FINANÇAS

Por que a queda da Selic não chega ao consumidor?

Taxa Selic está em 7,5%, mas os bancos mantém os juros altos para segurar a inadimplência

editoria de Economia
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Publicado em 26/10/2017 às 7:01
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Taxa Selic está em 7,5%, mas os bancos mantém os juros altos para segurar a inadimplência - FOTO: Foto: Agência Brasil
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Como já era esperado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros do País em 0,75 ponto percentual. Assim, a Selic caiu de 8,25% para 7,50%, atingindo o nível mais baixo em quatro anos. Só que, diferentemente do que deveria acontecer, a redução da taxa não está sendo sentida no bolso do consumidor. E a razão disso, prioritariamente, está relacionada ao índice de inadimplência no Brasil: 59,1 milhões de brasileiros, segundo SPC, estão negativados.

“Como os bancos não dispõem de um banco de dados confiável para usar na análise de risco dos clientes, a saída é manter os juros altos para inibir a inadimplência. O Cadastro Positivo poderia ser um instrumento para conhecer melhor esse cliente, mas ele ainda está engatinhando no Brasil e é pouco conhecida da população”, explica o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ecio Costa.

A concentração dos bancos e o spread bancário também são apontados como impeditivo para a queda dos juros ao consumidor. “Existe pouca concorrência no mercado e isso se agravou nos últimos anos com aquisições e fusões entre os bancos. São grupos fortes, com poder de lobby e que acabam ditando o preço (juros) ao consumidor”, destaca Costa, lembrando que o rotativo do cartão de crédito ultrapassa os 400% ao ano. “O spread bancário no Brasil (taxa cobrada pelo empréstimo) também continua alto, sendo mais um fator para que os juros aqui estejam entre os mais altos do mundo”, observa a doutora em economia e professora da Devry/FBV, Amanda Aires.

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O que é a Selic?

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo o IBGE, o IPCA ficou em 0,16% em setembro. Nos 12 meses terminados em setembro, o IPCA acumula 2,54%, a menor taxa em 12 meses desde fevereiro de 1999.

Rito

Com o corte, o BC iniciou o processo de desaceleração do ritmo do atual ciclo monetário. Nos quatro encontros anteriores, o BC havia aplicado uma redução de 1 ponto porcentual na taxa básica.

O Copom avaliou que, para a próxima reunião – nos dias 5 e 6 de dezembro –, caso o cenário básico evolua conforme esperado, será “adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária”.

A dúvida dos analistas depois do comunicado divulgado nesta quarta é sobre o que o Banco Central prevê para o início de 2018. “Provavelmente cai a 7% em dezembro, deixaram bastante indicado. Mas, para o começo de 2018, eu tenho dúvidas. Ele não se comprometeu que vai continuar cortando. Deixou a porta aberta”, disse o economista Paulo Gala, diretor-geral da Fator

Administração de Recursos.

A Rosenberg Associados tem a expectativa de uma redução da Selic para 6,75% ao ano na primeira reunião de 2018, mas o economista Leonardo Costa aponta que o comunicado deixou dúvida. “Temos visão clara sobre dezembro, de um corte de 0,5, mas não sobre reunião de fevereiro”, disse.

A redução para 6,75% no próximo ano também é a projeção do Santander, segundo o economista Luciano Sobral. “A impressão que temos é que em 2018 (o Copom) consegue ficar com juro parado em 6,75%”, acrescentou.

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