A transferência de R$ 70 mensais do Bolsa Família, durante quatro anos, provocou uma grande mudança na vida da pequena comerciante Marlene Maria da Conceição, de 54 anos. Antes instalada numa barraquinha de rua, os produtos que vende agora são oferecidos numa lojinha montada num vão de casa. Analfabeta, ela comercializa itens como temperos, material de limpeza, produtos de beleza e ovos. Parte do dinheiro do benefício vai para pagar o INSS de Microempreendedor Individual (MEI). Com o dinheiro do benefício, também comprou geladeira, televisão e fogão.
Outra ajuda veio do microcrédito do Banco do Nordeste (BNB), que oferece o Crediamigo (para o meio urbano) e o Agroamigo (meio rural). Eles têm hoje, respectivamente, 38% e 58% dos clientes cadastrados no Bolsa Família. O valor médio do financiamento, atrelado a uma pequena capacitação, é de R$ 1.354 (Crediamigo) e R$ 3.500 (Agroamigo). Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que 60% dos clientes pobres que ingressam no Crediamigo superam essa condição em até cinco anos. É a prova
Na avaliação do ex-secretário de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo de Pernambuco, Antônio Carlos Maranhão de Aguiar, a coisa mais importante a se fazer com o Bolsa Família é assegurar que os filhos do programa não precisem do benefício. “E esse começo é a educação. A falta de educação inibe qualquer atividade econômica”, atesta. Esse choque, diz o professor, é essencial para fomentar o empreendedorismo, ativar e dinamizar a economia com agregação de valor. É preciso empreender em segmentos de ponta, e não apenas montar uma barraca para vender coco ou picolé na praia. Pernambuco é o Estado com o segundo menor percentual de MEIs beneficiários do Bolsa Família. Não há levantamentos que comprovem o porquê dessa média abaixo da nordestina. A atual titular da pasta de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo, Ana Cláudia Dias, acredita que uma das justificativas pode estar no receio em se formalizar para não perder a transferência.