O governo espanhol aprovou nesta sexta-feira (6) a facilitação da saída de empresas de Catalunha, aumentando a pressão sobre as pretensões separatistas catalãs, embora tenha abaixado o tom, pedindo desculpas pelos feridos no referendo de domingo (1º).
No plano judicial, o comandante da polícia catalã, uma subalterna e dois líderes separatistas foram chamados a depor por suspeita de secessão à Audiência Nacional, que não ordenou prisão preventiva contra eles.
O ministério da Economia do governo de Mariano Rajoy adotou um decreto que facilita que as empresas catalãs, preocupadas por uma possível declaração de independência, tirem sua sede social da região, como já fizeram nas últimas horas o Banco Sabadell, a empresa têxtil Dogi e a Gas Natural.
Em um comunicado, o ministério da Economia indicou que o decreto responde "à demanda de amplos setores empresariais diante das dificuldades surgidas para o normal desenvolvimento de sua atividade em uma parte do território nacional".
Nesta sexta-feira o Caixabank, maior banco catalão e terceiro nacional, fará uma reunião para avaliar se faz o mesmo que o Sabadell, que anunciou na quinta-feira a retirada de sua sede social da Catalunha, embora o anúncio da decisão possa ser adiado porque o decreto do governo que facilita sua partida não será publicado até segunda-feira.
A fuga de empresas aumenta a preocupação entre uma sociedade catalã profundamente dividida pela aposta separatista, cuja escalada jogou a Espanha em sua pior crise política da era democrática.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que a tensão "poderia pesar na confiança e nos investimentos" da economia espanhola, a quarta da zona do euro.
Apesar disso, "a previsão para a economia espanhola é robusta", e se mantém em um crescimento de 3,1% para este ano, apontou Andrea Schaechter, a chefe da missão do FMI na Espanha, ao apresentar um informe sobre a situação do país.
'Desculpas' pelos feridos e pedido de eleições
Em Barcelona, o delegado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo, pediu desculpas pelos feridos causados pela polícia para tentar de impedir o referendo.
"Quando vi essas imagens, e sei que há gente que foi golpeada e empurrada, inclusive há uma pessoa que ainda está hospitalizada, não pude fazer nada mais do que lamentar, pedir desculpas em nome dos agentes", disse Millo em uma entrevista na televisão pública catalã TV3.
"Estou muito triste, muito, lamento profundamente que tenhamos chegado a essa situação, foi muito duro tudo o que vivemos e vimos nesses dias", acrescentou.
Pelo lado do governo catalão, o responsável pela Empresa Santi Vila -uma figura moderada- pediu um "cessar-fogo" com o executivo central de Mariano Rajoy, e propôs prorrogar a declaração de independência da Catalunha em troca de não suspender a autonomia regional.
Até o momento, e depois do referendo de domingo, o governo catalão de Carles Puigdemont não voltou atrás em seu plano de declarar unilateralmente a independência após vitória do "sim". Essa, contudo, é a condição exigida pelo governo central de Mariano Rajoy para dialogar.
Puigdemont irá ao parlamento regional na próxima terça-feira, depois da suspensão judicial da sessão prevista para segunda-feira. A previsão é de que ele avalie "os resultados e os efeitos do referendo" proibido de domingo.
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Liberados após depoimento
O comandante da polícia regional catalã, Josep Lluís Trapero, uma subalterna e dois destacados líderes separatistas foram liberados e sem medidas cautelares depois de prestarem depoimento à justiça espanhola, informou à AFP uma fonte judicial.
A procuradoria não pediu medidas preventivas contra Trapero, Jordi Sánchez, Jordi Cuixart e a intendente da polícia catalã, Teresa Laplana. Laplana depôs por videoconferência por motivo de saúde.
Cuixart, presidente de Òmnium Cultural, afirmou que sua associação não reconhece "a competência" do tribunal, e se reservou o direito de nada declarar, porque acreditam que não cometeram o delito de secessão, que pode ser punido com até 15 anos de prisão.
Os quatro compareceram à Audiência Nacional, um alto tribunal, pelo protesto ocorrido em Barcelona no dia 20 de setembro, no qual centenas de manifestantes impediram durante horas a saída de guardas civis de uma dependência do governo regional catalão onde estavam efetuando registros.
Três veículos do instituto armado foram destruídos.
Sánchez e Cuixart se dirigiram à multidão que subiam nesses veículos, e pediram "mobilização permanente", segundo os autos da Audiência Nacional no qual foi admitido a denúncia por secessão.
Jordi Sánchez, presidente da Assembleia Nacional Catalã, afirmou que o ato "foi uma manifestação pacífica", e que seu objetivo era protestar pelas ações policiais que nesse dia haviam detido 14 altos cargos catalães, relacionados com a organização do referendo de independência proibido de 1º de outubro.