“Se essa dinâmica de recuperação cíclica será preservada nos próximos meses é uma questão em aberto e que vai depender da queda de braço entre a continuidade do resgate dos fundamentos macroeconômicos de curto prazo e a percepção de riscos quanto à solvência do Estado e da governabilidade do País de médio e longo prazos”. A afirmação é o resumo da análise recente feita pela Tendências, uma das maiores consultorias econômicas do País. Ela mostra que, apesar de ser uma realidade atual, o descolamento entre os cenários político e econômico tem data de validade. Do futuro, mesmo incerto, o mercado só deseja a continuidade do ajuste fiscal, não importa quem os faça.
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Para o presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP), Carlos Ari Sundfeld, o futuro próximo é, sim, incerto, mas menos assustador do que se pode imaginar. “Acho que ninguém acredita que quem vencer a próxima eleição vá implantar um programa econômico radicalmente oposto ao que temos hoje. Ninguém acredita que os candidatos de esquerda ou os populistas, independentemente dos discursos de hoje, vão jogar fora totalmente o trabalho da equipe atual”, explica.
Para justificar seu otimismo, Sundfeld lembra que a recessão acabou com qualquer margem econômica para arriscar novos modelos. “Qualquer erro o colapso será imediato. Vamos sentir o efeito no dia seguinte”, enfatiza. Ele lembra que a situação era bem diferente na transição entre os governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula, quando houve instabilidade no mercado por medo de uma manobra econômica brusca, que mais tarde acabou não se confirmando.
Apesar das melhoras vistas em vários indicadores, os números ainda não estão perto de chegar ao que se registrava antes do início da derrocada. O emprego, por exemplo, é o indicador econômico que mais tarda a reagir, já que o custo da contratação é alto no País e o empresário precisa de confiança no futuro para abrir vagas. Esse ritmo também pode ser a justificativa para uma avaliação tão negativa do governo atual, já que a falta de oportunidades é o sintoma econômico mais próximo e palpável para a população em geral. E é a incerteza no futuro que provoca uma resistência para a queda do desemprego.
REFORMAS
Por outro lado, talvez não seja necessário chegar ao resultado das eleições para que o mercado cobre seu preço. “O descolamento tem validade e condições. Se as reformas prometidas não forem aprovadas em breve, não vamos demorar a sentir novamente um revés econômico. Esse respiro de crescimento pode acabar rápido se o lado político não agir”, destaca o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE”), Ecio Costa.