O cenário do emprego no País não deve se alterar significativamente ainda que se consolide a recuperação da economia, uma vez que o mercado de trabalho reage lentamente às mudanças nos ciclos econômicos. A análise é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que descarta uma queda expressiva da taxa de desemprego em 2017, apesar de identificar uma tendência de redução no ritmo de queda da ocupação, associada, sobretudo, a um crescimento no número de novas vagas.
"Ainda assim, este crescimento não será forte o suficiente para reduzir de forma intensa o número de desempregados e para abarcar os novos entrantes na força de trabalho", diz o Ipea em Carta de Conjuntura divulgada nesta quarta-feira.
No trimestre encerrado em abril a taxa de desemprego no País alcançou 13,6%, o pior desempenho para essa época do ano dentro da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Baseada em microdados da PNADC, a análise do Ipea revela que a taxa de permanência dos brasileiros no desemprego vem aumentando Ao longo do primeiro trimestre de 2017, 48% dos trabalhadores que estavam desocupados não conseguiram nenhuma colocação no mercado de trabalho, resultando num incremento de 0,4 ponto porcentual em relação ao observado no mesmo período de 2016 (44%) e numa elevação ainda maior quando comparada ao período pré-crise (35%).
O estudo mostra que a participação masculina na população desocupada cresceu de 44% em 2012 para 50% no primeiro trimestre deste ano. Além disso, 70% da população desempregada é formada por jovens com idade entre 18 e 39 anos. O corte por grau de instrução revela que a maior parte dos desocupados tem ensino médio completo ou incompleto (50%).
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No primeiro trimestre de 2017, dentre os trabalhadores que deixaram a inatividade, passaram a procurar emprego e não obtiveram uma colocação no mercado de trabalho cerca de 50% têm idade entre 14 e 24 anos e, aproximadamente, 35% possuem o ensino médio. Na outra ponta, dentre aqueles que saíram da condição de inativos e conseguiram uma ocupação, 35% têm entre 25 e 49 anos e 43% têm apenas o fundamental completo. O Ipea destaca que, por conta desta baixa especialização, 73% desse contingente foi absorvido pelo mercado informal.
Em termos salariais, o Ipea enxerga avanços. O instituto diz que as perspectivas são de continuidade no avanço dos rendimentos reais, o que está sendo impulsionado pela forte desaceleração da inflação. "Como consequência desta combinação de aumentos reais e melhora no nível de ocupação, a massa salarial real deve intensificar o seu movimento de alta, ainda que a taxas bem menores que as verificadas no pré-crise, abrindo espaço para uma retomada mais forte do consumo das famílias", apontam os autores Maria Andréia Parente Lameiras e Sandro Sacchet de Carvalho, técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea.
O estudo, divulgado pela Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea, destaca que no trimestre móvel encerrado em abril os rendimentos reais registraram alta de 2,7%, proporcionando uma expansão de 1,1% da massa salarial real, nesta mesma base de comparação, o que pode sinalizar o início de uma recuperação do poder de compra das famílias.
Embora os salários dos contratados pelo setor público tenham influenciado positivamente a média salarial, as estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostram que mesmo na ausência deste segmento, a massa de rendimentos reais apresenta variação positiva no primeiro trimestre de 2017, encerrando o período em 0,5%.
Os técnicos do Ipea também destacam que os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam que o mercado de trabalho formal vem dando os primeiros sinais de recuperação ao indicar um recuo no ritmo de destruição de empregos com carteira assinada. Em abril, segundo a pesquisa do Ministério do Trabalho, a economia brasileira gerou 59,9 mil novas vagas, alcançando um resultado bem melhor do que o observado neste mesmo mês em 2016 quando foram fechados 62,9 mil postos de trabalhos.
Desde o fim do ano passado, os saldos médios trimestrais vêm se recuperando sistematicamente, de modo que no último trimestre encerrado em abril, o fechamento de 45 mil vagas formais foi o melhor resultado neste tipo de comparação desde janeiro de 2015. A melhora é decorrente de uma estabilidade no número de contratações, associada a uma queda do volume de demissões.
Segundo as estatísticas do Caged, em abril o mercado de trabalho formal no país empregava 38,3 milhões de pessoas, o que apesar de indicar uma queda de 2,5% em relação ao observado em abril de 2016, revela que o ritmo de contração neste segmento está se reduzindo.