CARNE FRACA

Grampo na Operação Carne Fraca flagra funcionário da JBS firmando acordo com funcionário de ministério

Conversa trata sobre oito certificados exigidos para uma exportação de carne para a China

JC Online
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Publicado em 27/03/2017 às 20:26
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Conversa trata sobre oito certificados exigidos para uma exportação de carne para a China - FOTO: Foto: Acervo
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Um grampo da Polícia Federal, utilizado nas investigações da Operação Carne Fraca, revelou o funcionário da Seara/JBS, Flávio Cassou, conversando com o fiscal do Ministério da Agricultura, Eraldo Sobrinho, a respeito de oito certificados exigidos para uma exportação de carne para a China. O diálogo foi citado em um relatório da PF, apontando para um "descumprimento de normas".

"Fica claro, portanto, o descumprimento das normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que, frise-se, não se tratam de mera burocracia, mas controles para garantir o consumo de alimentos sadios. Infelizmente, nem os fiscais, nem as empresas tem essa preocupação", destaca a investigação da Carne Fraca em manifestação ao juiz Marcos Josegrei, da 14ª Vara Federal, em Curitiba.

Na conversa, o representante da JBS diz ao fiscal que tem "oito certificados aqui navio para embarcar". "Pra China?", pergunta o funcionário do ministério. "Pra China, daí eu pensei o seguinte: que tal nós arriscar (sic) carcar o seu. Daí embarcar vai, se tiver que voltar nós trocamos, que você acha?", afirma Cassou."Lá no Ministério não tem ninguém habilitado?", questiona Eraldo.

"Não tem mais ninguém. A Maria tá viajando; tem a Marcia, mas a Marcia eu já cansei de fazer dessa de mandar e voltar, o dela também não tá aprovado né", explica o homem da JBS na Carne Fraca. "Eu tava pensando dentro daquele troço que os caras tão fazendo, numa dessa nós mandamos, a empresa tá consciente. Vou mandar com o risco de voltar e ter que ser trocado; a empresa topa."

"Mas chega lá não dá problema Cassou?", questiona Eraldo. "Não, não vai dar problema, porque eles não recebem, a empresa traz de volta, refaz e faz de volta com outros, anula aquele e faz um novo. Só que não perde o embarque né", diz Cassou. O fiscal reitera. "Pois é, vamos pregar fogo né.", fala o representante da JBS. "Vou de manhã lá no Ministério, Cassou, acho que depois do almoço aqui né", confirma o fiscal.

Flávio ratifica. "Uma hora duas horas na tua casa." "Uma e meia, duas horas", diz o fiscal.

"Então não se assuste que vou mandar oito China pra você", diz Flávio. "Manda … assinamos aí", afirma o fiscal.

Investigações

Segundo o juiz que mandou deflagrar a Operação Carne Fraca, em 17 de março, "a emissão de certificados pelos servidores competentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deve cercar-se de prévio e rígido controle e verificação dos produtos a serem regularizados para venda/exportação". "Nos casos de exportação, o responsável pela emissão deve acompanhar o
carregamento dos contentores de exportação. Infelizmente, não é o que se observou até o momento", salienta Marcos Josegrei.

Sobre o funcionamento dos acordos, Josegrei explicou que tudo era feito com 'formalidade' pelas empresas. "Quanto às exportações, a emissão de Certificado Sanitário Internacional também era feita de maneira puramente formal, havendo empresas, como a Seara, representada por Flávio Evers Cassou, que aceita até arriscar o não embarque da carga, devido à assinatura de certificados por fiscal não autorizado a tanto", afirmou o magistrado.

A JBS se manifestou declarando que mantém rígidos padrões e processos para garantir a qualidade dos seus produtos, opera de acordo com a legislação e tomará as medidas cabíveis quanto ao comportamento dos funcionários.

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