Ele ficou ferido várias vezes e foi feito prisioneiro tanto pelo governo sírio como pelo grupo Estado Islâmico. Mas nada disso foi suficiente para fazer Karam al-Masri desistir de seu objetivo: estar na zona de conflito para fazer seu trabalho, que é registrar os horrores de uma guerra.
O jovem repórter fotográfico, que recebe nesta quinta-feira (9) o prestigioso prêmio Knight International Journalism Award, em Washington, mostrou ao mundo o processo de destruição de sua cidade natal, Aleppo, primeiro através do seu telefone celular e depois como fotógrafo para a AFP.
Quando Damasco reprimiu brutalmente as manifestações de 2011, o país mergulhou em uma guerra civil, que tirou quase tudo de Masri, menos sua vida. "Durante todos estes anos, perdi muitos amigos e parentes", diz.
"Praticamente perdi tudo, meu futuro, minha família, tudo".
Mas "eu amo Alepo", disse, quando perguntado porque permaneceu lá por tanto tempo. Um peixe não sobreviveria fora d'água, explicou em seu árabe nativo.
Em dezembro de 2016, finalmente se deu por vencido e abandonou sua querida cidade, depois de vários dias marcados pelos disparos de franco-atiradores e bombardeios, durante os quais perdeu uma câmera preciosa.
Antes da guerra, Masri tinha pouca experiência como fotógrafo, e se conformava em imortalizar alguns eventos familiares, como aniversários e formaturas, com uma câmera velha.
No início, ele usava um telefone para tirar fotos do conflito e publicá-las nas mídias sociais. Mais tarde, comprou uma câmera, e em 2013 começou a trabalhar para a AFP.
"Não havia jornalistas estrangeiros, não havia fotógrafos, não havia nada", disse, quando questionado sobre o que o motivou a documentar o conflito.
Os jornalistas estrangeiros então chegaram em massa, mas depois pararam de ir às zonas rebeldes de Aleppo, por medo de sequestros e outros perigos. Mas Masri continuou.
Grande parte de seu trabalho se concentrou na devastação causada pela guerra: os edifícios demolidos, as ruas destruídas e os mortos. Mas ele também cobriu outros aspectos do conflito, como a fome e a falta de combustíveis.
Foi detido duas vezes: durante um mês pelas forças do regime de Bashar al Assad, e por seis meses pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Também ficou gravemente ferido duas vezes, primeiro na perna e depois na mão. Sua primeira lesão lhe impediu de caminhar durante quatro meses, e a segunda quase o impossibilitou de fazer seu trabalho, mas ele continuou fotografando como uma só mão.
Agora, aos 26 anos, Karam al-Masri vive e trabalha em Paris, mas na sua cabeça nada pode substituir aquela missão. "Quero voltar ao terreno, me sinto útil nessas zonas. Quero mostrar a verdade".