O comércio varejista de todo o país deve aumentar neste ano entre 4% e 5,5% e, consequentemente, isso levará a uma expansão dos postos de trabalho temporário de final de ano, segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop). A entidade espera obter no Natal um crescimento de 2% e faturamento de R$ 34,3 bilhões, 4,3% superior a 2016, após uma sequência de estabilidade e resultados negativos.
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A previsão é de que ocorra um aumento de 5,5% nas contratações de pessoal em comparação a 2016 e uma elevação de 7% no salário médio (R$ 1,2 mil). Só no período de novembro a dezembro, deverão ser gerados em torno de 115 mil empregos temporários – dessas vagas, de 60 a 70 mil se concentram no comércio e 10 mil no segmento de serviços. “E uma boa parte dessas vagas em shopping centers”, ressalta nota da Associação.
Dos 115 mil empregos, estima-se que entre 25 e 27% conseguirão permanecer no trabalho, percentual bem superior ao ano passado, quando apenas 15% dos temporários passaram a fazer parte do quadro efetivo.
Novas regras favorecem contratação
O presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, observou que as contratações pela Lei 13.429/2017, do trabalho temporário, aumentam a expectativa de admissões. “Antes, não poderíamos contratar temporários por horas determinadas, como em horários de pico. Agora, teremos uma situação bem melhor”, afirmou.
O economista Marcelo Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo, concorda que a mudança na legislação estimula o empresário a contratar mais. “Além daquela modalidade do contrato de temporários, tem outras modalidades de contrato que podem ser utilizadas também para reforçar o quadro de funcionários no final do ano, como o contrato intermitente que pode ser por algumas horas por dia, ou alguns dias por semana”, observou.
Ele vê a possibilidade de um avanço também dos casos de efetivação diante das previsões de aumento no faturamento. “Estamos longe de voltar aos melhores anos de 2010, 2014, mas o primeiro passo para crescer é parar de cair e já chegamos neste ponto”.
Os comerciantes também esperam vender mais por conta da circulação de dinheiro disponibilizado pelo governo federal via PIS/Pasep, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em busca de emprego
Na outra ponta desse otimismo empresarial está a candidata a uma vaga, Taila Nascimento, de 28 anos e ensino médio completo. Está à procura de emprego desde junho, quando foi demitida de uma empresa de logística onde trabalhava como auxiliar de escritório. Para ela, uma vaga temporária é um paliativo. “Eu procuro de tudo e prefiro algo fixo, mas vale qualquer coisa para pelo menos terminar o ano com algum dinheiro no bolso”, afirma.
Ela conta que já trabalhou em vaga temporária no comércio, há dois anos. “Foi parecido, eu estava desempregada e apareceu uma oportunidade numa loja”, lembra. Apesar de saber que o emprego tinha prazo, Taila alimentava esperança de ser contratada. “Mas não deu certo, fui dispensada no começo de janeiro.” Atualmente, ela espera resposta de duas empresas em que fez entrevista.
Serviços natalinos
O comércio e serviços relacionados às festas natalinas demonstram otimismo em relação ao fim do ano. Um dos segmentos que tradicionalmente reforça o quadro de pessoal nessa época do ano é de produção de panetones. Uma tradicional doceria de São Paulo abriu 220 vagas para temporários, 42 a mais do que no ano passado. A empresa prevê crescimento de 28% na produção e nas vendas, bem acima de 2016 (5%), com a meta de fabricar e vender 800 mil panetones.
A companhia investiu mais de R$ 2 milhões em maquinário para atender a demanda de clientes nas 25 lojas espalhadas pela capital paulista e também as encomendas para exportação e para outras companhias – neste último setor, há uma projeção de alta de 42%.
“A previsão do mercado é de que este seja o melhor Natal dos últimos quatro anos e a gente também aposta nisso. O desemprego atingiu um pico e agora começa a diminuir um pouco e a economia começa a reaquecer “, avaliou o diretor de Marketing da doceria, Alexandre Martins. Na empresa que dirige, o contingente de efetivos cresceu 6% e “deve continuar aumentando”.
Um dos recém contratados pela doceria é Cristiano Brito de Souza, 21 anos, que tem a expectativa de ser efetivado. Com segundo grau completo, ele contou que nunca tinha desempenhado a tarefa para qual se candidatou, a de forneiro, mas que está otimista.“Eu trabalhava como metalúrgico e queria mudar de ramo. A minha expectativa é dar o melhor de mim e ser efetivado”.
O setor de organização de festas também ajuda a reduzir a fila de desempregados, com um crescimento das contratações eventuais nos meses de setembro a dezembro, devido especialmente aos eventos de fim de ano de empresas. Uma pesquisa da encomendada pela Abrafesta (Associação Brasileira de Eventos) ao Instituto Locomotiva mostra que o mercado de festas e cerimônias deve crescer neste ano, depois de uma estabilidade nos dois últimos anos, quando os gastos dos brasileiros com eventos sociais – que incluem também casamentos e festas de debutantes – alcançaram em torno de R$ 17 bilhões.
Apesar da projeção de crescimento na oferta de serviços temporários, uma empresa nacional de prestação de serviços para decorações natalinas manteve neste ano o mesmo número de contratados dos dois últimos anos. Segundo o gerente de Marketing da companhia, Felipe Esotico, foram selecionados 300 empregados para colaborar na execução de 130 projetos, mais concentrados em redes de shopping centers e lojas de departamento.
“Para ampliar o quadro de trabalhadores extras acima do ano passado, precisaríamos investir mais em tecnologia. Pela base prevista de clientes esperados, achamos que havia capacidade de atendimento com a estrutura já existente”, afirmou Esotico.
Comércio no estado de São Paulo
No setor de comércio, serviços e turismo, a expectativa de crescimento no estado de São Paulo é de 30%, passando de 19 mil empregados temporários no ano passado para 25 mil este ano. Segundo o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Jaime Vasconcellos, a chance de efetivar varia de 5 a 10%, o que é “pequeno, mas indica um processo de retomada da economia”.
Ele reconhece que está longe do observado nos anos de 2008 a 2010, quando foram criados 50 mil postos, ou de 2012 e 2014 quando foram abertas entre 30 mil e 35 mil vagas. “Pelo menos há um crescimento”, avalia. A Federação prevê um aumento das vendas de 5% no estado e de 7% na capital, o que deve levar a mais empregos temporários.
Em média, as vendas de final de ano são entre 25 e 30% maiores do que nos demais meses do ano, segundo o economista. A estimativa é de que o setor de vestuário, tecidos e calçados seja responsável por 50% das contratações e os supermercados, por 25%.