, o lyric video Swish Swish já acumula 75 milhões de visualizações. Nele, a cantora aparece fazendo suas caras e bocas já com o traquejo de quem sabe o que vai viralizar. Quando questionada sobre a razão de ter chamado a brasileira para estrelar a produção, Katy Perry explicou que queria um vídeo com a cara da internet. “Ela é maravilhosa, ela é icônica, ela é a internet”, afirmou a popstar americana.
Após o clipe, Gretchen viu seu cachê pular de R$ 8 mil para R$ 25 mil. Assinou, ainda, com o Multishow para estrelar um reality show com sua família, incluindo o filho Thammy, que já está sendo gravado, inclusive com cenas no Recife. O contrato com a Universal Music, dona do acervo da extinta Copacabana, que lançou Gretchen em 1978, é mais uma forma de manter vivo esse legado que já atravessa quatro décadas.
COLETÂNEA
Além dos maiores sucessos da cantora, como as faixas já citadas e ainda Dance With Me, I Love You, Je T’Aime e Quiero Ser Libre, a coletânea contém a inédita Falsa Fada, um arrocha produzido por Rody Martins. A faixa é totalmente Gretchen: simples ao extremo, pegajosa, non sense e feita para dançar “na greia”.
Se a internet hoje pauta nossas discussões e memes surgem e desaparecem com a mesma velocidade, Gretchen, aos 58 anos, parece ter sintetizado o zeitgeist e decodificado, mais uma vez, o segredo para se manter relevante. Não se leva a sério demais, entende que pode escrever sua própria narrativa – e que ela também será reescrita. Enquanto isso, continua a rebolar.