OBRA

Panamá quer que novo Canal apague sua imagem de paraíso fiscal

O novo Canal inaugurado neste domingo (26) permitirá que buques de até 14.000 contêineres, o triplo de sua capacidade atual, possam atravessar seus 80 quilômetros entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe

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Publicado em 24/06/2016 às 16:03
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O novo Canal inaugurado neste domingo (26) permitirá que buques de até 14.000 contêineres, o triplo de sua capacidade atual, possam atravessar seus 80 quilômetros entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe - FOTO: Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP
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O ampliado Canal do Panamá, que será inaugurado no domingo (26), permitirá que país apague sua imagem de paraíso fiscal com uma mega-obra por onde poderão passar os maiores buques portadores de contêineres, disse à AFP o administrador do canal, Jorge Quijano.

"Ampliamos essa maravilha", afirmou Quijano, exultante sobre o Canal após a gigantesca obra iniciada em 2007 para acrescentar uma terceira via às duas originais.

"Este é um grande passo para um país pequeno e isso é que nos enche de orgulho, o que pudemos fazer", acrescentou em entrevista.

O novo Canal inaugurado neste domingo (26) permitirá que buques de até 14.000 contêineres, o triplo de sua capacidade atual, possam atravessar seus 80 quilômetros entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe.

A inauguração acontece com a reputação do Panamá como importante centro financeiro internacional sendo questionada após a divulgação dos chamados "Panama Papers". Esses documentos mostraram como um escritório de advocacia panamenho criava sociedades fachada que permitiam que políticos e celebridades do mundo inteiro conseguissem driblar os impostos de seus países.

"Estamos mostrando a cara real do panamenho ao mundo e isso deverá ter um efeito positivo sobre a imagem do país a essas adversidades que temos passado", afirmou.

Quijano, que trabalha no Canal desde 1975, conhece como ninguém o projeto de ampliação.

"Entre 97% e 98% da frota de buques portadores contêineres que estão ali fora movendo mercadoria cabe nas novas esclusas do Canal. E com isso nós vamos fazer um bom negócio", disse.

O projeto consiste na construção de uma terceira via para novos buques neopanamax, equivalentes a quatro campos de futebol.

Segundo o consórcio responsável pelas obras, foram utilizados 2,5 vezes mais concreto do que na pirâmide de Keops e uma quantidade de aço equivalente a 20 torres Eiffel em Paris.

Para Quijano as esclusas do novo Canal são as mais complexas do mundo.

- O negócio -

"Os principais aumentos que vamos ver através da ampliação são no manejo de porta-contêineres, gás liquefeito de petróleo e gás natural liquefeito", explicou Quijano.

Com o Canal ampliado, o Estado panamenho pretende em uma década triplicar o valor de 1 bilhão de dólares recebidos anualmente pelo pedágio das embarcações.

"No primeiro ano de operações é muito possível que a gente chegue a aportes de 1,4 ou 1,5 bilhão de dólares, que pouco a pouco irá aumentando", disse.

"Entretanto, isso dependerá do crescimento dos países que abastecem o Canal do Panamá", disse o engenheiro industrial.

Ele estima que o novo Canal permitirá duplicar em uma década os mais de 300 milhões de toneladas de carga que passam anualmente pela via e baixar "significativamente" o custo, porque serão necessárias menos viagens para o trânsito de mercadorias.

Quijano disse que, com a ampliação, o Panamá espera recuperar "uma boa porção" do negócio que migrou para o Canal de Suez, porque a rota panamenha permite um economia de 15 dias para os buques que vão da Ásia para a costa leste dos Estados Unidos.

"Essa é uma economia muito significativa agora que estamos conscientes da proteção do meio ambiente, porque também são menos emissões poluentes", argumentou Quijano.

- Mais caro do que o previsto -

A ampliação não foi um mar de rosas. Sua inauguração acontece com 20 meses de atraso e seu custo inicial, de 5,25 bilhões de dólares, já foi ultrapassado em 200 milhões por reivindicações do consórcio Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), principal contratista.

"Quando somamos tudo dá 5,45 milhões de dólares de dólares, com a projeção dos pagamentos que faremos ao GUPC e deixando pendente maiores reivindicações que eles têm por resolver", afirmou Quijano.

O administrador do Canal panamenho lembra com certa amargura que o GUPC, liderado pela espanhola Sacyr e pela italiana Salini Impregilio, paralisou a obra em 2014 por denúncias de custos maiores, que agora ultrapassam 3,5 bilhões de dólares.

"Eu nunca tive dúvida de que a obra iria terminar, o problema era quando". "Mas a história nos deu a razão e a satisfação de ver a obra praticamente concluída", revelou Quijano.

Pelo Canal de Panamá, inaugurado en 1914, passam 5% do comércio marítimo mundial. Seus principais usuários são Estados Unidos e China.

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