CRISE

Violência prejudica comércio de Pernambuco

Crises econômicas estão diretamente ligadas à violência. Em Pernambuco, esses dois problemas se retroalimentam e tornam a realidade do dia a dia ainda mais dura

BIANCA BION | Colaborou Fiamma Lira
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BIANCA BION | Colaborou Fiamma Lira
Publicado em 22/09/2017 às 6:45
Foto: Guga Matos/ JC Imagem
Crises econômicas estão diretamente ligadas à violência. Em Pernambuco, esses dois problemas se retroalimentam e tornam a realidade do dia a dia ainda mais dura - FOTO: Foto: Guga Matos/ JC Imagem
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Após uma longa recessão, a economia do País (e, por consequência, a de Pernambuco) dá sinais de que está se recuperando, através da melhora dos indicadores gerais, como queda da taxa de juros, inflação e a desaceleração do desemprego. No Estado, especificamente, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,3% no primeiro semestre, segundo a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas (Condepe/Fidem). Entretanto, outro lado da crise está longe de ser solucionado: a violência. E ela pode se tornar a grande sombra para o avanço dessa recuperação, principalmente em setores como comércio e serviços.

Para se ter uma ideia de como os dois assuntos se relacionam, no acumulado do ano até agosto, o Estado chegou à marca de 3.735 vítimas de crimes violentos letais intencionais e a 84.358 crimes violentos contra patrimônios. Esses números fizeram Pernambuco perder cinco posições no Ranking de Competitividade dos Estados 2017, passando a ocupar a 18ª colocação entre os 27 Estados pesquisados pelo Centro de Liderança Pública (CLP), em parceria com a Tendências Consultoria e a Economist Intelligence Group. Com nota zero na segurança pública, Pernambuco apresentou o pior resultado do País nessa categoria.

Segundo o conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Daniel Cerqueira, estima-se que os gastos com segurança pública, tratamento de vítimas de violência no SUS, contratação de segurança privada, além dos custos intangíveis com a perda de milhares de pessoas em idade economicamente ativa, devido a homicídios, consumam, anualmente, 6% do PIB nacional.

“Esse número não considera, ainda, muitas dimensões. Um exemplo, quando tem muita violência em uma localidade, tem perdas no turismo, as empresas fecham as portas, ou mudam de lugar. Os trabalhadores também vão embora. Além da mudança no padrão de consumo dos cidadãos”, comenta. Ele ressalta, ainda, que a crise e a violência estão relacionados. “A crise, em si, afeta a violência. Fizemos um trabalho que mostra que, a cada 1% de crescimento na taxa de desemprego, a taxa de homicídio tende a aumentar 2,1%”, comenta Daniel.

No Rio de Janeiro, onde a crise também é severa, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) identificou que a cada 10% de aumento na criminalidade, há recuo de 1,8% na receita bruta das empresas de turismo, como bares, restaurantes e agências. “O levantamento pode ser um espelho para nós. Nosso Estado também está afetado pela violência, que afetam o inconsciente do consumidor, que fica menos propenso a sair e gastar”, comenta a diretora-executiva do Instituto Fecomércio-PE, Brena Castelo Branco.

COMÉRCIO

Em Pernambuco, segundo Pesquisa Mensal do Comércio, a variação acumulada de vendas do varejo nos últimos 12 meses até julho é de -1,7%. “A violência é um fator suficiente para conseguir puxar nossas vendas para baixo. Apesar de o comércio ter respirado um pouco, ainda é um momento em que as famílias estão colocando o pé no freio”, complementa Brena.

Os comerciantes e empresários do ramo de serviços sentiram isso na pele. Na Rua da Moeda, no Recife Antigo, o movimento caiu de mil para 700 pessoas por noite, nos fins de semana, segundo o presidente da Associação dos Bares da Rua da Moeda e proprietário do Sushi Digital, Petrônio Valença. “No meu bar, estamos fechando às 22h, no domingo. Antes, eu abria todo dia. Agora, só de quarta a domingo e estou reavaliando isso”, complementa. Os consumidores também mudaram hábitos. “Mudei os meu horários. Hoje, tento voltar antes de escurecer. Sinto medo na hora de sair de casa”, conta a professora Luciene Viana.

A sensação que os empresários têm é de que as soluções parecem estar distantes. “O consumidor já sai de casa com medo. Os lojistas estão investindo mais em segurança. Me reuni com o governador há 45 dias, ele garantiu que haveria reforço no policiamento no Centro do Recife. Mas até agora não vi”, diz o presidente da CDL Recife, Eduardo Catão.

NEGÓCIOS

A Associação Brasileira de Empresas de Sistemas de Segurança (Abese) registrou um aumento de 6% no volume de seus negócios em 2016. “A representação do Nordeste neste percentual ainda é muito baixa, mas, na nossa percepção, diante da realidade local de violência, é a região com maior potencial para nós, mesmo com a crise, afirmou a presidente da entidade, Selma Migliori, que esteve no início do mês no Recife para apresentar as novidades da indústria.

O diretor–presidente da Masterboi, Nelson Bezerra da Silva, afirma que, há três meses, passou a investiu R$ 12 mil, por mês, com segurança, devido ao aumento no número de furtos. “Eu não tinha esses gastos antes. Fora os prejuízos com roubos, muitos funcionários pedem para ser desligados da empresa, se recusam a seguir determinada rota, porque estão com medo da violência”, lamenta. A empresa distribui mais de quatro toneladas de alimentos por mês.

GOVERNO

O vice-governador e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Raul Henry, reconhece o grande problema da violência no Estado. “A violência se agravou no País inteiro. Em Pernambuco se agravou, nós reconhecemos isso, mas estamos trabalhando para reverter a tendência e melhorar a sensação de segurança pública”, comenta.

Entre as medidas tomadas, cita a entrada de 1,5 mil homens na Polícia Militar e a aquisição de novas viaturas, helicópteros e motos. Ele ressaltou atrativos para investidores no Estado, como a localização estratégica no Nordeste e a infraestrutura, como o Porto de Suape e o Aeroporto Internacional do Recife.

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