Nas últimas quatro décadas, a agropecuária brasileira viveu um período de exuberância. Salto na produção e avanço tecnológico colocaram o País entre os líderes mundiais na oferta de alimentos. Com 42 anos de história, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) pode se gabar dessa expansão. É exemplo de estatal eficiente e que dribla a disparidade de recursos, quando se compara seu orçamento ao de outras instituições no mundo.
O Brasil investe 1,9% do PIB agropecuário em pesquisa. É metade do que aplicam países da Europa e os Estados Unidos. Para continuar avançando e dar conta dos planos ambiciosos de aumento de produção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) será preciso engodar o caixa da empresa (movimento pouco provável num cenário de recessão). O pleito dos pesquisadores é que não se perca terreno na área.
“Quando o dólar estava na casa de R$ 2,80, o investimento em pesquisa no País se aproximava dos Estados Unidos (US$ 1 bilhão), mas com a moeda no patamar de R$ 4,00, está bastante defasado”, compara o chefe do departamento de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa, Celso Moretti. Dos R$ 2,8 bilhões de orçamento, cerca de 70% são destinados ao pagamento de profissionais e custeio. A empresa mantém 46 unidades de pesquisa no Brasil, tem 10 mil funcionários (sendo 2,5 mil pesquisadores) e detém uma carteira de 1,2 mil projetos de pesquisa.
Na lista de desafios da empresa para os próximos anos, Moretti destaca a necessidade de produzir alimentos de qualidade com baixo impacto ambiental. “Também estamos atentos ao combate à seca e ao trânsito de pessoas no mundo, que suscita uma preocupação com o controle de pragas e doenças”, observa. Este ano, oito unidades da Embrapa trabalham em conjunto para desenvolver variedades de culturas e plantas resistentes à estiagem, como feijão, milho e sorgo.
As atenções da Embrapa estão voltadas, ainda, para a fruticultura, combatendo as moscas das frutas em vários Estados. “Temos um portfólio de projetos que envolve desde a carambola da região Norte, passando pela manga e uva do Vale do São Francisco, até os citros em Sergipe”, detalha o pesquisador.
Além do trabalho de pesquisa e inovação, a Embrapa também tem expertise em gestão e compartilha experiência com empresas internacionais de pesquisa agropecuária. Hoje a estatal mantém laboratórios virtuais nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. “Nos orgulhamos em ser referência no mundo e em partilhar esse conhecimento em âmbito global”, reforça Moretti. No Brasil, a empresa participa da Aliança Nacional da Agropecuária, integrada por universidades e outras instituições. Nas muitas apostas da empresa para 2016 está a produção de alimentos com qualidade e em quantidade, mas respeitando o meio ambiente, utilizando menos agrotóxicos, menos poluentes e menos consumo de água.
PERNAMBUCO
Em Pernambuco, a pesquisa agropecuária conta com a tradição do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), que completou 80 anos de atividade no ano passado. A instituição é a segunda mais antiga do País, atrás apenas do centenário Instituto Agronômico de Campinas (SP). Com 90 pesquisadores e orçamento anual de R$ 20 milhões, o IPA mira pesquisas alinhadas às vocações estaduais na agricultura e na pecuária.
O melhoramento genético de bovinos é uma das apostas dos projetos de inovação em Pernambuco. Em 2013 inaugurou em Arcoverde (Sertão) o Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético do Estado. O espaço recebeu investimento de R$ 2 milhões e está equipado para produzir 50 mil doses de sêmen por ano das raças holandesa, girolando e guzerá leiteiro.
Apesar de ser sido inaugurado há quase três anos, o laboratório ainda depende de ajustes na infraestrutura para iniciar a segunda parte do projeto, que é a transferência de embriões. “Precisamos construir baias e fazer outros reparos, mas acreditamos que até agosto vamos oferecer o serviço”, diz o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do IPA, Antonio Raimundo.
Outra ação também para a pecuária leiteira é a recuperação da palma, que foi praticamente devastada pela praga da cochonilha do carmim, em 2012. “Desenvolvemos cultivares resistentes, como a orelha de elefante e a IPA Sertânia”, diz. Na agricultura estão sendo desenvolvidas cultivares de tomate e cebola adaptadas às condições de solo e clima e resistentes a pragas. Na cultura de sequeiro, cinco variedades de feijão com ciclo de produção mais curto estão servindo aos agricultores familiares.