A fé, literalmente, move pessoas. E junto com elas, engendra um fluxo contínuo de viajantes de todas as crenças e religiões. A busca por esse alimento espiritual mobiliza anualmente mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, que movimentam cerca de US$ 18 bilhões (cerca de R$ 56 bilhões), de acordo com a World Religious Travel Association.
No Brasil, de acordo com o Ministério do Turismo, as viagens motivadas pela fé movimentam cerca de R$ 15 bilhões por ano. Esse segmento do turismo é caracterizado pela procura de locais com referências bíblicas, históricas, nos quais nasceram ou faleceram líderes religiosos ou já surgiram notícias de curas e milagres.
“O público que nos procura quer algo mais que simples turismo. Quer uma experiência que o deixe em contato com as verdades que ele crê, e vê numa peregrinação a oportunidade de unir fé, turismo e lazer. Costumo dizer que numa peregrinação o cliente ganha em dobro. Além do que eles tem em qualquer agência, nesse tipo de viagem eles participarão de um verdadeiro retiro espiritual”, comenta o gerente geral da Agência Rosa Mística, Breno Mesquita. Ainda de acordo com ele, o público que procura por esse tipo de viagens é diverso. “Temos a melhor idade como o maior público consumidor, responsável por aproximadamente 55% das nossas vendas. Os demais, em sua maioria, têm entre 24 e 45 anos e quase todos com uma vivência de fé”, afirma.
Em 2015, o feriado da Semana Santa superou as expectativas em Pernambuco. Entre 2 e 5 de abril, o Estado recebeu 573.991 visitantes e a receita turística gerada no período chegou a R$ 365 milhões, segundo a Secretaria de Turismo. Em Caruaru, Bezerros, Gravatá e Recife, a ocupação hoteleira foi superior a 80% no período, chegando a 100% em cidades como Brejo da Madre de Deus e Goiana. De acordo com o Ministério do Turismo, durante o período, as viagens dentro do País movimentaram R$ 3,68 bilhões.
O levantamento do MTur informa ainda que a estimativa de viagens internas foi de 2,15 milhões, cada uma com custo médio de R$ 1.712,87. Neste mês, a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Estado anunciou que serão realizadas ações de melhorias na infraestrutura do Santuário de Nossa Senhora das Graças, localizado na área indígena dos xucurus, em Pesqueira, com o intuito de fortalecer o turismo religioso no Estado. O local é motivo de peregrinações católicas porque em 1936, duas camponesas afirmaram ter conversado com a Virgem Maria. Tais relatos foram corroborados pelo Vaticano, assim como as aparições em Portugal e no México. A Vila de Cimbres também já foi apontada pela ONU como um dos locais para forte desenvolvimento do turismo religioso.
Em 2014, só no Brasil, cerca de 17,7 milhões de pessoas viajaram pelo País rumo à destinos considerados sagrados. Desse total, cerca de 10 milhões fizeram viagens sem pernoitar no destino, como excursionistas, e os outros 7,7 milhões permaneceram pelo menos uma noite no local, de acordo com o Departamento de Estudos e Pesquisas do MTur. Ainda segundo o Ministério, existem pelo menos 15 milhões de brasileiros interessados em destinos religiosos no País. Um movimento relativamente recente vem ajudando a mudar o mercado de turismo religioso no Brasil: operadoras de turismo que antes concentravam todo o seu foco em viagens de lazer passaram a incluir nos seus catálogos viagens religiosas e peregrinações. Com isso, o turismo religioso, antes considerado apenas como uma vertente do turismo cultural, começou a se desenvolver e despontar como um dos principais segmentos.
“Mensalmente vendemos mais de 1.000 pacotes nacionais e internacionais. Nos últimos 4 anos tivemos um aumento de pelo menos 30% na procura por este tipo de viagem, principalmente com a ascensão de programas religiosos nas rádios e TVs do Brasil. Na maioria, estes religiosos apresentadores nos procuram e montamos com eles peregrinações especiais que unem pessoas do país inteiro. Um exemplo disso são os padres Reginaldo Manzotti e Fábio de Mello, que em maio estiveram conosco no dia de Pentecostes, em Jerusalém, com centenas de pessoas”, conta Breno Mesquita.
Desse modo, a tríade fé, consumo e mercado gera empregos, incrementa o artesanato, estimula o surgimento de hotéis e restaurantes e de serviços de apoio e do comércio local em geral, fazendo do deslocamento em busca de uma experiência religiosa uma fonte de riqueza e renda.
Nesse tipo de viagem os guias costumam abordar, além dos aspectos ligados à religião, informações sobre a história, cultura e povo daquele lugar".
Gilvaneide Gomes, turismóloga.
Nacionalmente, quem busca mergulhar na espiritualidade na hora de viajar tem opções diversas. Em São Paulo, Aparecida é conhecida como a “Capital Mariana da Fé” e recebe anualmente mais de 11 milhões de visitantes, o que a transforma num dos maiores centros de peregrinação da América Latina. No triângulo mineiro, o espiritismo movimenta o turismo religioso, desde que o médium Chico Xavier passou a atrair multidões.
Em Salvador, vários terreiros são tombados pelo patrimônio histórico. Um dos mais conhecidos é o Casa Branca, o primeiro terreiro de culto afro-brasileiro reconhecido como patrimônio nacional. Localizado na capital paulista, o Templo de Salomão, construído pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, é o maior templo evangélico já construído no Brasil. No ano passado, apenas dois meses após a inauguração, os ingressos para os cultos já estavam esgotados.
“Nesse tipo de viagem os guias costumam abordar, além dos aspectos ligados à religião, informações sobre a história, cultura e povo daquele lugar. Além do lazer, o turismo religioso dá a oportunidade do viajante alcançar uma espécie de bem estar espiritual que ele quer repetir e vivenciar cada vez de forma mais intensa”, conta a turismóloga Gilvaneide Gomes, que trabalha na área de turismo religioso há 18 anos. Segundo ela, 70% dos clientes viajam ao menos uma vez por ano, alguns, até mais. “Muitos peregrinos viajam até mais de uma vez ao mesmo lugar e durante as viagens, o gasto médio é de US$ 70 por dia, com presentes, restaurantes e lembranças diversas daquele local. No entanto, isso é muito relativo. Já estive em alguns grupos nos quais as pessoas gastavam muito mais do que esse valor”, afirma ela.