A modelagem de privatização da Eletrobras deve começar a ser definida na próxima semana, segundo informações do Ministério de Minas e Energia. Enquanto os detalhes são definidos, os números que envolvem o passivo da estatal chamam atenção: uma dívida líquida de R$ 23,4 bilhões e uma dívida bruta que alcança R$ 46,2 bilhões. Essa última inclui recursos que a companhia ainda têm a receber. Já a dívida líquida é quanto a empresa necessita para zerar o passivo que gera despesa financeira. Vale lembrar que o investidor que comprar os ativos da empresa também herdará o passivo que está em aberto.
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Ainda aparecem nos informes oficiais da Eletrobras, contingências (acontecimentos duvidosos que vão ocorrer ou não) que podem gerar uma despesa de R$ 64 bilhões a companhia. Desse total, R$ 51,2 bilhões são relativos às questões cíveis, R$ 9,1 bilhões referentes a assuntos tributários e R$ 4,2 bilhões relacionados às questões trabalhistas. “Numa privatização, os investidores não olham só os ativos da empresa, mas também os passivos. Quando uma companhia vai captar recursos no mercado faz um prospecto contendo as informações destinadas ao mercado, incluindo no que os recursos captados serão empregados. Tudo vai ficar mais claro com esse prospecto a ser divulgado pelo governo federal nos próximos dias”, conta o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. A previsão do Ministério é arrecadar entre R$ 20 e R$ 30 bilhões com a privatização da Eletrobras. Na última segunda-feira, dia do anúncio do processo de privatização, o valor de mercado da estatal na bolsa de valores de São Paulo (B3) era de R$ 29,3 bilhões.
Como senão bastassem o passivo alto e os contingenciamentos bilionários, a Eletrobras passou a ter problemas agravados pela queda de receita em 14 hidrelétricas das suas subsidiárias Chesf, Eletronorte e Furnas que passaram a receber menos pela venda de energia desde 2013, devido à Lei Federal 12.783, promulgada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), com a finalidade de reduzir a conta de luz dos brasileiros em 20%, o que não ocorreu.
PERDA
Além da perda de receita, os especialistas dizem que prejudicou a Eletrobras uma expansão que incluiu empreendimentos que foram onerosos e não tinham taxa de retorno dos investimentos. “A privatização será uma solução criativa e eficiente para tirar a Eletrobras de uma situação de quase insolvência que está hoje e transformá-la numa corporação moderna”, diz o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales.
“A dívida da estatal é gigantesca, praticamente impagável no formato que ela tem hoje. Mal comparando, a Petrobras estava com uma dívida gigantesca e o governo anterior decidiu fazer um aporte enorme que não resolveu o problema da petrolífera. Só que o tesouro (da União), hoje, não tem recursos. Se essa dívida da Eletrobras não for equacionada, a empresa vai parar”, comenta Claudio.
Ele acredita que as empresas privadas terão interesse em comprar ações da Eletrobras. “O mercado provavelmente vai comprar essas ações, fazendo um aporte de recursos, tirando o controle estatal e assumindo o controle privado, que deve ter bom funcionamento à frente da holding”, conclui. Para ele, os players privados já deram uma sinalização disso com a valorização que as ações tiveram na última segunda-feira, quando os papeis ordinários (com direito a voto) da estatal valorizaram 49,3%.