Diante de indicadores que reforçam a persistente queda na arrecadação e o crônico aumento da dívida pública, os economistas esperam do governo em exercício mais rigor na implementação e na cobrança do ajuste fiscal. Em outras palavras: que seja mais duro na contenção de gastos e na busca de alternativas para elevar as receitas.
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Na avaliação do economista Affonso Celso Pastore, da A. C. Pastore e Associados, não basta ter uma equipe econômica competente e um diagnóstico correto sobre para onde ir - e tudo isso, ele ressalta, o governo em exercício tem. "É preciso ser capaz de seguir politicamente adiante na adoção de medidas enérgicas e o problema é que temos vistos sinais que não são nada favoráveis - alguns eu posso entender, outros não", diz.
Pastore lembra que o governo deu aos Estados uma carência maior na renegociação de suas dívidas, movimento que ele considera "uma ação política inteligente", na medida em que, ao dar mais carência aos Estados, a União pode cobrar que eles fiquem engajados no corte de gastos.
Já os aumentos para servidores, por sua vez, são incompreensíveis para Pastore: "Eu não consigo entender, não é explicável, por nenhum aspecto, a não ser que haja uma lógica que seja muito superior à minha capacidade de entendimento".
Pastore afirma que apesar de os analistas de mercado financeiro terem ressaltado nas últimas semanas que o Brasil pode atrair uma nova leva de investimentos, não há nada no curto e médio prazo que referende a retomada do crescimento, pelo contrário: o desemprego ainda pode subir, a renda vai cair mais, o consumo não se recuperou, os bancos continuam pisando no freio e não liberam crédito. "A recessão está no fim, mas não há um indicador mostrando que a retomada do crescimento será rápida, pelo contrário, tende a ser lenta", diz.
Receitas
O economista Felipe Salto reforça a necessidade de estancar gastos. "O governo precisa parar de gastar com as benesses e agilizar a adoção de medidas que possam melhorar as receitas", diz Salto.
Entre as alternativas que ele defende estão a securitização das dívidas da União, que, nos seus cálculos, pode arrecadar cerca de R$ 55 bilhões, bem como a revisão de contratos de prestação de serviços do governo federal. Segundo Salto, numa avaliação dos preços nos últimos 10 anos, o valor de contratos firmados com o setor público ficou cerca de 40% acima do de contratos similares assinados entre partes exclusivamente privadas. "Da trabalho rever, mas fizemos a conta e dessa revisão pode sair de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões", diz ele.
Salto também diz que é preciso encarar os fatos em relação à questão tributária: "É demagogia dizer que não vai elevar impostos: o ajuste também precisa ser feito pelo lado da receita e elevar impostos faz parte no atual cenário, caso contrário, não vamos conseguir deter a trajetória de alta da dívida tão cedo". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.