Os vestígios arqueológicos de Al Ula, em meio ao imenso deserto do noroeste da Arábia Saudita, estão mergulhados em uma letargia da qual vão emergir, graças a um megaprojeto de desenvolvimento. A Arábia Saudita e a França assinaram na terça-feira (10), por ocasião da visita a Paris do príncipe-herdeiro Mohamed bin Salman, um acordo para o desenvolvimento turístico e cultural da região, rica em ruínas da época dos Nabateus e em paisagens de tirar o fôlego.
A localidade de Al Ula é considerada um tesouro, especialmente agora que o reino quer conceder, pela primeira vez, vistos turísticos com o objetivo de aumentar consideravelmente o número de visitantes estrangeiros.
"Toda Al Ula é um museu a céu aberto", explica o guia Bandar al Anazi, durante uma viagem para jornalistas, organizada para coincidir com a visita do príncipe-herdeiro à França.
"Há tanta história aqui esperando para ser revelada", afirma, mostrando tumbas talhadas na rocha com nichos para os sepultamentos.
As tumbas, algumas com inscrições pré-islâmicas e desenhos como cenas de caça, são uma herança da tradição artística nabateia. A arte rupestre talhada poderia ajudar a elucidar os mistérios de quase 4.000 anos de civilização na península arábica.
Potencial infinito
A região, do tamanho da Bélgica, foi local de passagem para as caravanas e de abastecimento de água potável na rota comercial entre a península arábica, o norte da África e a Índia.
Abriga a primeira jazida arqueológica do reino incluída no Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco: Madain Saleh, construída há mais de 2.000 anos pelos nabateus, um povo árabe dedicado ao comércio e que viveu no sul da Jordânia e ao norte da atual Arábia.
De fato, compara-se às ruínas de Petra, na Jordânia. "A cada dia, descobrimos algo novo", afirma à AFP Jamie Quartermaine, especialista do grupo britânico Oxford Archaeology. "O potencial é infinito".
Sobrevoando a região de helicóptero, vê-se uma paisagem de montanhas, desfiladeiros, labirintos rochosos e areia até perder de vista.
A cidade fortificada de Al Ula, com suas casas de adobe e pedra, será restaurada em colaboração com a França e serão registrados todos os seus tesouros arqueológicos, explica Amr al Madani, diretor-geral da Comissão Real saudita para Al Ula.
O acordo franco-saudita, com dez anos de duração, prevê a criação de uma agência baseada no modelo da que gerenciou a criação do Louvre de Abu Dhabi, inaugurado em novembro, afirma Gérard Mestrallet, presidente do conselho administrativo do grupo energético Engie e enviado especial do chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, a Al Ula.
Turismo
Segundo ele, trata-se de um acordo "sem precedentes", que cobre vários âmbitos: arqueologia, oferta cultural e artística, infraestrutura, energia, transporte, formação e "tudo quanto a França possa oferecer em termos de valorização do patrimônio".
A agência será financiada com capital saudita, mas o aporte é desconhecido.
Em Al Ula, a 1.100 km de Riad, será criado um museu, um centro de pesquisa histórica e arqueológica. Um total de 150 estudantes, metade deles mulheres, será formada em turismo e cultura. Os primeiros turistas poderão chegar à região "dentro de 3 a 5 anos", segundo Amr al Madani.
Uma vez equipada, a região, que já dispõe de aeroporto, deve poder receber entre 1,5 e 2,5 milhões de visitantes ao ano, respeitando o meio ambiente e as normas de desenvolvimento sustentável, segundo o encarregado saudita.
O príncipe-herdeiro saudita Mohamed bin Salman foi fotografado durante férias em Al Ula, parte dos tesouros arqueológicos quase esquecidos até o movimento de abertura, empreendido por ele.
O turismo é um eixo central de um programa de reformas que visa a reduzir a dependência saudita do petróleo. Este programa está acompanhado de uma política de abertura lançada pelo príncipe, que dá às mulheres o direito de dirigir, autoriza os shows e os cinemas e afrouxa o cerco imposto pelos conservadores em vários aspectos da vida cotidiana.