A direção do Museu Nacional trabalha para incluir no Orçamento da União de 2019 uma previsão de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões para iniciar a reconstrução do Palácio de São Cristóvão, destruído por um incêndio no dia 2 de setembro deste ano. Em entrevista coletiva na manhã de hoje (2), um mês após o desastre, o diretor do museu, Alexander Kellner, disse que os recursos seriam o primeiro passo para que o museu possa ser reaberto em no mínimo três anos.
"Estamos junto ao Congresso Nacional vendo a possibilidade de uma dotação orçamentária que seja impositiva e que nos permita pelo menos fazer uma primeira obra de infraestrutura. Paredes, teto e coisas assim", disse Kellner, ressaltando que tal valor não inclui a restauração de detalhes internos mais específicos e abarca toda a parte externa.
Pesquisadores, servidores e estudantes do museu fizeram um abraço hoje para marcar um mês do incêndio que destruiu um rico acervo que incluía coleções científicas conservadas e estudadas pelos Departamentos de Antropologia, Botânica, Entomologia, Invertebrados, Vertebrados e Geologia e Paleontologia.
A reconstrução do prédio depende de um desenho de como será o Museu Nacional do futuro. "Precisamos entender o que vai ser esse novo prédio. Que tipo de sistema de segurança? Vou manter espaços vazios altos ou usar mais lajes?', questiona Kellner.
A direção pretende manter o caráter histórico do palácio e preservar também sua tradição de exposições ligadas à história natural, mas precisará discutir o que será restaurado e o que precisará ser modernizado. O palácio foi residência de dom João VI quando a família real portuguesa veio para o Brasil e abrigou também a família imperial brasileira. O prédio foi construído para ser uma residência e só se tornou museu após a Proclamação da República. Antes de se mudar para o palácio, o Museu Nacional funcionava no centro do Rio, na Praça da República.
"De uma certa forma, nós prejudicávamos o prédio, e ele nos prejudicava", resumiu Alexander Kellner. Ele disse que o Ministério da Educação deve destinar R$ 5 milhões para a elaboração de um projeto executivo, que será feito em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Enquanto essas ações não começam, a empresa Concrejato foi contratada para escorar e cobrir a estrutura que restou do incêndio. A obra começou em 21 de setembro e tem prazo de seis meses para ser concluída. Com o escoramento, não haverá mais risco de desabamento e poderá ter início o trabalho de recuperação do acervo que foi soterrado pelos escombros e queimado no incêndio. Pesquisadores mantêm a expectativa de que parte dos itens pode ter sobrevivido à tragédia. Já a cobertura é necessária para proteger essas peças da chuva.
O trabalho de resgate do acervo poderá começar antes da conclusão da obra, já que os técnicos da empresa e a direção do museu conversam para liberar parcialmente algumas áreas à medida que o escoramento avance.
Financiamento coletivo
Outra ação em curso é o recebimento de doações por meio de uma campanha de financiamento coletivo para retomar as atividades educativas do museu. Com meta de R$ 50 mil, a instituição pretende restaurar seu acervo didático para levá-lo a escolas do Rio de Janeiro.
Segundo a direção do Museu Nacional, cerca de 20 mil estudantes de 600 escolas visitavam a instituição a cada ano.
Caso as doações somem R$ 300 mil, o museu pretende construir um espaço de exposição no Horto Botânico, área anexa da entidade que não foi afetada pelo incêndio. No local, seria possível voltar a receber as escolas antes que o museu fosse reconstruído.