ÁGUA

Futura privatização da Chesf chama atenção para uso do Rio São Francisco

Só em Pernambuco, mais de 30 cidades dependem do Velho Chico para abastecimento de água

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 23/08/2017 às 8:57
Foto: Alexandre Auler/Acervo JC Imagem
Só em Pernambuco, mais de 30 cidades dependem do Velho Chico para abastecimento de água - FOTO: Foto: Alexandre Auler/Acervo JC Imagem
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A hidrelétrica de Sobradinho é a única que continua sendo da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e provavelmente deve passar a ser operada pela empresa privada que comprar as ações da estatal. Sobradinho ficou fora do sistema de cotas da Lei Federal 12.783 por dois motivos: a sua concessão vence em 2023 e a hidrelétrica é usada para garantir a venda de energia mais barata a dez grandes indústrias do Nordeste, decisão tomada pelo então ministro Edison Lobão. Também estão fora da privatização a Eletronuclear e Itaipu. A primeira porque envolve a produção de energia nuclear e tem uma legislação que exige que a empresa seja brasileira. A segunda por ser um empreendimento binacional, administrada pelo Brasil e Paraguai.

A futura privatização da Chesf mais uma vez voltou a chamar a atenção sobre o uso múltiplo do Rio São Francisco. O reservatório de Sobradinho é o grande fornecedor de água do polo de fruticultura irrigada de Petrolina-Juazeiro. Somente em Pernambuco, mais de 30 cidades dependem do Velho Chico para terem água para o consumo humano. Uma parte do Nordeste também depende da água do São Francisco para ter água para o abastecimento humano via transposição que contemplará os Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

A área que abastece a cabeceira do São Francisco passa por uma das maiores secas dos últimos 80 anos. O rio está assoreado e os programas de revitalização não avançaram.

No novo marco regulatório que serviu de base à privatização, uma parte dos recursos gerados com a privatização das hidrelétricas do São Francisco será usada na revitalização do Rio São Francisco. A ideia não é nova. Há 23 anos, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso propôs privatizar a Chesf prometeu gastar parte dos recursos com a implantação da transposição do São Francisco. Essa obra só saiu do papel no governo Lula e até hoje não foi concluída.

CHESF

O presidente da Chesf, Sinval Gama, chegou a dizer depois da entrevista do ministro que descotizar as usinas da estatal era um sonho. “Tentamos aumentar a receita da Chesf há cinco anos, mas não conseguimos. Com as cotas, temos uma receita para manter e operar as hidrelétricas de R$ 442 milhões por ano. Se fôssemos remunerados como produtor de energia (e dono das hidrelétricas) essa mesma energia geraria uma receita de cerca de R$ 4 bilhões”, explica.

“A folha de pagamento da Chesf não é o seu problema. O problema foi a retirada da receita”, revelou. Na época em que foi implantado o sistema de cotas (no qual as receitas da empresa foram reduzidas para cumprir a Lei Federal 12.783) foi dito que as indenizações do ativo compensariam a perda de receita e a empresa voltaria a crescer depois de alguns anos. Ontem, Sinval disse que uma parte das indenizações foi gasta com custeio.

A Chesf estava com 111 obras paralisadas por falta de recursos financeiros, quando começou a gestão de Temer em maio do ano passado.

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