O crédito para pequenas e microempresas secou. Menos de um quarto delas no Estado de São Paulo conseguiu levantar financiamentos em bancos no mês passado. Foi o menor resultado em mais de dois anos, quando o Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi) no Estado de São Paulo começou a apurar esse indicador. Em agosto, 24% das pequenas e microempresas tiveram acesso a financiamento bancário, quase a metade de um ano atrás.
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O aperto no crédito, sobretudo para capital de giro, ocorre num momento crítico de queda nas vendas. Isso aumenta o risco da sobrevivência dos negócios: 206 mil pequenas e microindústrias, que correspondem a 71% do total delas em operação no estado, acham que podem fechar em seis meses, se a economia não reagir.
"O desafio hoje é sobreviver", afirma o presidente do Simpi, Joseph Couri. Os financiamentos para capital de giro para quitar despesas do dia a dia, como água e luz, estão vencendo e os contratos não estão sendo renovados, explica. Tanto é que, em agosto, 58% dos pequenos e microempresários declararam que tinham capital de giro insuficiente ou limitado, aponta a pesquisa.
A pequena empresária Paula Rocha, dona de um salão de manicure e cabeleireiro com 50 funcionários encontrou num empréstimo para pagamento do 13º salário dos empregados a alternativa para cobrir as despesas do dia a dia. "Só peguei esse crédito de adiantamento de 13º para poder cobrir o rombo na conta de pessoa jurídica", conta. Pelo financiamento, paga juros de 5% ao mês. "Ela tem que soltar rojão porque conseguiu financiamento", diz Couri, ponderando que a pequena empresária poderá ter problemas mais adiante, se não houver reversão no quadro econômico.
A maior procura por crédito por parte dos pequenos e microempresários, na maioria das vezes não atendida, foi captada no indicador de demanda por financiamentos. No mês passado, a procura por financiamento aumentou 12,4% entre as pequenas e microempresas na comparação com o mesmo mês de 2015, segundo a Serasa Experian. Mesmo descontando-se o maior número de dias deste ano, houve crescimento da demanda em 2016. Em contrapartida, ocorreu queda na demanda por crédito por parte das médias e grandes empresas, nas mesmas bases de comparação.
Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, observa que as empresas maiores registraram recuo na procura por crédito porque têm mais fôlego. Já entre as pequenas e microempresas houve aumento da procura por crédito porque elas são menos capitalizadas. Ele destaca também que houve uma explosão do número de Micro Empreendedores Individuais (MEIs) por causa do aumento do desemprego. E os novos empreendedores assim que abrem um negócio buscam crédito.
João Carlos Gomes da Silva, diretor de crédito do Bradesco, afirma que o banco não fechou carteiras ou reduziu valores emprestados. Ele admite que, em função da alta da inadimplência, de 5% em dezembro de 2015 para 7% em junho deste ano - mas hoje estabilizada - , a análise de crédito ficou mais apertada. Ele acha que a queda de 12% acumulada em 12 meses até junho nos volumes emprestados será revertida até o fim do ano.