O dólar engatou a quinta alta consecutiva e terminou esta segunda-feira (10) com valorização de 0,69%, a R$ 3,9223, a maior cotação em dez dias. Uma série de notícias negativas, tanto no exterior - que fizeram o dólar subir perante a maioria das moedas de países desenvolvidos e emergentes - quanto internas, aliadas a fatores técnicos, como a maior demanda pela moeda americana por conta do final do ano, contribuiu para manter o câmbio pressionado durante toda a segunda-feira. No início da noite, o Banco Central anunciou dois leilões de linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra), de até US$ 1 bilhão nesta terça-feira, 11.
Na máxima do dia, a moeda americana finalmente rompeu a barreira dos R$ 3,92, que vinha tendo dificuldade de superar nas últimas semanas, e foi a R$ 3,9459. A notícia de que a primeira-ministra britânica, Theresa May, adiou "indefinidamente" a votação de um acordo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, foi o catalisador para o dólar ganhar força no mercado internacional e bater máximas aqui, em um dia que já vinha sendo marcado pelo aumento da aversão ao risco por conta de renovadas preocupações dos investidores com o crescimento da economia mundial após a China divulgar dados da balança comercial de novembro mais fracos que o esperado. O fundo de índice (ETF, na sigla em inglês) que replica moedas de emergentes, o WisdomTree Emerging Currency Strategy, caiu 0,46%, uma sinalização da fraqueza delas perante o dólar.
Leia Também
- Dólar encerra semana em alta, valendo R$ 3,89
- Dólar sobe pelo terceiro dia, cotado a R$ 3,87
- Taxas de juros reduzem alta com dólar, em meio à tensão externa e foco no fiscal
- Dólar sobe e fecha em R$ 3,85, mesmo após intervenção do Banco Central
- Depois de dois meses em queda, dólar fecha novembro em alta de 3,58%
Notícias negativas
Para a economista-chefe da corretora americana Stifel Nicolaus & Co, Lindsey Piegza, o dia foi de notícias negativas que apontam para crescimento mundial mais fraco e, após a decisão de May de adiar a votação do Brexit, a sensação é de que qualquer acordo seria mesmo rejeitado pelo parlamento em Londres. Nos dados comerciais chineses, ela ressalta que as exportações mostraram o pior ritmo de expansão em oito meses, reflexo da maior tensão com Washington. Os dados podem forçar Pequim a tomar novas medidas de estímulo da atividade, pois as importações tiveram o pior desempenho desde outubro de 2016.
"Não tem como esse exterior negativo não respingar aqui", afirma o operador da Advanced Corretora, Alessandro Faganello. No mercado doméstico, ele ressalta que as notícias também não ajudam e, entre elas, há as divergências dentro do PSL, o partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro, fato que causa preocupação, pois os deputados e senadores precisarão mostrar articulação para tentar passar as reformas no Congresso, ressalta ele. Além disso, segue no radar a possível greve de caminhoneiros, prometida para janeiro, que já contou com protestos em rodovias nesta segunda, a votação de "pautas-bomba" no Congresso e as investigações sobre movimentações na conta de ex-assessor de Flávio Bolsonaro.