A esperança morreu para os funcionários do São Mateus Frigorífico Industrial. Depois de duas promessas de retorno à produção - a última prometida -, a diretoria da empresa chamou dois representantes de vendedores e dois de operários para comunicar que vai fechar a conta de todos os colaboradores.
"Eles conversaram com o departamento pessoal da firma, com uma funcionária chamada Vera. Ela informou que o frigorífico chamaria de 15 a 15 funcionários para fazer as rescisões. Para os vendedores, o recado foi o de que teríamos de procurar nossos direitos na Justiça", informou Paulo Miranda, vendedor da empresa durante 11 anos. Ele reivindica dois meses de salários atrasados, fora os benefícios sociais.
Segundo o funcionário, todos os 11 vendedores da São Mateus no Recife levaram o calote da empresa, fora os profissionais de venda do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A empresa foi procurada, mas nem mesmo a gerente de marketing do grupo não foi localizada. "Fernanda foi desligada na quarta-feira", disse Miranda. "No mês passado foram 350 demissões. Agora é o resto. A fábrica tinha 1.200 funcionários e não vai ficar ninguém", informa o ex-funcionário, que já entrou na Justiça e agora passou a procurar outro emprego. "É difícil para quem tem mais de 40 neste País", aflige-se.
O presidente do sindicato dos trabalhadores da indústria, Francisco Marinho, confirmou as demissões. "A partir de hoje (ontem) a empresa não funciona mais. Mandou dizer que afastou todo mundo e orientou os trabalhadores a procurarem o sindicato ou a Justiça", disse. Entre os funcionários, o temor é o de que a empresa não honre com os seus compromissos trabalhistas. "Nunca depositaram o FGTS e dos acordos que fazem na Justiça, pagam a primeira parcela e depois param", acusa Miranda.
A crise na São Mateus começou a dar sinais há cerca de um ano, quando a empresa passou a atrasar salários. Em julho, as incertezas tomaram corpo quando a diretoria do frigorífico suspendeu a produção da indústria e deu férias coletivas aos trabalhadores. A expectativa era que as operações fossem retomadas na segunda-feira, mas a data foi postergada para ontem, o que, de fato, não aconteceu. Além do afastamento temporário, 356 empregados já foram demitidos.
O grupo familiar tem mais de 40 anos e o seu patriarca, José Régis Cavalcanti, morreu há seis anos. Depois de sua morte, segundo Paulo Miranda, seus filhos passaram a se desfazer do patrimônio da empresa, vendendo caminhões e todos os veículos e a terceirizar os serviços.