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Para o recifense, só Deus salva o Brasil da crise

Levantamento do Instituto Maurício de Nassau mostra o que o recifense acha da recessão econômica

Emídia Felipe
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Emídia Felipe
Publicado em 24/02/2016 às 8:35
Ricardo Labastier/JC Imagem
Levantamento do Instituto Maurício de Nassau mostra o que o recifense acha da recessão econômica - FOTO: Ricardo Labastier/JC Imagem
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A população do Recife está perto de um consenso sobre os efeitos da situação econômica do País: para 75% dos recifenses, especialmente para os mais pobres, o Brasil está, sim, em crise. Mas é difícil dizer de onde virá a “salvação”. A maioria não sabe ou não quer falar sobre isso. Porém, talvez venha de Deus ou Jesus, como acreditam 22% dos entrevistados. Ou dos políticos (16%). Ou ainda da presidente Dilma Rousseff (10,7%). Quem sabe até do próprio povo (8,7%). Esses resultados fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Instituto Maurício de Nassau sobre como os habitantes da capital estão percebendo o peso do contexto nacional em seu cotidiano.

“A crise não tem nome. É uma crise dos políticos, da política”, comenta um dos coordenadores da pesquisa, professor Adriano Oliveira, ao falar sobre as respostas da pergunta “De quem é a culpa?”. Nas respostas, quase metade dos entrevistados acredita que o ônus recai sobre a presidente Dilma Rousseff e sobre os demais políticos (veja quadro abaixo). “As pessoas não se sentem responsáveis porque elas votaram e escolheram seus representantes, deram para os políticos essa responsabilidade e eles não resolvem os problemas”, esclarece. 

A opinião da vendedora Andréa Silva, entrevistada ontem pelo JC, ilustra esse sentimento captado pela pesquisa. “Eu acho que tem que mudar todo o governo. Não adianta mudar só a presidente porque a corrupção está em todos eles”, critica Andréa, 40 anos, que passa as tardes esperando clientes em frente à loja onde trabalha, no Centro do Recife. “Ninguém compra nada, só pesquisa, os preços estão aumentado pra todo mundo. Está complicado”, relata. Já para o bancário Alcidésio Santos, 58, a crise não é econômica, mas sim política. “Minha vida não piorou”, assegura Alcidésio, alinhado aos 53,5% dos entrevistados do Instituto Maurício de Nassau que afirmam que as condições para eles “estão na mesma”. “O problema é político. Os perdedores precisam respeitar os resultados das urnas, um direito que levamos 500 anos para conquistar”, ironiza.

Segundo o levantamento – feito nos dias 15 e 16 deste mês, com 624 pessoas – os entrevistados, de um modo geral, não se veem como parte do problema nem da solução. Os números mostram que somente 4,7% dos consultados incluem “o povo” como culpado da crise; e apenas 8,7% como possível responsável pela saída da situação. Nessa minoria, entretanto, estão pessoas como a comerciante Judite Alves, 71. “Não aponto culpa de um ou de outro (pela crise), porque não sei, mas se você pensar bem, geralmente é de todo mundo. Porque o governo e a política não têm conserto”, analisa Judite. Para ela, a retração da economia não é de agora: “Já faz uns cinco anos e as pessoas não estavam se dando conta”. 

Entre os destaques dos dados está também o fato de que essa percepção da crise varia de acordo com a renda da pessoa. No quadro ao lado, um recorte por classe social mostra que o impacto da recessão aumenta à medida que o rendimento cai. Nas classes A1 e B1, quase 70% acreditam que não há crise. Enquanto na D e E, 90% afirmam que há. “A crise é menos perceptível quando a renda é maior, porque atinge mais fortemente os mais pobres, entre os quais o desemprego cresceu mais”, complementa Oliveira.

Ex-lojista e agora ambulante, Valéria Lima se ressente do golpe sofrido pela população de baixa renda, que compõe sua base de clientes no comércio de roupas de ginástica. “Eu e meu marido tínhamos uma loja aqui perto (Centro da Cidade), mas o movimento caiu, o aluguel aumentou e tivemos que sair. O governo tem que ajudar quem é mais pobre porque a situação está muito ruim, ninguém compra nada”, reclama Valéria, que agora vende em uma banca na rua

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