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Preço do petróleo faz parte de xadrez geopolítico

No jogo mundial do petróleo, geopolítica e estratégia dos grandes produtores determinam a variação de preço

Da editoria de economia
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Publicado em 03/06/2018 às 13:28
Foto: Guga Matos/ JC Imagem
No jogo mundial do petróleo, geopolítica e estratégia dos grandes produtores determinam a variação de preço - FOTO: Foto: Guga Matos/ JC Imagem
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Os anos de baixa histórica nos preços do petróleo ficaram para trás. O barril, que chegou ao fundo do poço em janeiro de 2016 (cotado a US$ 25), iniciou uma trajetória de alta no ano passado e agora se aproxima da casa dos US$ 80. No jogo mundial do petróleo, geopolítica e estratégia dos grandes produtores movem as peças do tabuleiro.

A partir de outubro de 2016, a Petrobras adotou uma política de preços dos combustíveis baseada nas variações do mercado internacional do petróleo e do dólar. Na época, a moeda americana também estava em baixa, fazendo com que não houvesse tanta flutuação nos preços da gasolina e do diesel. Com a valorização do barril e do dólar, o consumidor começou a sentir a pressão.

“Numa tentativa de barrar o aumento da produção de petróleo em outros países, como Estados Unidos e o próprio Brasil, a Arábia Saudita aumentou a sua produção de petróleo, baixando os preços do mercado mundial e tornando a concorrência mais difícil”, afirma o professor de Engenharia de Petróleo e Gás da UniFBV | Wyden, Rodrigo da Matta. Ele afirma, no entanto, que a própria Arábia Saudita não conseguiu manter essa estratégia por muito tempo porque 90% do seu PIB depende do petróleo.

A crise política na Venezuela também afetou a oferta do óleo cru, já que o país perdeu um milhão de barris diários em pouco mais de um ano. Por outro lado, os Estados Unidos continuaram ampliando a produção de petróleo para dez milhões de barris por dia. E este ano já ocupam o segundo lugar no ranking mundial de produtores, atrás da Rússia e ultrapassando a Arábia Saudita. O crescimento se baseou na aposta da extração a partir do xisto. Agora, o presidente Donald Trump impôs sanções ao Irã, levando compradores do petróleo iraniano a reduzirem as importações.

Com esses fatores de alta no mercado internacional, a manutenção da política de preços da Petrobras vai continuar causando polêmica, como ocorreu com a greve dos caminhoneiros. A tendência é que os preços dos combustíveis no Brasil continuem aumentando. “A Petrobras não pode ser usada para subsidiar o preço dos combustíveis. A tarefa de Pedro Parente, ao longo dos dois anos em que esteve na presidência, foi fazer a estatal voltar a ter lucro. O momento é de recuperação. Se fosse uma empresa privada, já teria quebrado com prejuízos sofridos na Operação Lava Jato. Além disso, a companhia viu reduzir o faturamento com a política da ex-presidente Dilma Rousseff, que segurou os preços dos combustíveis para evitar a alta da inflação”, relembra o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmar de Almeida.

PROTEÇÃO

Entre julho de 2017 e maio de 2018, o preço da gasolina no Brasil passou de R$ 3,485 para R$ 4,435, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Já o diesel subiu de R$ 2,939 para R$ 3,788 no mesmo período. Para evitar que o consumidor sofra os efeitos da volatilidade do mercado internacional, o Ministério de Minas e Energia (MME) colocou em debate a criação de uma política que funcionará como um colchão amortecedor da variação dos preços do petróleo no mercado internacional e da oscilação cambial. Amanhã, será realizada nova reunião para discutir o assunto, com técnicos do MME, ANP e Ministério da Fazenda.

Mesmo com a conjuntura internacional fazendo o preço do petróleo subir, a tendência é que esse cenário não se perpetue nem no médio nem no longo prazo em virtude da produção crescente do óleo cru. “A produção vem crescendo em vários lugares do mundo, como nos Estados Unidos, no próprio Brasil com o pré-sal e nos países europeus. Com a oferta alta, o preço não vai disparar”, defende Edmar de Almeida.

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