“Antes, quando tínhamos a empresa de tecnologia, recebia dez emails por dia – todos eram reclamações de clientes. Hoje, recebo cem: são pais me agradecendo pelo desenho existir, me contando como aquilo impacta na vida dos filhos deles. Bita é uma celebridade”, conta o empresário Felipe Almeida, que ao lado dos sócios João Henrique, Chaps Melo e Enio Porto, fazem parte da Mr. Plot, empresa responsável pela criação da animação Mundo Bita. Com três discos lançados desde 2013 (um deles, Bita e os Animais, ganhou o Disco de Ouro), quase 70 milhões de visualizações no Youtube e no ar no canal por assinatura Discovery Kids, Bita é de fato uma celebridade, e causou uma revolução na vida dos empresários. “Tinha uma empresa de TI, agora estou no showbiz”, brinca Almeida.
A tal empresa de tecnologia é a Quarta Dimensão, que presta serviços em desenvolvimento de sistemas e web, onde a Mr.Plot nasceu como uma unidade de negócios. “Em 2010 percebemos uma oportunidade com a chegada dos tablets. Era um novo mercado que estava surgindo, muito promissor e com uma capacidade de globalização fácil”, lembra o empresário. A ideia inicial era criar um ebook interativo infantil, aproveitando a sinergia que as crianças estavam demonstrando com o aparelho. Mas faltava um personagem cativante para conduzir as histórias.
“O Bita surgiu antes da Mr. Plot”, conta Chaps de Melo, criador do personagem. “Minha filha estava para nascer e queríamos um tema legal para decorar o quarto dela. Não encontramos nada que nos interessasse, então eu e a mãe dela criamos esse cara, o Bita, para isso”, conta Chaps. Com um personagem novo e original nas mãos, a Mr.Plot – usando o know-how da Quarta Dimensão – começou a produção dos ebooks e aplicativos para tablets, mas sem grandes resultados. “Investimos bastante nisso entre 2011 e 2013, mas não estava faturando o suficiente para se manter, não era rentável”, conta Almeida. A última cartada foi uma aposta: fazer clipes musicais com o personagem animado e canções originais compostas por Chaps. “Foi o grande pulo nos negócios”, completa.
A mudança da tecnologia da informação para a economia criativa foi feita com a ajuda do Porto Digital. “Fomos da primeira turma a incubar no Portomídia. Bita e os Animais foi nossa primeira obra e nosso objetivo era só lançar o DVD. Já existiam outros fenômenos no setor, como a Galinha Pintadinha, mas fomos ousados em adotar a estratégia (que se mantém) de só usar conteúdo autoral. Não usamos músicas de domínio público, criadas lá na década de 1940 e 1950, que não conectam com o público de hoje. Queríamos algo moderno”, conta Almeida. Foram esses primeiros clipes que chamaram a atenção da gravadora Sony Music, que fechou um contrato com os sócios da Mr.Plot, movimento que obrigou a empresa a se separar da Quarta Dimensão. “Agora, só um de nós cuida da parte de TI, e o resto nos nossos esforços é direcionado na animação”, afirma.
PRODUÇÃO
Viver de desenho animado no Brasil não é algo fácil – principalmente para novatos no setor. “A animação é complexa, cara, trabalhosa e demorada. Não é um mercado para qualquer um e a gente entrou meio que sem saber. Éramos uma empresa de TIC, mas as coisas foram dando certo, passamos fase a fase, e continuamos produzindo – que é o grande segredo do negócio”, explica Almeida. Desde 2013 a empresa vem lançando um DVD pro ano. Bita e as Brincadeiras também ganhou um Disco de Outro e Bita e o Nosso Dia saiu em 2015.
O faturamento da Mr.Plot em 2014 foi de R$ 200 mil e deve mais que dobrar no ano seguinte, passando para R$ 500 mil, mas a correria dos empresários está longe de acabar. “Ainda não conseguimos pagar a produção dos discos só com vendas. O mercado fonográfico no Brasil está em queda e cada minuto de uma produção como essa custa R$ 10 mil. Um DVD de 30 minutos passa dos 300 mil, sem contar outros gastos. Foi aí que entendemos que vender discos não era nosso negócio, mas que estávamos construindo uma propriedade intelectual”, afirma o empresário.
Da TIC, para a economia criativa e agora para licenciamento de direitos autorais, um mercado que é muito novo no Brasil. “Não dá para dizer que é insipiente, por que Maurício de Souza criou a Mônica há 50 anos e exporta ela para o mundo todo. Mas fora ele, você consegue contar nos dedos os produtores brasileiros que conseguem isso”, avalia Almeida. Essa imaturidade do mercado nacional obriga a Mr.Plot a contratar profissionais altamente especializados (e caros) como advogados e contadores. “A maior parte dos parceiros, como a gravadora e o canal de TV, também estão no Rio e em São Paulo. Quando dizemos que somos do Recife, às vezes nem acreditam. Em parte por que também optamos por não inserir no produto características que o tornassem muito regional. Criamos o Bita para ser globalizado”, completa. A “marca” Bita tem dez aplicativos (com mais de 500 mil downloads), apresentações ao vivo, linha de brinquedos educativos, artigos para festas, material escolar e de higiene oral. “Nosso próximo passo, para o médio prazo, é produzir uma série fixa para a TV, com 52 episódios, e um longa metragem. Isso nos consolidaria como um produto transmídia, que possa ser vendido no mundo todo”, acredita Almeida.
Veja alguns clipes:
Conheça mais sobre o Porto Digital na série que publicamos no aniversário de 15 anos da iniciativa. Veja aqui.