PRIVATIZAÇÃO

Consultor estima o valor do parque gerador da Eletrobras em R$ 370 bi

O valor estimado da privatização da Eletrobras deve ficar entre R$ 20 e R$ 30 bilhões em valores estimados pelo mercado

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 24/08/2017 às 8:01
Foto: Heudes Régis/JC Imagem
O valor estimado da privatização da Eletrobras deve ficar entre R$ 20 e R$ 30 bilhões em valores estimados pelo mercado - FOTO: Foto: Heudes Régis/JC Imagem
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Os 48,6 mil megawatts (MW) de capacidade de geração do Sistema Eletrobras equivalem a um investimento de cerca de R$ 370 bilhões se fossem instalados hoje, segundo cálculo feito pelo engenheiro e consultor do setor elétrico Carlos Mariz, que critica a futura privatização dessa holding, dona da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Ele é ex-diretor regional da Eletronuclear, foi chesfiano de carreira, se desligando da estatal em 1990. “Como é que numa privatização de um sistema com esse porte serão arrecadados entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões?”, questiona. Essa quantia corresponde a menos de 10% do valor desses ativos. A crítica ocorre dois dias depois de o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, ter anunciado o início do processo de privatização das geradoras do Sistema Eletrobras.

“É lógico que há uma desvalorização contábil que ocorre com os empreendimentos, mas o valor a ser arrecadado com a futura privatização está muito baixo”, alfineta. A desvalorização contábil citada é o fato de um empreendimento depois de concluído passar a ter uma depreciação (valer menos) a cada ano de uso.

Para o leitor entender melhor, um carro novo pode valer R$ 100 no dia da compra. Um ano depois, o mesmo veículo vale R$ 80. Essa mesma depreciação ocorre com equipamentos e hidrelétricas. Grande parte do sistema de geração da Eletrobras é antigo e por isso essa depreciação é alta.

Além da capacidade de geração instalada, Mariz argumenta que o valor de uma empresa numa futura venda também pode ser impactado por uma baixa no valor das ações, mesmo que o patrimônio seja alto. As ações da Eletrobras passaram por um período de baixa no governo Dilma, quando a empresa passou a valer menos no mercado, inclusive por causa da Lei Federal 12.783 que baixou artificialmente o preço da energia vendida por 14 hidrelétricas do Sistema Eletrobras, incluindo oito da Chesf.

Ainda com relação à Chesf, Mariz alega que para construir um parque de geração do tamanho das hidrelétricas da estatal seria necessário um investimento de R$ 81 bilhões a preços de hoje. A empresa também tem linhas de transmissão e parques eólicos que não foram incluídos nesse cálculo.

CRÍTICA

O consultor critica a futura privatização da Chesf principalmente por causa do Rio São Francisco. “Dificilmente o rio vai continuar sendo de múltiplo uso, caso as hidrelétricas do São Francisco sejam operadas por uma empresa privada”, conta Mariz. O reservatório de Sobradinho é usado por um dos maiores polos de fruticultura irrigada, o de Petrolina-Juazeiro. Somente em Pernambuco, essa água é destinada ao abastecimento humano de mais de 30 cidades.

“A Chesf não deveria ser vendida porque é uma empresa importante para o desenvolvimento regional”, argumenta. “A Chesf deveria fazer a gestão do São Francisco e incorporar o planejamento energético que trouxesse mais indústrias para gerar energia no Nordeste”, conta. No fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na última segunda-feira, a Eletrobras cita que a Chesf ficará à frente do programa de revitalização do São Francisco.

A Chesf foi perdendo importância e autonomia ao longo da última década. Com a Lei 12.783, a empresa ficou sem grande parte da sua receita porque passou a receber uma taxa pela operação e manutenção das hidrelétricas que se tornaram ativos da União. Para se ter uma ideia, a estatal nordestina passou a receber R$ 38 pelo megawatt de energia, quando o valor de mercado desse bem variava entre R$ 150 e R$ 160 a preços de março último.

Essa queda de receita deixou a empresa numa situação difícil com despesas se equiparando à receita e sem condições de continuar as mais de 100 obras em andamento. A Lei Federal 12.783 foi assinada pela então presidente Dilma Rousseff (PT) com a finalidade de baixar em 20% o valor da conta de luz, o que nunca ocorreu.

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