Em pouco tempo, o Brasil deixou de ser o país que crescia em ritmo chinês para mergulhar numa recessão. Também deixou de ser a nação que cravou o recorde de criar 2,6 milhões de empregos em um ano (2010) para ter hoje uma legião de 13,3 milhões de desempregados. Na maior crise econômica da história brasileira, um em cada cinco lares não tem ninguém trabalhando. Muitos fatores contribuíram para a economia degringolar nos últimos anos: do descumprimento do tripé macroeconômico (meta de inflação, câmbio e meta fiscal), passando pela escalada da corrupção e por medidas demagógicas.
“É difícil identificar se o congelamento do preço dos combustíveis e a redução no preço da conta de luz foi incompetência, demagogia ou as duas coisas. Durante muitos anos, o consumidor vai pagar a conta do desequilíbrio no setor elétrico graças a MP 579 no governo Dilma. A medida forçou o aumento do consumo de energia, ignorando evidências como o regime de chuvas e a saúde financeira das empresas do setor”, observa o professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mauro Rochlin.
No caso dos combustíveis, a então presidente Dilma congelou os preços até 2014 como estratégia para segurar a inflação.“Quando a eleição passou, o preço subiu numa clara demonstração de que não se tratava de uma política sustentada e preocupada com o social. Foi uma medida que surtiu efeito no curto prazo, mas depois se transformou em decepção”, destaca o professor de Ciência Política da PUC-Rio, Ricardo Ismael.
O cientista lembra que a renda per capita do brasileiro despencou 11% em quatro anos. “Nem um país em guerra consegue isso. Andamos para trás, com um rombo nas finanças e uma dívida extraordinária. O próximo governante vai precisar pensar duas vezes antes de mentir para a população. Já ficou provado que não cabe improviso em política econômica, porque o desastre já foi monumental”, reforça Ismael.
META FISCAL
Diante de uma dívida que não para de crescer, o governo Temer decidiu ajustar a meta fiscal de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões em 2017 e 2018. O presidente tem caminhado na contramão do seu discurso de austeridade, cedendo a pressões políticas para assegurar sua permanência, vivendo um dilema entre a racionalidade econômica e o que é possível dentro do ambiente político.
Entre 2010 e 2016 a dívida bruta mais que dobrou, passando de R$ 2 trilhões para R$ 4,3 trilhões e continua a avançar. Em julho alcançou R$ 4,7 trilhões, o equivalente a 73,8% do PIB. A eleição do próximo ano está no foco da preocupação dos analistas, tanto do ponto de vista dos candidatos quanto do discurso. “Estou muito curioso pelo discurso de Lula, que na sua primeira eleição adotou uma postura de paz e amor e acabou convencendo o mercado de que manteria o equilíbrio. Será que agora ele vem com um tom bolivariano, culpando as elites pelos problemas do Brasil?”, questiona Rochlin.